16/10/2015

Em face do perigo - Kurt Lewin, 1939.

EM FACE DO PERIGO (1939)
O mundo está oscilando entre a paz e a guerra. Às vezes, apesar de tudo, parece haver esperança de evitar a guerra; outras vezes, parece que a guerra está muito próxima. Quase todas as pessoas odeiam a guerra porque ela é destrutiva e absurda. De outro lado, os que estão interessados na democracia compreendem que há apenas uma de duas alternativas – a escravidão sob o Fascismo ou a disposição de morrer pela democracia. Assim, o coração de todo amante da liberdade vacila entre dois polos opostos, e mais ainda o coração do judeu. se não for um sonhador, ele compreende os novos horrores que deve esperar tanto da guerra quanto da paz. Em toda guerra européia, os judeus lutaram e morreram por seus países e, além disso, foram escolhidos para maus tratos tanto pelo amigo como pelo inimigo. Temo que esta nova atribulação judaica vá ser pior do que nunca. Há escassas dúvidas de que o judeu alemão, que foi privado de todos os meios de subsistência e é hoje cuidadosamente excluído do exército, terá, não obstante, amplas oportunidades de morrer por essa mesma "mãe-pátria" alemã na próxima guerra, como morreu na última. Já jornais alemães, em outras palavras, o governo alemão, sugerem a formação de batalhões especiais de judeus, para serem utilizados em lugares de perigo particularmente grande. Com metralhadoras alemãs nas costas, eles terão de lutar contra o inimigo na frente de batalha. A situação dos judeus na Itália e na Hungria não será muito diversa e com certeza serão eles os primeiros a sentir a escassez de alimentos. Temo que não seja muito melhor a situação da grande população de judeus da Polônia, país que atualmente está do outro lado da cerca.
Mas como se apresenta a paz ao judeu, uma paz em que um país após outro parece ser gradualmente arrastado para a órbita do domínio nazista ou da ideologia fascista? Hoje, a Alemanha nazista é sem dúvida a maior potência européia, depois de ter anexado a Áustria, a Checoslováquia, e poder-se-ia acrescentar, a Itália, que para todos os efeitos se pode considerar governada pela Gestapo alemã. Em todos esses países, inclusive a Hungria, a proscrição dos judeus se estabeleceu, como é natural, firmemente. Não menos desastrosa é a difusão da ideologia nazista que, em tempo de paz, facilmente se dissemina. Hoje, em todos os países do mundo, não só agentes nazistas influentes como também grupos poderosos de cidadãos acreditam no credo fascista e quanto maiores as dificuldades econômicas nesses países, tanto maior o número de adeptos de tal evangelho. Quanto aos judeus, o Fascismo significa necessariamente perseguição e, pelo menos, o estabelecimento de um Gueto. Os judeus só foram reconhecidos como seres humanos quando passaram a predominar as idéias das revoluções americana e francesa, particularmente a idéia da igualdade fundamental entre os homens. Os direitos judaicos estão inseparavelmente ligados a essa filosofia de igualdade. Um princípio básico do Nazismo é a desigualdade entre os homens. Ele nega necessariamente, portanto, direitos iguais aos judeus.
Com estas perspectivas da paz e da guerra, o que pode o judeu esperar?
Deve esperar a paz, com a probabilidade de difusão do Fascismo, que inclui tortura e destruição do judeu, ou deve esperar o desastre da guerra? Os judeus não passam de um minúsculo átomo num mundo turbulento; seu destino é resolvido por forças todo-poderosas, que parecem situar-se para além da esfera de sua influência. Dessarte, bem poderia o judeu perguntar-se: o que vamos fazer? Prosternar-nos e clamar "Chema Yisroel", como clamaram tantas vezes nossos pais diante da morte e da destruição? Em alguns países europeus, ao que parece, resta aos judeus pouco mais do isso. Mas para o resto dos judeus ainda há tempo para pensamento e ação.
Creio que muitos sentem tão profundamente quanto eu a necessidade de ação na vida judaica atual. A minha geração, na Europa, atravessou quatro anos de guerra, seguidos de anos de graves perturbações econômicas e de revoluções. Não parece que os próximos dez anos venha a ser mais tranquilos e confortáveis. O problema judaico certamente não ficará menos grave.
Se jamais houve alguma dúvida quanto a se o problema judeu é individual ou social, os homens da S. A. lhe deram uma resposta precisa nas ruas de Viena, ao açoitar com barras de aço todos os judeus, qualquer que fosse sua conduta ou posição pretérita. Os judeus de todo o mundo reconhecem agora que o problema judeu é um problema social. Se quisermos ajuda científica para a sua solução, teremos de nos voltar para a Sociologia e para a Psicologia Social. Cientificamente, é preciso tratar o problema judeu como um caso de minoria desprivilegiada. Na Diáspora, o judeu não goza das mesmas oportunidades que a maioria. O grau e o tipo de restrições que lhe são impostas variam muito em diferentes países e em épocas diferentes. Às vezes, ele é praticamente proscrito. Outras vezes, as restrições são de natureza meramente social, sem muitos obstáculos na vida profissional e política. Frequentemente, alguns setores da população judaica desfrutam melhores condições que setores da população não-judaica. Todavia, de modo geral, o grupo judeu, no todo, tem o status de uma minoria desprivilegiada.
Deve-se compreender que toda minoria desprivilegiada é mantida como tal pela maioria privilegiada. A emancipação dos judeus do Gueto não foi obtida por ação judaica, mas provocada por uma mudança nas necessidades e sentimentos da maioria. Também hoje se pode facilmente demonstrar como qualquer aumento ou redução das dificuldades econômicas da maioria aumenta ou reduz a pressão sobre a minoria judaica. Esta é uma das razoes porque os judeus em toda parte estão necessariamente interessados no bem-estar da maioria com que convivem.
Desde há muito se reconhece que a base do anti-semitismo é, em parte, a necessidade que a maioria tem de um bode expiatório. Frequentemente, na História moderna, não é a maioria como tal, mas um grupo autocrático que governa a maioria que precisa de um bode expiatório como meio de distrair as massas. O exemplo recente mais notável é o repentino ataque de Mussolini aos judeus italianos, contra os quais praticamente nunca existira um sentimento anti-semita. O mesmo Mussolini, que poucos anos atrás era favorável ao Sionismo, achou prudente seguir o exemplo de Hitler ou pode ter sido forçado, por Hitler, a fazê-lo. Nada certamente na conduta dos judeus italianos deu o menor motivo que fosse para essa mudança. Neste caso, mais uma vez, a necessidade da maioria, ou de apenas sua elite dirigente, determinou o destino da comunidade judaica.
O judeu devia também compreender que estes acontecimentos são praticamente independentes de seu bom ou mau comportamento. Nada mais errônea que a crença de muitos judeus de que não haveria anti-semitismo se todos os judeus se comportassem adequadamente. Pode-se mesmo dizer que é o bom comportamento dos judeus, seu trabalho árduo, sua eficiência e êxito como negociantes, médicos e advogados, que estimulam a propensão anti-semita. O anti-semitismo não pode ser detido pelo bom comportamento do judeu individual, porque não se trata de um problema individual, e sim de um problema social.
A maneira por que a maioria muda suas razoes oficiais para os maus tratos ilustra bem a escassa relação que existe entre a conduta judaica e o anti-semitismo. Durante centenas de anos, os judeus foram perseguidos por razões religiosas. Hoje, as teorias raciais servem de pretexto. As razões são facilmente modificadas, de acordo com o que parece ser o argumento mais eficiente no momento. Ouvi dizer que neste país (Estados Unidos) uma das associações industriais mais influentes trabalha com dois tipos de panfletos. Um deles, usando quando se aborda um grupo de operários ou pessoas de classe média, pinta o judeu como capitalista e como um banqueiro internacional. Mas se o mesmo propagandista fala a um público de industriais, uso o panfleto que pinta os judeus como comunistas.
Ao responder a acusações, o judeu deve compreender que não passam de aparência, abaixo da qual se ocultam problemas sociais mais profundos, mesmo nos casos em que o argumento é apresentado de boa fé. A necessidade que a maioria tem de um bode expiatório resulta da tensão provocada, por exemplo, por uma depressão econômica. Os experimentos científicos demonstram que esta necessidade é particularmente forte nas tensões devidas a um regime autocrático. Nenhum argumento "lógico" destruirá essas forças básicas. Não se pode esperar combater eficientemente o Padre Coughlin dizendo a toda a gente como os judeus são bons.
Mais que palavras de autodefesa é necessário para mudar a realidade social. Os judeus terão, sem dúvida, de tentar tudo para se aliar a qualquer outra força que combata seriamente o Fascismo. Como são pouco numerosos, cabe-lhes tentar conquistar o auxílio de outros grupos. Entretanto, o judeu terá de compreender que para si, como para qualquer outro grupo desprivilegiado, é válida esta afirmativa: somente os próprios esforços do grupo conseguirão a emancipação do grupo.
Resta ao judeu um campo de ação em que os resultados dependem principalmente dele – o campo da vida judaica.
Que é que faz dos judeus um grupo e que é que torna um indivíduo membro do grupo judaico? Seis que muitos judeus estão profundamente interessados e intrigados por tal problema. Não têm uma resposta clara e toda a sua vida está arriscada a ficar sem sentido, como o ficou a vida de milhares de alemães judeus por parte de um dos genitores ou de um dos avós, que tiveram de enfrentar a morte, sem saber por que. Historicamente, este problema é relativamente novo para o judeu. houve um tempo, há apenas cento e cinquenta anos atrás, em que mesmo na Alemanha a participação no grupo judeu era um fato aceita e indiscutível. No tempo do Gueto, os judeus podiam estar sob pressão como grupo; todavia, o judeu, como indivíduo, tinha uma unidade social a que claramente pertencia. Os judeus da Polônia, da Lituânia e de outros países da Europa oriental conservaram o que se podia chamar de vida nacional, que dava ao indivíduo um "lar social". Quando vieram para os Estados Unidos, os judeus orientais trouxeram consigo muita de sua vida grupal. Mantiveram vivas as forças internas de coesão do grupo.
Cabe compreender que todo grupo minoritário desprivilegiado se mantém unido não só pelas forças coesivas entre seus membros como também pela fronteira erguida pela maioria contra a transposição de um indivíduo vindo da minoria para o grupo majoritário. É do interesse da maioria manter a minoria em sua posição desprivilegiada. Existem minorias que se mantêm unidas quase unicamente por esse tipo de segregação. Os membros de tais minorias apresentam algumas características típicas resultantes da situação. Todo indivíduo deseja conquistar posição social. Portanto, o membro de um grupo desprivilegiado tentará trocá-lo pelo grupo majoritário, privilegiado. Em outras palavras, tentará fazer o que no caso dos negros é chamado "passagem" (passing) e no dos judeus "assimilação". Seria uma solução fácil do problema das minorias se pudessem ser extintas por via da assimilação individual. Na realidade, porém, essa solução é impossível para qualquer grupo desprivilegiado. Direitos iguais para as mulheres não poderia ter sido conquistados se o direito de voto fosse concedido de uma em uma; o problema negro não pode ser resolvido pela "passagem" individual. Alguns judeus poderiam ser totalmente aceitos por não-judeus. Todavia, esta oportunidade é hoje mais escassa que nunca e é certamente absurdo acreditar que quinze milhões de judeus possam esgueirar-se pela fronteira, um a um.
Qual é então a situação de um membro de um grupo minoritário que se mantém coeso tão somente pela repulsa da maioria? O fator fundamental em sua vida é o desejo de atravessar essa fronteira insuperável. Por isso vive quase perpetuamente em estado de conflito e tensão. Aborrece ou detesta mesmo o seu grupo porque este, para ele, não passa de um peso. Como um adolescente que não quer ser mais criança, mas que sabe que não é aceito como adulto, uma pessoa que tal permanece na linha fronteiriça de seu grupo, sem estar aqui nem ali. Infeliz, apresenta características típicas de um homem marginal que ignora seu lugar. Um judeu desse tipo aborrecerá tudo quanto seja especificamente judeu, pois nele verá o que o distancia da maioria porque anela. Rejeitará os judeus que o são abertamente e se comprazerá amiúde no ódio a si mesmo.
Existe uma outra característica peculiar dos grupos minoritários, mantidos coesos apenas pela pressão exterior em contraste com os membros de uma minoria que têm uma atitude positiva para com seu grupo. Este terá uma vida orgânica própria. Mostrará organização e força interior. Uma minoria mantida coesa apenas do exterior é por si mesma caótica. Compõe-se de uma massa de indivíduos sem relações interiores uns com os outros, um grupo desorganizado e fraco.
Historicamente, os judeus que viveram na Diáspora foram mantidos unidos em parte pelas forças de coesão interna do grupo e em parte pela pressão das maiorias hostis. A importância desses dois fatores variou em diferentes períodos e em diferentes países. Em algumas partes da Europa Oriental, a atitude positiva foi fortalecida pela superioridade cultural em relação ao ambiente. Neste país (Estados Unidos), por enquanto é também forte a atitude positiva. Não devemos todavia esquecer o fato de que, para um bom número de judeus, ser forçado a manter a coesão tornou-se o aspecto dominante, ou pelo menos um aspecto importante de sua relação interior com o Judaísmo.
Ouvi estudantes judeus do Centro-Oeste dizerem que se sentem mais nativos não-judeus da região que judeus vindos de Nova Iorque. Como a questão religiosa perdeu a importância, tanto para judeus como para gentios, não existe uma diferença facilmente definível entre os dois grupos. Pregar a religião ou o nacionalismo judaico a esses judeus não é coisa que venha a possivelmente ter qualquer efeito profundo. Falar da história e da cultura gloriosas do povo judeu também não os convencerá. Não quererão sacrificar sua vida e sua felicidade por coisas passadas. Nas localidade habitadas por um número limitado de judeus, e particularmente entre os adolescentes, encontram-se muitos que estão totalmente perplexos quanto a por que e sob que aspecto pertencem ao grupo judaico. Poder-se-ia talvez auxiliar alguns deles explicando-lhes que não é a semelhança ou dessemelhança dos indivíduos que constitui o grupo, mas a interdependência de destinos. Todo grupo normal, e certamente todo grupo desenvolvido e organizado, contém e deve conter indivíduos de caráter muito diferente. Dois membros de uma família podem assemelhar-se menos que dois membros de famílias diferentes; mas a despeito de diferenças de caráter e interesse, dois indivíduos pertencerão ao mesmo grupo se seus destinos forem interdependentes. De maneira análoga, apesar das opiniões divergentes quanto a idéias religiosas ou políticas, duas pessoas podem ainda pertencer ao mesmo grupo.
É fácil compreender que o destino comum de todos os judeus faz deles um grupo realmente. Quem apreender esta idéia simples não sentirá que tenha de romper totalmente com o Judaísmo sempre que mude sua atitude no tocante a uma questão judaica fundamental, e se tornará mais tolerante com as diferenças de opiniões entre os judeus. O que é mais, a pessoa que aprendeu a ver o quanto seu próprio destino depende do destino do grupo todo estará pronta e mesmo ansiosa para assumir boa parte da responsabilidade pelo bem-estar do grupo. É muito importante esta compreensão realista de fatos sociológicos para o estabelecimento de um firme terreno social, especialmente para aqueles que não cresceram em ambiente judaico.
Já mencionei o fato de os problemas de uma minoria desprivilegiada estarem diretamente vinculados às condições da maioria. Ansiosos por conseguir uma atitude cordial de parte da maioria, importantes setores da comunidade judaica procuram evitar agressividade e tendem a silenciar fatos desagradáveis. em parte – mas apenas em parte – é válido o motivo desta atitude. Os judeus deveriam distinguir claramente duas situações, uma referente a amigos e neutros, e a outra a inimigos. Um claro sintoma de desajustamento de um pessoa é ela relacionar tudo com questões judaicas e suscitar o problema judeu em toda situação. Todavia, não mencionar questões judaicas em casos em que seria natural discuti-las constitui sinal não menor de desajustamento. A experiência mostra que, de modo geral, os não-judeus são menos sensíveis a uma excessiva ênfase na judaicidade que à tendência a macaquear coisas não-judaicas. Um membro de uma minoria que dê ênfase à sua participação nela, evidentemente não tenta esgueirar-se pela fronteira, e portanto, não precisa ser rejeitado. Todavia, os membros da minoria cuja conduta parece sugerir um esforço de "passar", provocarão reação imediata.
Ao invés de impedir, a lealdade ao grupo judaico favorece, portanto, relações cordiais com não-judeus. Tanto as relações naturais entre seres humanos quanto o interesse político dos judeus exigem o estabelecimento de laços de amizade com tantos grupos e indivíduos da maioria quanto possível.
Os judeus, entretanto, devem estar esclarecidos sobre aquelas situações em que são descabidas aproximações cordiais. A cordialidade não é uma resposta adequada a um agressor. Nos últimos anos, vimos na política mundial quão indigna, moralmente repugnante e insensata é a política de apaziguar um agressor. É vergonhoso e tolo conversarmos com um homem decidido a destruir-nos. Para o inimigo, tal conversa cordial significa apenas que ou somos fracos ou covardes demais para combatê-lo. Não devemos tampouco nos enganar sobre o seguinte ponto: o circunstante que ainda não tem preconceitos pode ser conquistado e levado a simpatizar com um indivíduo ou um grupo de pessoas que lutam com todas as forças contra um agressor, ao passo que mostrará muito pouco simpatia por gente que se curva diante de um insulto. Nos últimos dois anos, a Grã-Bretanha sentiu assaz agudamente a verdade desta simples observação.
Espero que os judeus dos Estados Unidos reconheçam esta verdade antes que seja tarde demais. Há hoje muitos de nós que adotam a atitude de "discutir as coisas" e "reunir-se" sem a necessária discriminação. Essa atitude é inteiramente correta e aconselhável com amigos e neutros, mas não o é quando temos de enfrentar grupos que decidiram destruir-nos.
O judeu terá de compreender, e terá de compreendê-lo logo, que não vale a pena ser polido na luta contra os nazistas e seus aliados. Existe uma só forma de combater um inimigo e é devolver golpe por golpe, revidar imediatamente, se possível com maior violência. Os judeus só podem esperar obter auxílio ativo de outros se demonstrarem que têm a coragem e a determinação de arrostar uma luta em defesa própria. Em suas ações diárias, os judeus terão de se adaptar a uma nova escala de riscos. A situação da comunidade judaica mundial parece deixar apenas uma alternativa: a escolha entre viver como os judeus na Alemanha, na Áustria, na Checoslováquia, o que significa viver como escravos, condenados à inanição e ao suicídio, ou dispor-se a lutar com todos os meios exigidos e, se necessário morrer nessa luta em prol da liberdade e contra o extermínio.
A opção não é uma opção agradável e, para os jovens, pode parecer particularmente opressiva. Mas os jovens compreenderão que é mais honesto, mais digno e está de acordo com o espirito do Judaísmo e do Americanismo reagir pronta e vigorosamente ao primeiro insulto, do que esperar até que o inimigo se tenha tornado suficientemente forte para impor sua vontade pela força. Para o espírito refinado pode parecer generoso perdoar a ofensa. Mas numa situação como a nossa, em que está em jogo a própria existência do povo judeu, não podemos nos dar ao luxo desse gesto. Afora a questão moral, um homem que mostre não ter fibra age insensatamente. Provoca a bestialidade da turba, que está sempre pronta a satisfazer seus prazeres brutais, mas que teme por a cabeça de fora quando sabe que enfrentará resistência.
Tal luta em defesa própria seria mais que um ato egocêntrico. Teria conexão direta com a luta da maioria em prol da solução de seus problemas econômicos e políticos. Acentuamos que o destino dos judeus está ligado ao bem-estar econômico da maioria. Infelizmente, será impossível resolver o problema econômico enquanto as minorias desprivilegiadas puderem fornecer mão-de-obra barata e bodes expiatórios políticos. Da maneira como estão as coisas hoje em dia, os judeus como um grupo dificilmente poderão fazer mais pelo bem-estar econômico do país que impedir que as forças do Fascismo utilizem a supressão dos judeus como degrau para a supressão de outros grupos raciais e religiosos e de massas do povo em geral.
Seria um erro crer que o homem decidido a empreender qualquer ação e a arrostar qualquer perigo preparado pelo destino viva em estado contínuo de tensão, angústia e compulsão. O contrário é que é verdade. A angústia é característica de quem está confuso e não sabe que fazer. Quem enfrente o perigo, em vez de esperar até ser esmagado pelo tacão do inimigo, poderá tornar a viver numa atmosfera desanuviada, e será capaz de apreciar a vida, mesmo quando esteja cercado pelo perigo.

Kurt Lewin
Problemas de Dinâmica de Grupo - Cultrix, SP

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