31/10/2016

Elementos do Método do Laboratório - Joseph Luft


Capítulo II
Joseph Luft – Introdução à Dinâmica de Grupos 

Neste capítulo Luft traz a sua percepção a respeito do funcionamento de um Laboratório de Sensibilidade, com relação ao método, aos participantes e aos coordenadores.

Elementos do método “do laboratório” para o estudo dos processos de grupo.

1.O emprego dos métodos formais e convencionais de estudo dos Grupos é reduzido ao mínimo. 

As conferências e a leitura de manuais constituem as partes suplementares do programa de ensino. Os horários são organizados de tal modo que os membros saibam onde se reunir,  mas não se utiliza plano algum de curso.
Cada agrupamento de pessoas que estudam a dinâmica de grupo surpreende-se a ser estimulado a abrir o seu próprio caminho através da matéria em questão, fazendo apelo aos recursos dos próprios participantes.  A duração habitual das reuniões é de uma hora e meia a duas horas. 

2.A disposição da sala é como para um seminário ou um “atelier”.

Não há púlpito para o professor nem lugares marcados para os alunos. Esta disposição é aconselhada para facilitar a livre discussão no interior do grupo. Além disso, encoraja o exercício da iniciativa de cada membro,  de preferência à habitual dependência em relação ao “mestre”.

3.Certos laboratórios preconizam o isolamento do grupo de estudos em relação ao meio habitual e às pressões de todos os dias. 

A ideia de um “ilhéu cultural” traz muitas vantagens: libertando o indivíduo do seu quadro habitual de trabalho, é encorajado a olhar os problemas familiares com novos olhos; os participantes encontram neste “ilhéu cultural” mais tempo para refletir nesses problemas e para os discutir com outras pessoas que por eles se interessam tanto como eles. Mas se bem que um tal quadro seja preferível, nem sempre é realizável por motivos de ordem prática. 

4.No Laboratório,  o grupo acabado de constituir é levado a abandonar os símbolos e o aparato usuais do prestígio social. 

Está-se vestido de maneira simples e confortável; as pessoas não se dirigem umas às outras pelos seus titulos: “Senhor” é utilizado de preferência à “Doutor” ou  a “Senhor Professor”. Às vezes,  os membros decidem chamar-se pelos seus nomes, sendo isto, evidentemente,  uma questão de preferência pessoal.

5.O monitor tem certas funções e responsabilidades especiais, mas participa no Grupo como os outros membros e encoraja-os a tomar parte o mais livre e ativamente possível. 

Desempenha assim uma função mais passiva do que a que lhe cabe, habitualmente,  nos cursos universitários. Isto explica-se por várias razões importantes. Uma vez que o grupo é novo e os seus membros nunca trabalharam anteriormente em conjunto,  o monitor evita impor um modelo de trabalho que não derivaria das características singulares deste agrupamento particular de indivíduos.  Assim,  os membros encontram-se, desde o princípio, face ao problema de descobrir o seu próprio modo de proceder no Grupo. Deste modo,  questões importantes, como fixar os objetivos a curto e a longo prazo,  elaborar os métodos para resolver os problemas,  estabelecer a natureza do sistema de comunicação próprio do grupo e os seus processos de tomar decisões – todos estes problemas e muitos outros ainda, devem,  de uma maneira ou de outra, ser enfrentados e resolvidos. É na própria luta com estes problemas que se funda a aprendizagem do comportamento individual e de grupo. 

6.O conteúdo  das discussões de grupo e os processos subjacentes ao comportamento do grupo são diferenciados e elucidados. 

A palavra “processos” refere-se a uma dedução feita a propósito da significação do comportamento dentro do grupo. Este comportamento pode ser verbal, como na discussão, ou não-verbal, como no fato de guardar silêncio ou de se dirigir a uma pessoa em particular quando se fala do grupo em geral. A diversidade dos processos de grupo é ilimitada - alguns deles,  muito correntes e fáceis de compreender.  Por exemplo, pode acontecer que certos membros do grupo se deixem absorver por problemas que afastam o grupo do seu trabalho imediato; não obstante, a maior parte dos membros segui-los-ão nesta divagação, e só mais tarde se irão perceber da necessidade que todos tinham de escapar temporariamente ao trabalho começado. Tais divagações ou fugas ao trabalho indispensável do grupo são fenômenos importantes e constituem provavelmente uma propriedade universal de todos os grupos.

Dentro da mesma ordem de ideais, Lewin distingue entre o “fenótipo” e o “genótipo”.

Um “fenótipo” refere-se ao comportamento observável, ao que se faz ou se diz.

Um “genótipo” é uma ideia ou um construct elaborado a partir do comportamento, para lhe encontrar o significado subjacente. 

7.O método do laboratório não pode ser aplicado senão numa atmosfera de tolerância. 
Após um certo tempo, os participantes sentem conscientemente uma maior liberdade de pedir, de perguntar,  de contribuir, de escutar e de explorar as situações. Descobrem em si uma capacidade de serem mais totalmente eles mesmos,  de dizerem o que verdadeiramente pensam ou de exprimir em atitudes que normalmente dissimular iam ou fingiram ignorar. Após um início cauteloso e depois de “tomarem o pulso” à reunião,  os membros do grupo encontram cada vez mais proveito em poder comparar as suas impressões com as dos outros,  em reconhecer a falta de compreensão quanto ela existe e em participar no trabalho de grupo em moldes novos que antes rejeitariam. Uma atmosfera liberta das tensões e ameaças psicológicas habituais permite a cada um uma melhor compreensão da sua função no Grupo.

8.Se se deposita grande confiança nestes métodos de discussão informal para a aprendizagem do comportamento dos Grupos, uma das razões é que,  pela sua experiência no seio do grupo,  o aprendiz descobre as relações íntimas e complexas que existem entre os diversos fenômenos da vida de grupo. 

O conhecimento que adquire, ao participar com os seus semelhantes e ao discutir com eles para chegar a uma decisão, é muito diferente daquele que pode adquirir por um conhecimento livre com ou por uma discussão teórica de problemas relativos à maneira de decidir dos Grupos.  Enquanto participante num grupo, pode,  por exemplo, perceber-se de que as decisões do grupo são influenciadas por conflitos manifestos, bem como por conflitos latentes do grupo, pelos problemas de comunicação, pelo estatuto que os diferentes membros adquiriram ao longo da participação no Grupo,  pela presença de elementos conciliadores sensíveis,  assim como de fornecedores de informação -  e daqueles que aprovam passivamente o que os outros propõem. 

9.O método do laboratório torna possível a descoberta de certas fases no desenvolvimento do grupo. 

Muitas vezes, os grupos descobrem através da própria experiência que o seu progresso inicial foi efetuado à custa de alguns deles.  Quer este progresso seja considerável quer não,  só passado algum tempo se descobre que o membro não considerado,  ou cujos esforços foram reprimidos se irrita talvez com os progressos realizados e, consequentemente,  se retira da participação ativa, sem disso estar plenamente consciente. Ou então pode acontecer que ele se desforra quando menos se espera. De qualquer modo,  tais progressos realizados às pressas,  correm o risco de criar os seus próprios obstáculos e assim o grupo perde mais do que ganha quando chega a uma solução prematura. Quando os membros do grupo estiverem suficientemente isentos de angústia para entender o que se passou,  quando o modo como se efetua o progresso tiver suscitado tanto interesse como o próprio progresso,  então o grupo orientar-se-á para decisões mais eficazes. Tais decisões poderão então ser fruto dos conhecimentos e das competências dos membros, assim como dos seus sentimentos e motivações afetivas.  Dá-se conta de que as decisões prematuras raramente recebem o apoio necessário e abortam muitas vezes, enquanto as decisões mais tardias e mais maduramente refletidas, temperadas pelo aparecimento e resolução de conflitos,  chegam a bom termo. 

10.Por último, preconiza-se o método do laboratório porque muitas pessoas se interessam, quer por melhorar a própria capacidade de trabalhar em grupo,  quer por compreender o funcionamento dos Grupos em geral. 

Na convicção de que os dois fins são complementares, o laboratório oferece ao participante muitas ocasiões de adquirir mais lucidez sobre o próprio comportamento e o dos outros.  O participante do grupo pode verificar a ideia que tem do comportamento no trabalho de grupo, comparando-o com o comportamento tal qual ele é na realidade. Cada membro é encorajado a explicar novas vias e a encontrar modos novos e mais eficazes de trabalhar com outros. Na qualidade de participante-observador, pode descobrir por si mesmo se o seu código de valores, tal qual o afirma acerta dos outros, corresponde ao seu comportamento com eles.

“O distintivo do homem civilizado é o seu consentimento em reexaminar as suas crenças mais arraigadas” (Olivier W. Holmes).















28/10/2016

Introdução à Dinâmica de Grupos - Joseph Luft

Joseph Luft e Harrington Ingham,  em 1955, criaram a famosa Janela de Johari (junção de seus nomes). E Luft também nos presenteou com um livro chamado Introdução à Dinâmica de Grupos que é um belo exemplo da existência na profundidade na síntese.
Publicado em 1970 por Morais Editora, de Portugal.

Para facilitar a leitura, estou disponibilizando no blog por capítulos.
Neste primeiro capítulo Luft nos presenteia com um análise das vantagens da aplicação da Dinâmica dos Grupos e, também, das críticas que recebeu e ainda recebe sobre sua aplicação.

OS PROCESSOS DE GRUPO – INTRODUÇÃO À DINÂMICA DE GRUPOS.

Que é a dinâmica de grupo?

Porque se utiliza o chamado método “do laboratório” para ensinar a dinâmica de grupo?

Quais são os Problemas fundamentais da dinâmica de grupo?

Estas três perguntas servirão de guia ao nosso esboço da dinâmica de grupo. Toda a tentativa de resumir os trabalhos realizados num domínio de investigação que se desenvolve a semelhante velocidade deve necessariamente ser seletiva e refletir o ponto de vista e as ideias preconcebidas do autor. Além disso, prestarmos mais atenção à aprendizagem e ao ensino da dinâmica de grupo que aos seus aspectos industriais,  educativos ou experimentais.

É costume aplicar o termo “Dinâmica de grupo” ao estudo dos indivíduos em interação dentro  de pequenos grupos. O vocábulo “Dinâmica” implica forças complexas e interdependentes agindo no interior de um campo ou quadro comuns. A expressão “Dinâmica de grupo”, infelizmente,  nem sempre é empregada num sentido preciso. É necessário,  portanto,  para além da definição sumária que acabamos de dar,  determinar o sentido próprio de cada utilização especial.  Por causa do seu caráter vago,  será sem dúvida melhor empregar apenas esta expressão para designar o campo geral de estudo.  Com efeito,  a própria expressão caiu em descrédito devido a aplicação que as vezes dela se faz a entidade confusas ou místicas.  Apareceram eexpressões substituto tais como “processos de grupo”, “psicologia de grupo”, “relações humanas”, mas ninguém parece completamente satisfeito.

A dinâmica de grupo está intimamente ligada à teoria do campo na psicologia contemporânea e Kurt Lewin, que elaborou a teoria do campo,  é habitualmente considerado como o fundador da moderna Dinâmica de grupo. Pelo seu trabalho na Universidade de Iowa por volta dos anos 30, e mais tarde,  no Massachusetts Institute of Technology, Lewin estabeleceu solidamente a dinâmica de grupo no mundo universitário e fez aceder psicólogos, sociólogos,  educadores e outros especialistas das ciências sociais e novos e apaixonantes problemas, bem como a novos métodos.  Os artigos e os livros de Lewin, tais como Fronteiras da Dinâmica de Grupo, A Decisão de Grupo e a Mudança Social,  A Teoria Dinâmica da Personalidade, A Resolução dos Conflitos Sociais, prepararam o terreno para o verdadeiro pílulas de investigações e publicações do pós guerra.

Dez anos mais tarde, R. S. Crutchfield (1),  fazendo um balanço da investigação nos domínios da psicologia social e dos processos de grupo, julga que “foi provavelmente a dinâmica de grupo, essa ciência limítrofe,  que lá que progressos mais notáveis fez.  E isto pelo modo convincente como mostrou de que maneira se pode tratar, experimentalmente, no quadro de um grupo autêntico, das variáveis psicológicas cruciais”.

Uma descoberta importante feita por Lewin e seus associados refere-se diretamente à segunda pergunta que figura à  cabeça deste sumario: “porque se utiliza o método laboratório para ensinar a dinâmica de grupo?” Lewin fez o relatório de experiências cujo fim era ensinar às pessoas novos comportamentos. Por exemplo: mudar-se os hábitos alimentares ou aumentar a sua produção durante a guerra. Ele descobriu que,  para modificar as ideais e o comportamento social,  determinados métodos de discussão e de decisão em grupo apresentavam grandes vantagens em relação às conferências e ao ensino individual. Seguidamente,  estes métodos de grupo foram aplicados a aprendizagem da própria dinâmica de grupo, considerada como domínio de conhecimentos e como competência aplicada. Informando as pessoas sobre a alimentação, não se lhes muda em nada os gostos  porque a apresentação de fatos, por si só, não modifica as atitudes pessoais. De igual modo,  a simples explicação do comportamento individual. Pelo contrário, a maior parte das pessoas,  quando têm ocasião de trabalhar num “grupo de laboratorio”, sentem-se atingidas por aquilo que lá se passa de modo suficiente para ressentimento e observarem os processos que aprendem a conceitualizar. Deste modo, “aprendem alguma coisa” acerca do seu próprio comportamento nos grupos, ao mesmo tempo que evoluem na penetracao da dinâmica de grupo em geral. Aquele que ensina o funcionamento dos Grupos observa,  repetidas vezes,  que a leitura de textos obrigatórios fornece bem poucos conhecimentos profundos aos seus estudantes,  enquanto eles não podem estabelecer a relação entre as ideais expostas nos manuais e a própria experiência direta.  À medida que o curso avança,  os estudantes declaram espontaneamente que as leituras parecem adquirir,  de repente,  mais significado e suscitam neles um interesse muito mais vivo que ao princípio.  O trabalho dos diferentes laboratório de Dinâmica de Grupo tende a confirmar estas impressões.

As descobertas de Lewin foram corroboradas por outras de numerosos investigadores, trabalhando em domínios diversos.  Coch e French, por exemplo (2), procuram as razões subjacentes à resistência encontrada pela introdução de novos métodos de fabricação numa fábrica de confecções do Estado da Virgínia com seiscentos empregados. Descobriram que “se pode efetuar a mudança por meio de reuniões de grupos em que a direção consegue comunicar ao pessoal a necessidade de mudança e estimula a participação do grupo na preparação das mudanças. Outros investigadores estudaram as modificações de comportamento efetuadas, em parte pelo método de conferências e,  por outra parte,  pelo das decisões de grupo. Compararam os resultados obtidos pelos dois métodos em 395 operários e 29 chefes de oficina de uma importante fábrica e declaram, na exposição dos seus trabalhos, o seguinte: “as conclusões a que chegamos confirmam inteiramente as de Lewin, demonstrando a superioridade da decisão de grupo sobre a conferência como método de formação”.  Os chefes de oficina que aplicaram o método de discussão e de decisão de grupo compreenderam que tendiam a avaliar exageradamente o trabalho dos operários qualificados e a depreciar os resultados obtidos pelos operários não especializados. Começaram então a julgar o pessoal, mais em função do trabalho realizado, que  em função do prestígio ou da classificação profissional.  Estes chefes de oficina tomaram consciência dos próprios preconceitos e puderam remedia-los graças, não ao ensino por meio de conferências,  mas às discussões em grupo.

Numerosos relatórios testemunham o valor da discussão de grupo para o ensino da psicologia, em comparação com o clássico método das conferências. Os resultados obtidos mostram que, em geral,  os dois métodos dão aos estudantes mais ou menos a mesma soma de conhecimentos abstratos da matéria estudada. Contudo,  segundo a exposição de McKeachie, os cursos “centrados sobre o grupo” atingem uma compreensão mais real da dinâmica da Personalidade do que aqueles que apenas englobam conferencias; os participantes parecem também mais capazes de aplicar a novos problemas os conhecimentos assim adquiridos. Concordam,  não obstante,  em indicar que os resultados obtidos pelos diferentes métodos de ensino da psicologia não devem ser considerados como concludentes em todas as circunstâncias,  pois há variáveis importantes que entram em jogo, tais como as diferenças interpessoais relativas aos valores próprios e ao grau de experiência do instrutor.

O NTL – Laboratório Nacional de Treinamento, que se especializa em métodos informais e experimentais de ensino da dinâmica de grupo,  foi criado em 1947, em Bethel,  no Maine. Desde o princípio, o NTL reuniu especialistas da psicologia, da sociologia,  da pedagogia,  de relações industriais,  de antropologia,  de psiquiatria e de filosofia,  para examinar de um ângulo crítico os problemas da dinâmica de grupo e os métodos utilizados para ensinar esta matéria.  Um dos aspectos distintivos do estudo dos pequenos grupos é que  ele continua a depender de várias disciplinas ao mesmo tempo. O método do laboratório evoluiu por “tentativas e erros”, assim como por experimentação verificada,  e o NTL é hoje um organismo pedagógico oficialmente reconhecido.  Por toda a parte dos Estados Unidos se encontram dezenas de laboratórios semelhantes, nos colégios e universidades.  As diferentes equipes continuam as investigações e a autocrítica sem descanso, ainda que o método do laboratório tenha claramente provado a sua eficácia para o ensino da dinâmica de grupo.

Na verdade, estes métodos estenderam-se muito para além do mundo universitário,  penetrando em domínios variadissimos: direção da indústria e do ensino, saúde pública,  higiene mental,  medicina,   organização do trabalho,  administração pública do pessoal,  empresas.  Numerosas pessoas exteriores ao mundo universitário são, evidentemente,  obrigadas a enfrentar problemas de Dinâmica de Grupo, estejam ou não  conscientes da existência deste domínio. Um engenheiro, por exemplo,  deseja aumentar a eficácia do seu estado maior: por razões que ele não entende bem,  os homens por ele contratados,  que ele sabe serem competentes,  parecem não poder trabalhar em conjunto.  Ou então,  o administrador de uma escola não compreende as querelas constantes entre os professores,  cujos salários e condições de trabalho são idênticas às das escolas vizinhas,  que não sofrem tais problemas.  Ou ainda, a direção de uma empresa preocupa-se com a formação de quadros jovens e encontra-se desamparada frente à dificuldade de ensinar as qualidades da liderança.

Estes problemas não são de modo algum excepcionais. Pessoas de origem varias e em número cada vez maior recorrem aos laboratórios organizados em todo o país pelo NTL e pelas universidades. Certos colégios organizam sessões de Laboratório no quadro dos cursos para universitarios; outros,  de tempo em tempos. Na Europa, o centro mais importante para o ensino dos processos de grupo é,  sem dúvida,  o Tavistock Institute of Human Relations, na Inglaterra.

R.Lippitt (3) descreveu do seguinte modo o programa de Michigan: “os objetivos de conjunto do Centro de Investigação Sobre Dinâmica de Grupo da Universidade de Michigan são o estudo experimental de pequenos grupos, a sua integração relativamente ao trabalho efetuado nas ciências sociais aparentadas,  a aplicação das descobertas a atividades de utilidade social,  tais como a formação de quadros,  a terapêutica de grupo,  etc...” O trabalho realizado inclui estudos sobre coletividades sociais, grupos de trabalho em fábricas,  grupos de discussão,  grupos de formação de quadros e outros grupos “face a face”.

Pareceria quase desnecessário demonstrar até que ponto é importante estudar o modo de funcionamento dos Grupos. Contudo,  muitas pessoas se opõem à própria ideia da dinâmica de grupo. Há artigos escritos para criticar está orientação e por em dúvida as suas descobertas. Certos autores opuseram-se tão violentamente aos métodos de trabalho em Grupos, sejam eles quais forem,  que, a crer neles, o simples fato de reconhecer a existência dos grupos equivale a preconizar a sua utilização sistemática.

Certos críticos consideram que os especialistas da dinâmica de grupo exageram a significação dos resultados obtidos neste domínio, ou então criticam a insuficiência da investigação verificada. Para outros ainda,  todo este movimento é apenas uma simples mania ou um culto destinado a desaparecer sem deixar rastro,  como a frenologia ou o método Coue. Há também quem pense que a dinâmica de grupo representa um perigo para a sociedade, porque corre o risco de ensinar as pessoas a manipular ou a explorar os outros.

Não obstante, os grupos existem nos lares e nas escolas,  nos negócios e nas profissões,  no governo e na vida militar. Para o investigador científico,  todo o fenômeno natural ou social pode e deve ser estudado. Parece estranho ter de afirmar isto no século XX. Os grupos existem e, cientificamente, é legítimo supor que um inquérito rigoroso descobrirá os princípios que governam o desenrolar ordenado dos processos de grupo. A questão que importa por a este respeito é a seguinte: ir-se-a utilizar um método científico que permitirá a outros verificar a exatidão e certeza dos resultados? Os riscos conjugados do espírito de capela e da recusa duma verificação racional, provenham eles do interior ou do exterior do domínio, serão sobretudo evitados pela discussão aberta e pela comunicação de ideias e dados entre os investigadores, segundo a tradição científica.

Em relação a possíveis abusos na aplicação dos conhecimentos adquiridos, nada podemos, a menos que recorremos a uma forma de censura do pensamento, o que poucas pessoas estariam dispostas a preconizar.  Todo o progresso humano, desde a invenção da roda,  é suscetível de ser utilizado contra os homens, contra a sociedade.  A vida e o trabalho em grupo põem tantos problemas e apresentam tantas dificuldades que,  se menosprezarmos a informação sobre o modo como as pessoas vivem e funcionam em grupo, corremos riscos ainda mais graves do que os que se podem criar pelo eventual abuso dos conhecimentos adquiridos neste domínio.

Nas suas considerações sobre o estudo dos Grupos e da lideranca, Lewin acentua os benefícios e riscos a que esta investigação sujeita o Especialista do comportamento.

“Seria extremamente lamentável que a atual tendência para uma psicologia teórica fosse enfraquecida pela necessidade de considerar grupos naturais em ordem ao estudo de certos problemas de psicología social. Não devemos, no entanto,  esquecer que este desenvolvimento pode ser de grande utilidade para a psicología teórica, embora também lhe possa criar perigos.  A psicología aplicada foi gravemente prejudicada pelo fato de ter de proceder,  sem a ajuda que se impunha,  segundo método custoso, ineficaz e limitado das tentativas e erros. Muitos psicólogos que hoje trabalham num ramo prático estão vivamente conscientes da necessidade de cooperação estreita entre as psicologias teórica e aplicada. Os psicólogos podem chegar a uma tal cooperação, como fizeram os físicos,  se,  por um lado,  o teórico, do alto da sua superioridade intelectual,  não considerar desdenhosamente os problemas práticos e não recear contatar com os problemas sociais,  e se,  por outro,  o especialista de psicología aplicada reconhecer,  por seu lado,  que nada há de mais prático do que uma boa teoria. No domínio da dinâmica de grupo,  mais que em qualquer outro domínio psicológico,  a teoria e a prática estão metodologicamente ligadas.  Utilizada como convém,  esta combinação poderia responder simultaneamente aos problemas teóricos e reforçar este acesso racional aos problemas sociais práticos que constitui uma das condições fundamentais da respectiva solucao”.(4)


(1) Social Psychology an Group Processes, artigo publicado na Annual Review of Psychology, V, 1954, p. 171.
(2) Overcoming Resistance to Change, Human Relations, I, 1948, pp 512-532.
(3) Current Trends in Social Psychology.  Pittsburgh, University  of Pittsburgh Press, 1948.
(4) LEWIN, K, LIPPITT,  R e WHITE, R.  K. -  Patterns of Agressive Behavior in Experimentally Created Social Climates. Journal of Social Psychology,  X, 1939, pp. 271-299.