NOMES, PENSAMENTOS E
MENTIRAS: A RELEVÂNCIA DOS ESCRITOS POSTERIORES DE BION, PARA ENTENDER EXPERIÊNCIAS
COM GRUPOS
David Armstrong
(Traduzido
por Mauro Nogueira de Oliveira)
"Percepção psicanalítica em indivíduos e
grupos" é o subtítulo de Atenção e Interpretação. Acredito que é
possível localizar neste mais recente trabalho de Bion, linhas de pensamento
que complementam, modificam e ampliam as ideias apresentadas em Experiências em
Grupos, e que a negligência relativa destas linhas de pensamento por
praticantes em 'relações de grupo' contribui para uma atrofia teórica e
metodológica auto infligida que às vezes parece cercar quem trabalha neste
campo.
BION NO TRABALHO: UMA MEMÓRIA PESSOAL
Há uns vinte e cinco anos atrás, participei do que
penso que foi o último 'study group' conduzido por Bion na Inglaterra, como
parte de um curso de relações de grupo que durou mais de três meses, e dirigido
por Ken Rice, no Instituto Tavistock, em Londres.
Olhando para trás, não recordo muito dos detalhes
do que aconteceu e do que foi dito nessas reuniões. Retenho uma impressão
visual forte da sala em que nos encontrávamos, na Rua Devonshire, com suas
janelas altas e chão polido, e dos membros do grupo. Participaram um
Administrador de prisão, um psicólogo de prisão, um par de homens de negócios,
um jornalista, um jovem assistente social e um igualmente jovem, eu. (Na
ocasião eu participava de um Projeto do Tavistock que trabalhava com pesquisa e
ação, principalmente em organizações industriais.)
Os dias estavam um pouco tórridos no Tavi. O
Instituto tinha se dividido recentemente em duas facções, encabeçadas por Eric
Trist e Ken Rice. Eu pertencia à facção de Eric Trist e só me foi permitido assistir
o curso porque seria coordenado por Bion. Do próprio Bion, eu me lembro
principalmente da pessoa: o modo dele andar na sala e se sentar, a igualdade da
sua fala, o seu ar de intensa e imparcial curiosidade.
Eu voltarei a este tema novamente. Primeiro, quero
fazer um comentário sobre duas outras, parcialmente relacionadas, recordações.
A primeira, e eu estava muito atento, assim como outros membros do grupo, é que
Bion nunca deu a mais leve impressão de ser o autor de Experiências em Grupos.
Alguns de nós tínhamos lido o livro anteriormente, com graus variados de
compreensão e frustração. Fomos preparados para ver as 'suposições básicas' no
trabalho e serem oferecidas evidências de nossa experiência. Ficamos
tristemente desapontados e intrigados. Nada do que Bion disse parecia conectar
com este aparato conceitual; considerando que nos eventos de intergrupos, coordenados por Ken Rice, Isabel
Menzies, Bob Gosling, Pearl King e Pierre Turquet, durante dois fins de semana,
dependência, pareamento e luta/fuga estavam em todos lugares, e eu penso
genuinamente, ter encontrado.
A preocupação de Bion estava em outro lugar. Mas
onde? Nas primeiras sessões ele falou muitas vezes sobre o uso de nomes: o modo
de nomear tem uma qualidade ilusória, como se fosse a resposta a uma pergunta
em lugar de uma pergunta para a qual uma resposta precisa ser buscada.
'Eu sou David Armstrong' busca identificar um
limite ao redor de uma entidade que se é: para usar a linguagem de Bion, ligar
uma conjunção constante com um nome é o que Bion se refere como uma hipótese de
definição. Mas esta ligação também pode ser usada para restringir a pesquisa.
Um limite para exploração (quem é David Armstrong?; o que é ele?; onde ele está
aqui e agora?) se torna uma barreira para defender o que é 'eu' do que é 'não
eu'. Um limite é fixado, o desconhecido é roubado de seu poder para perturbar.
A vingança do desconhecido pode ser um curioso vazio de sentimentos,
impossibilitando estabelecer contato com o grupo, ou até mesmo consigo mesmo.
Nas últimas sessões, um tema que ocorreu
periodicamente era o conhecimento e o medo de conhecimento expressados em
regras, moralidades e juízos. As reuniões do grupo aconteceram na época do
'caso Profumo'. Recordo a confusão de Bion (talvez seja uma palavra muito
forte) à energia moral que isto lançou no grupo, como se nós não pudéssemos
desviar o pensamento deste caso, como os casos que às vezes aparecem em
conferências de relações de grupo, poderia ser entendido, adaptando uma frase
de Clausewitz ou Bismarck sobre guerra e diplomacia,
simplesmente como a perseguição política através de outros meios. Moralidade
era a mentira inventada para esconder um pensamento.
Nomear, saber, inventar mentiras, achar
pensamentos, estes temas ocorreram periodicamente ao longo do que Bion
escreveu. Para mim eles funcionam como um adubo tanto na exploração do campo
grupal como do individual. Mais que isso, eu também acredito que estes dois
campos provêm, na frase de Bion, uma 'visão binocular' para explorar e entender
o solo do conhecimento e desconhecimento humano, sem os quais nós somos
prisioneiros de nossos medos e terrores, em nossa vida pública e privada.
O GRUPO COMO UMA ARENA PARA TRANSFORMAÇÕES
Antes de explorar este ponto, quero retornar ao que
disse anteriormente sobre a qualidade ou tom das intervenções de Bion. Frequentemente
em eventos de relações de grupo você está muito bem atento quando uma
'interpretação' está sendo feita pelo consultor. É como se de alguma maneira
levasse a etiqueta de 'interpretação' em sua sintaxe, complexidade ou endereço.
Se você é o consultor, está semelhantemente atento ao que é seu e ao que é do
grupo e que os membros estão atentos que você está atento a isso. As
intervenções de Bion não anunciavam as suas intenções deste modo. Era uma
interpretação que ele estava oferecendo, ou uma observação, ou um comentário,
ou uma opinião? Você não podia dizer.
Estava mais como um elemento de uma conversação, sem ser exatamente
sociável.
Anos atrás assisti, uma ou duas vezes, o filósofo
John Wisdom em 'Outras Mentes em Cambridge'. Eram desempenhos muito
estranhos. Iniciavam como uma conferência, de um modo familiar. Então havia um
longo silêncio. Wisdom contemplava um canto da sala ou a parte de trás do
corredor e arrancava uma imagem ou exemplo daquele espaço, como se estivesse
fisicamente presente a ele naquele momento. Ele começava a descrever isto como
um elefante rosa, uma lua azul, um espírito intranquilo. Todos
suprimíamos uma risadinha.
Wisdom era tão auto absorvido quanto muitos grandes
filósofos provavelmente eram ou são. Os vínculos que ele viu e fez naquela sala
eram vínculos em um espaço mental projetado na frente dele. Porque nós não
habitávamos aquele espaço não podíamos fazer os vínculos, não podíamos ver os
pensamentos que ele achou no ar ao redor dele e de nós. Bion não era tão auto
absorvido assim. Os vínculos que ele viu e fez eram vínculos em um espaço
mental não projetado na sua frente ou no seu interior, um espaço para qual os
membros do grupo e o grupo como um todo contribuíram. Mas havia a mesma
sensação de estar na presença de um descobridor de pensamentos, oferecidos como
alimento para pensamento.
Talvez este estilo de funcionamento seja
inimitável. Mas mesmo sendo, eu penso que contém ou exemplifica uma concepção
importante sobre grupos, mais especificamente sobre a ideia do 'grupo de
trabalho'. Bion às vezes é acusado de não levar o 'grupo de trabalho' a sério
como, às vezes, os psicanalistas são acusados de tomar a 'realidade concebida',
para poder estudar os vários estratagemas de evasão e negação. Acredito que
isto está fundamentalmente errado e que no modo de funcionamento de Bion a
pessoa pode descobrir um significado de um grupo
de trabalho, de um certo modo que transcende qualquer simples noção de
acomodação à realidade e oferece uma visão radicalmente diferente do grupo,
como uma arena para transformações.
O OBJETO DE TRANSFORMAÇÃO
Se o grupo é potencialmente uma arena para
transformações, o que está sendo transformado, o que envolve o processo de
transformação e o qual é o seu valor?
O primeiro destes questionamentos: "o que está
sendo transformado" é talvez o mais fácil de responder. Para Bion, a
origem da transformação: a coisa-em-si (última realidade ou '0') que não pode
ser conhecida exceto pelo processo de transformação, é sempre a mesma. É
experiência emocional. Nos escritos posteriores, Bion é corajoso ou bastante
precipitado para reivindicar que todo o pensamento humano, qualquer que seja o
campo, se origina na transformação da experiência emocional. Se a pessoa pensa
em uma pintura, em uma canção, em um poema, em um romance, em um pedaço de
cerâmica talvez, não é difícil de conceber isto como a tentativa do artista
para formular, fazer presente e comunicar "através da cor e do desenho,
por sucessões de tons ou de palavras, pela forma e textura do barro" uma
experiência emocional presente nela.
É importante, para o que direi depois, que este ato
de se fazer presente não é (para Bion) um ato de simples representação.
Representação sugere um modelo de algo a ser representado e algo pelo qual é
representado, como se o pintor confrontasse uma experiência emocional como ele
confronta o seu modelo: uma paisagem, uma babá. Fazer-se presente não é
assim porque, diferente de um objeto sensual, uma experiência emocional não
pode ser vista, provada, cheirada, tocada. É um evento mental: um desconhecido
'x' ou uma coisa-em-si. O único acesso que temos a isto é através das
transformações que nós fazemos ou executamos disto.
Um colega meu, Colin Evans da Universidade de
Gales, chamou minha atenção recentemente para uma citação de Salman Rushdie em
Os Versos Satânicos. O trabalho do poeta, Rushdie escreve, é 'nomear o
inominável, apontar as fraudes, tomar partido, lançar argumentos, amoldar o
mundo'. Talvez haja algo de megalomaníaco; também algo bastante misterioso e
presciente. Mas a primeira frase, 'nomear o inominável', é, eu penso, uma boa
descrição do que é estar envolvido em uma experiência emocional, mesmo que
reconheçamos que o nome e a coisa nomeada não sejam iguais.
Quando olho uma pintura não vejo a experiência
emocional que foi a origem do trabalho de Cezanne como um artista, por exemplo.
Eu tenho uma experiência emocional e isso pode me levar a dizer: 'eu nunca
entendi isto antes, como um objeto reflete e leva a presença de outro'. Ao
extremo, esta experiência pode me conduzir a mudar minha vida na frente de uma
grande obra de arte. Eu não só entendo ou sei algo novo, eu me torno algo
novo.
Mas reivindicando que todo o pensamento humano e
esforço representa uma transformação da experiência emocional, Bion vai além
destes exemplos bastante óbvios. Matemática, ele dirá, é uma transformação da
experiência emocional pelo idioma do número; geometria pelo idioma das
coordenadas do espaço. Em algumas das suas mais recentes discussões, Bion cita
o paralelo entre descobertas astronômicas e descobertas em psicanálise.
Eu estou familiarizado com uma teoria psicanalítica
da mente humana que parece com a teoria astronômica do buraco negro até onde eu
posso entender formulação astronômica. Por que um psicanalista deveria inventar
uma teoria para explicar um fenômeno mental e, independentemente, os astrônomos
elaborarem uma teoria semelhante sobre o que eles pensam sobre um buraco negro
no espaço astronômico? O que está causando o que? Esta é uma peculiaridade da
mente humana que projeta isto para o espaço, ou isto é algo real no espaço do
qual deriva esta ideia de espaço na própria mente?
Esta é uma pergunta que é improdutivo tentar
responder. Ou para por isto de outro modo, a resposta é provavelmente e/ou:
como um quadro de minha mão mostrando um lado de minha mão, e um quadro de
minha mão mostrando o outro lado de minha mão. O desejo para nomear é uma
tentativa para solucionar um mistério que precisa ser vivido e explorado. E
este mistério tem a ver com a conexão do pensamento das realizações humanas, em
um tempo e lugar particular e através das diferentes ciências ou artes, puras e
aplicadas.
Usando minha própria linguagem e de meus colegas de
investigação no Instituto Grubb, o modo de pensamento e funcionamento de Bion,
exemplificados aqui, fundamentalmente poderiam ser descritos como 'sistêmicos'.
Ele está interessado no modo pelo qual algo em uma cultura, um contexto, se
reproduz em formas diferentes, realizações diferentes, a partir de alguma raiz
comum. E junto com este interesse vai uma consciência que tem a ver com a produção
e procura de vínculos: entre uma pessoa e outra, entre o indivíduo e o grupo,
entre uma palavra e o que é usado para expressar, entre físico e mental,
consciente e inconsciente. E examinando estes vínculos, os experimentando
dentro dele na sua prática como psicanalista, Bion se achou experimentando
repetidas vezes, uma resistência para unir os extremos, que ele sentia, como um
ataque em sua mente.
TRANSFORMAÇÕES E RESISTÊNCIAS
Me deixe citar, novamente das recentes discussões,
uma resposta que Bion deu a um psiquiatra a que estava expressando a sua
perplexidade diante de uma 'especulação imaginativa' que Bion estava oferecendo
sobre o desenvolvimento da personalidade durante a vida intra-uterina: "Meu chefe cirúrgico, quando eu era um
estudante médico, era Wilfred Trotter que escreveu Os Instintos do Rebanho na
Paz e na Guerra. Ele chamou a atenção para algo que parece existir. Por
exemplo, tome um grupo como este: Nós temos uma combinação de sabedoria que
torna insignificante o pouco que cada um de nós sabe, mas por analogia nós
somos como células individuais, no domínio que é limitado por nossas peles. Eu
penso que há algo pelo qual esta combinação de sabedoria se faz sentir ao mesmo
tempo por um grande número de pessoas. Nós gostamos de pensar que nossas ideias
são nossa propriedade pessoal, mas a menos que nós possamos fazer nossa
contribuição disponível para o resto do grupo não há chance de mobilizar a
sabedoria coletiva do grupo que poderia conduzir para avançar no seu
desenvolvimento. Há certas pessoas altamente inteligentes que não podem tolerar
o bombardeio perpétuo de pensamentos, sentimentos e ideias que vêm de todos os
lados, inclusive delas mesmas. Assim elas cancelam a assinatura dos jornais;
retiram o número da lista de telefones, puxam as cortinas e tentam até onde possível, alcançar o tipo de
situação na qual elas fiquem livres de impacto adicional. Assim a comunidade
perde a contribuição que o indivíduo pode fazer e o indivíduo morre mentalmente
da mesma forma que certas células na necrose do corpo."
O corpo tem a inteligência para resistir a uma
invasão de corpos estranhos como bactérias e mobiliza fagócitos para lidar com
os objetos invasores. É possível que possamos nos organizar em comunidades, em
instituições para se defender contra a invasão de ideias que vêm do espaço
exterior, e também do espaço interno? O indivíduo tem medo de permitir a
existência de imaginações especulativas até mesmo dele próprio; ele tem medo do
que aconteceria se qualquer pessoa notasse estas especulações imaginativas e
tentasse livrar-se de uma influência perturbadora.
Esta resposta contém a síntese da visão altamente
paradoxal de Bion de grupos e experiências em grupos. Disto eu quero tirar três
implicações: Primeira, a resposta torna claro que, para Bion,
indivíduo e grupo são necessários para o progresso e desenvolvimento de cada
um. Não é justo que as ideias de um indivíduo, para entrar no domínio público,
precisem de um grupo que possa contê-las e trabalhar com elas, sem destruir ou
roubar sua vitalidade, seu poder para perturbar, destruam-se no processo. O
grupo encarna uma sabedoria coletiva, uma multiplicidade de recursos, centros
de consciência que podem alimentar, somar e preencher o que qualquer indivíduo
tenha comunicado. (Isto é o que eu tenho em mente falando do grupo como uma
arena para transformações).
Mas, segundo esta resposta também torna claro que o
grupo, organizado como uma comunidade ou uma instituição, resiste às mesmas
oportunidades para transformação que sua própria desenvoltura provê. Além
disso, cada indivíduo toma parte nesta resistência. E Bion deixa claro que esta
resistência não é só de um membro do grupo. A resistência no grupo ressoa
com a resistência do indivíduo, sob do disfarce de proteger algo sentido como
pessoal e pertencente a si mesmo: minha ideia, minha experiência, meu
pensamento.
É comum em conferências de relações de grupo que o
consultor ou um membro do grupo chame a atenção para o uso de 'nós', como uma
representação de uma ideia do grupo como algo monolítico. É um pouco
menos comum chamar a atenção para o uso do 'eu'. Ainda que ambos os usos,
'nós' e 'eu', frequentemente sirvam ao mesmo propósito, bloquear conhecimento
adicional, fixar limites para a união, preservar um limite que é sentido como
ameaça através de intromissões de alguém ou outro lugar. Se uma ideia,
uma experiência, um pensamento, um sentimento,
pertence a nós ou então a mim, podemos sentir que nós ou eu está sob nosso ou
meu controle. É algo que nós ou eu possuímos, e então nós ou eu podemos
desconhecer. Mas suponha que não pertença a nós nem a mim. Nós ou
eu não sabemos o que acontecerá, para onde conduzirá, se germinará em um
pássaro ou um monstro, se nos dará vida nova ou nos matará.
É esta possibilidade que dá tal ressonância e durabilidade
aos mitos de Prometheus, Fausto e Frankenstein, do Jardim do Eden e a Torre de
Babel.
Nada está protegido de pensamentos. Só mentiras
estão seguras até que o pensamento venha. Ou, pondo isto nas condições de Bion,
mais exatamente, os únicos pensamentos que estão seguros são os pensamentos
para os quais um pensador é absolutamente essencial; e os únicos pensamentos
para os quais um pensador é absolutamente essencial são as mentiras.
Consequentemente o dictum feliz de Bion afirma que a suposição tácita de
Descartes que pensamentos pressupõem um pensador, só é válida para a
mentira.
O que é uma mentira? Bion põe isto assim: uma
mentira é uma formulação conhecida pelo iniciador como falsa, mas mantida como
uma barreira contra declarações que conduziriam, caso contrário, a uma
transformação psicológica ou emocional. O motim emocional contra o qual a
mentira é mobilizada é uma 'mudança catastrófica': isto é, uma mudança que
ameaça a psique, a experiência da pessoa e sua estima, ou, como Bion diz, 'afronta
o seu sistema moral’. Tais formulações são familiares em grupos e organizações,
na relação de uma pessoa com outra ou para consigo mesmo.
Isto me conduz à terceira implicação da resposta de
Bion. A fonte do paradoxo que o grupo, assim como o indivíduo, simultaneamente
provê que a oportunidade para e as forças da resistência para a transformação,
serão achadas na incerteza, na dúvida, no não saber, que é a definição
característica da formação de um pensamento. Ou talvez seria melhor dizer, da
consciência da experiência emocional que, se podemos tolerar a frustração do
não saber, pode prover o solo no qual um pensamento possa aparecer. O cerne deste
não saber, que paira no ar, como um pensamento, é o medo da mudança
catastrófica.
PENSAMENTOS E O GRUPO
O que tem isto a ver com entender nossas
experiências cotidianas em grupos, não só em grupos de conferências de relações
de grupo, mas qualquer grupo: uma sociedade, uma organização, uma família, uma
tribo, uma associação voluntária? Algum tempo e algumas circunstâncias, talvez
não muito. Eu penso que podemos exagerar frequentemente até que ponto o
trabalho do mundo, o trabalho que todos nós fazemos, pede esforço mental
contínuo, um encontro com o desconhecido. Nós podemos sobreviver com hábitos,
costumes, truques inteligentes de nosso comércio, nossa inteligência nativa,
contanto as circunstâncias não mudam muito, externamente ou interiormente.
Nós somos ocupados. Nós estamos tendo que ser inteligentes, adaptáveis,
sabidos. Nós necessariamente não estamos tendo que pensar.
Mas claro que as circunstâncias mudam, dentro e
fora. Um ambiente amigável a nossas atividades e interesses fica não amigável.
Salman Rushdie escreve um livro. Líderes novos, faces novas, ideias novas são
geradas. E nós mudamos. Costumes velhos envelhecem, os hábitos da inteligência
parecem puídos.
Em um tal contexto vital, que pode surgir dentro de
um único grupo ou organização, mas que também pode infectar uma sociedade
inteira, todos os fenômenos que eu aludi como o paradoxo essencial da vida do
grupo, significando e ressignificando para forçar nossa atenção, podem incluir
o seguinte:
Primeiro, há uma consciência de experiência
emocional no grupo, por parte de seus membros, separadamente e
corporativamente, que é não focado e intocável, que pode não ser possível pôr
em palavras e pode se mostrar em comportamento que os psicanalistas se referem
como 'acting out'. Esta experiência pode ser composta de sentimentos de
excitação, expectativa, desespero, perda de controle ou vacuidade.
Um modelo para iluminar este estado, Bion sugere, é
o fenômeno do nascimento: Eu suspeito que há alguma contrapartida do termo
'nascimento de uma ideia': que há alguma razão para imaginar que estão
relacionadas estas experiências dolorosas que temos no processo de dar à luz a
uma ideia ou para fazer uma conexão, que é uma instância de pensamento. Uma
instituição, uma sociedade de seres humanos, pode estar impossibilitada de
sobreviver ao nascimento de uma ideia. Nós somos, indubitavelmente, descuidados
com nossa obstetrícia psicológica. Nós parecemos sentir que a
coisa a fazer com uma ideia recém-nascida é dar uma beijoca.
Muito de meu próprio e do trabalho de meus colegas
no Instituto Grubb não leva a forma de funcionamento com grupos ou
organizações, mas com representantes individuais, frequentemente gerentes
seniores ou líderes, usando um método de consulta individual descrito por Bruce
Reed como 'Análise do Papel Organizacional'. Como uma organização de pesquisa
social aplicada, nossa meta particular é descrita como: identificar,
interpretar e trabalhar os pontos de pressão da organização e através da
análise profissional e práticas gerenciais, permitir aos clientes alcançar seus
objetivos institucionais.
Assim nós estamos profissionalmente voltados para
trabalhar nessas situações onde o tipo de fenômeno que eu estou buscando
descrever, é provável acontecer.
Às vezes um cliente que nos procura aparentemente
sabe exatamente qual é o problema, ou exatamente o que ele quer saber, ou
exatamente o que ele quer que você faça sobre isto, que envolve frequentemente
fazer algo para ou com alguém. É como se tudo o que cliente requer é que outra
pessoa assuma um trabalho particular que ele ou a organização não se sente
competente bastante para fazer por si próprio. O interesse dele está em
empregá-lo como um técnico e explorar suas perícias. Também pode haver todos os
tipos de outras motivações ou considerações. Dada nossa meta, como um
Instituto, estas situações podem precisar de ser ordenadas antes de qualquer
decisão. Um cliente que conhece exatamente o problema ou o que ele quer
que você faça sobre isto não está no reino dos 'pensamentos' e provavelmente
não dará boas-vindas a isto se você estiver. Ele está procurando confirmação
das ideias mais prováveis que ele já sabe, ou técnicas à mão ou truques para
alcançar o que ele quer alcançar.
Como a pessoa explora a situação com o cliente,
pode começar a sentir que ele está no território que eu me referi antes como o
da 'mentira': quer dizer, a declaração do 'problema' é conhecida como sendo
insatisfatória ou falsa, mas é assegurada porque não fazer isso provocaria
algum motim na organização como um todo ou na própria percepção do cliente a
respeito do seu papel. O que acontece então dependerá do juízo que o consultor
faz a respeito dele ou da capacidade do cliente em confrontar e trabalhar com
esta possibilidade.
Mas um cliente também pode vir bastante incerto de
qual é o real problema; que conta uma história que o deixa confuso e caótico
como ele, que está sofrendo uma sensação de frustração, de turbulência dentro e
fora da organização. Tal cliente, nas condições que estou usando, está
anunciando que pode estar na presença do 'nascimento de uma ideia': algo
esperando ser formulado no ato da exploração e interpretação entre você e
ele.
Segundo, a consciência de desfocar a experiência
emocional no grupo (ou representante do grupo) é acompanhada e pode ser
escondida por outros elementos que resistem a isto. Um exemplo é a afirmação de
limites como barreiras, ou ao redor do indivíduo ou do grupo, pelo uso de
nomear como uma defesa. Eu me referi a isto anteriormente, falando sobre os
modos nos quais os pronomes 'Eu' e 'Nós' podem ser desdobrados para prevenir o
reconhecimento do fato que a experiência nova é justamente uma experiência que
põe em questão o significado a ser dado a estes nomes. 'Eu', 'Nós' não
estiveram aqui antes. A abertura para o presente da experiência emocional aqui
e agora, significa meios que estão abertos à evolução de 'Eu', 'Nós' e a
relação entre eles. O uso insistente de 'Eu' / 'Nós', trai a presença do
'não-Eu', 'não Nós' que já está dentro de mim/de nós e espera nascer.
Tal uso defensivo de nomear pode aparecer em muitas
outras formas. Recentemente estávamos envolvidos em muito trabalho com escolas,
em particular com grupos de cargos superiores. Escolas são organizações que
enfrentam grande turbulência atualmente, dentro e fora. Esta turbulência não
tem só a ver com a interferência governamental contínua e a legislação. Também
há consciência de algo na sociedade que desafia e questiona sobre o significado
das escolas, da educação e treinamento, ensino e aprendizagem, em nosso
ambiente presente. Em nossa
experiência, muitos professores, em muitas escolas, têm a coragem para
enfrentar esta turbulência, para sofrer a incerteza dentro deles e de suas instituições
e trabalhar com isto. Mas há também, às vezes, a tendência de resistir muito
poderosa. Isto emerge frequentemente em uma preocupação defensiva com e no uso
de valores, ou na afirmação de uma certa concepção da profissão pedagógica que
é projetada para circunscrever o que pode e não pode ser entretido como um
pensamento. 'Valores' e 'profissão' são chamados como se eles fossem nomes cujo significado já é conhecido e determinado, em lugar
de hipóteses, cujo significado aqui e agora sempre é aberto à exploração e à
evolução.
Há um vínculo entre este uso da defensiva de nomes
e a mentira (no sentido técnico no qual eu tentei desdobrar isto). Ambos
são frequentemente parte, aberta ou veladamente, de uma preocupação com a
moralidade: o que deve ou não deve ser, contra o que é e o que não é.
Meu colega John Bazalgette conta uma história
adorável de uma menina que foi solicitada a escrever uma pequena revisão de um
livro sobre pinguins. O que ela escreveu foi: 'este livro me conta mais sobre pinguins
do que eu quero saber'. É o medo de que aprender mais do que a pessoa quer
saber que contribui tão poderosamente à mentira. Atrás deste medo
espreita uma convicção primitiva que as únicas notícias boas não são nenhuma
notícia, ou pelo menos notícias de ontem. E atrás deste medo, sugere Bion, está
a culpa persecutória de que a ideia é o combustível do pecado original.
No último volume da sua psicanalítica
autobiografia, Bion se refere à culpabilidade, pela boca de ' PA', como: Um dos
fundamentos, uma das suposições básicas.... O crime (racional, lógico) e o
sentimento de culpa são parceiros naturais. É uma forma pela qual a justiça,
moralidade e ingenuidade intelectual pode ser dedicada por tão longo tempo para
poupar tempo e energia.
Eu não sei se usando o termo 'suposição' básica
aqui, Bion pretendeu com isto as associações que cercam seu uso técnico em
Experiências em Grupos. Até onde eu sei ninguém explorou esta possibilidade no
contexto de relações de grupo. Se culpabilidade é uma suposição básica na mentalidade
do grupo, então talvez a instituição da lei em sociedade pode ser vista como
representando a resposta de um 'grupo especializado de trabalho' para lidar com
as emoções associadas com a culpa.
A MOBILIZAÇÃO DAS SUPOSIÇÕES BÁSICAS
Esta referência às suposições básicas introduz um
terceiro jogo de fenômenos através dos quais, em um contexto vital, os
paradoxos essenciais da força de vida de grupo chamam nossa atenção, isto é, a
mobilização de atividade de suposição básica: dependência, pareamento e luta/fuga.
Eu ainda não disse nada em detalhes sobre estas
suposições. Não porque eu pense que elas não sejam importantes, mas porque eu
penso que este território é muito bem explorado, particularmente em trabalhos
de relações de grupo, que pode obscurecer ou pode chamar nossa atenção para
longe de outros fenômenos de grupo. Nós precisamos ir além das
'suposições básicas', se esquecer delas para poder redescobri-las e as fazer
novas, se elas retêm vitalidade conceitual e relevância.
Eu não penso que é necessariamente correto dizer
que as suposições básicas são defesas de grupo. Bion as vê como inerentes à
toda atividade de grupo em Experiências em Grupos. Elas correspondem a três do
que ele descreveu como as quatro situações básicas para as quais as direções
emocionais primárias correspondem: 'nascimento, dependência, pareamento e
guerra'. Mas, na constelação que estou buscando descrever, penso que a
mobilização de suposições básicas, as formas particulares que levam e as
ocasiões nas quais elas se forçam na atenção
da pessoa, tem uma função defensiva. Elas estão atentas, por parte do grupo,
para se pôr além do encontro com o desconhecido, além do reino do pensamento,
de nomes e de mentiras: achar uma solução mágica para o dilema existencial do
grupo e de todos seus membros.
O que eu penso sobre todos nós que trabalhamos com
relações de grupo não é sempre muito bom ou afinado para assistir e/ou
caracterizar este dilema. Porque acreditamos que as suposições básicas são
onipresentes, não temos nenhum cuidado para notar quando, e considerar por que,
elas obstruem nossa experiência.
RÉ-EMOLDURANDO O 'GRUPO DE TRABALHO'
Eu me referi ao fenômeno, dentro do contexto que eu
estou descrevendo, que representam modos de resistir ou escapar da reunião com
o desconhecido.
Mas também há fenômenos que representam modos de
ida para conhecer o desconhecido. E aqui nós estamos no território de atividade
do grupo de trabalho. Eu suspeito que os praticantes de relações de grupo
realmente não começaram a fazer mais que arranhar conceitualmente a superfície
deste fenômeno, entretanto a prática pode ser feita com antecedência da teoria.
É muito fácil abrigar tudo atrás da idéia crua, simples do grupo de trabalho
como o grupo que se encontra para executar uma tarefa pública.
A dificuldade está nos contextos que eu estou
falando, ou, na reunião com o desconhecido, a própria tarefa pública pode ser
problemática. Isto é por que eu penso que pode ser útil pensar em grupo de
trabalho que não só funciona pelo conceito de tarefa pública e todos seus
vários derivados, mas também pela idéia a que eu me referi no princípio, do
grupo de trabalho como uma arena para transformações. Eu não quero reivindicar
que esta ideia corresponde a uma realidade observável clara do funcionamento do
grupo. Estou usando isto (no termo de Bion) como uma preconcepção para a qual
uma realização pode ser encontrada que dará à luz a uma concepção.
Mas eu penso que a pessoa pode descobrir elementos
de tal realidade no aparecimento de imagem, de sonhos, de mitos, dentro de um
grupo e na capacidade para o que Barry Palmer e Colin Evans chamaram 'jogar
sério'. Ou nesses momentos em um grupo, que pode estar mais presente nos grupos
da vida cotidiana do que nos grupos temporários que criamos nas conferências de
relações de grupo, quando as pessoas podem associar o material de outros sem
uma preocupação irritável com a propriedade e sem o recurso para uma ideia
prescritiva de 'relevância'.
Recentemente, Gordon Lawrence buscou explorar esta
área em uma série de conferências em 'Sonho Social'. É interessante a mim
que, descrevendo a atividade ele está tendo a intenção de emoldurar, Lawrence
evita uso do termo 'grupo', preferindo falar de uma 'matriz', definida como um
lugar 'fora da qual algo se desenvolve'. Parte da razão disto, mencionando
novamente, pode derivar da sensação de Lawrence que as sociedades industriais
avançadas estão experimentando mudanças cumulativas que podem ser interpretadas
como o começo do fim dessas sociedades como elas foram conhecidas no passado e o
começo de sociedades que podem ter que ser 'inventadas'. É como se, para criar
a possibilidade de explorar aquele tema, a pessoa precisa inventar uma forma
nova em troca para a exploração livre das associações que giram ao redor dos
conceitos de 'grupo', ou 'grupo de trabalho' como estes tenham sido até então
empregados.
TRANSFORMAÇÕES EM INSTITUIÇÕES: A TENSÃO ESSENCIAL
A inovação de Lawrence, simultaneamente
metodológica e institucional, ilustra, mas também evita uma última parte do
pensamento de Bion a qual eu desejo comentar. Ao longo da sua vida, Bion teve
uma suspeita profunda e desconfiança da vida institucional. Em vários dos seus
mais recentes seminários ele se refere deste modo às instituições: "A
dificuldade sobre todas as instituições, o Instituto Tavistock e todas que
temos, é que elas estão mortas, mas as pessoas dentro delas não, e as pessoas
crescem e algo vai acontecer. O que normalmente acontece é que as instituições
(sociedades, nações, estados e assim sucessivamente) fazem leis. As leis
originais constituem uma concha, e então novas leis ampliam aquela concha. Se
fosse uma prisão material, você poderia esperar que as paredes da prisão fossem
elásticas de algum modo. Se as organizações não fazem nada, elas desenvolvem
uma concha dura, e então a expansão não pode acontecer porque a organização se
prendeu."
Organizações se prendem quando estão
impossibilitadas de apreender a ideia nova: se vem de dentro ou de fora ou
pelos poros da sensibilidade das pessoas para a presença do desconhecido. Mas
nós podemos perder facilmente a visão do fato que qualquer ideia nova requer
alguma anfitriã pela qual não só é disseminada, mas também é tornada disponível
para o uso ao longo da comunidade ou sociedade ou grupo. Ideias são precárias:
elas necessariamente não emergem completamente formadas ou são completamente
compreendidas. Elas podem ser os produtos de gênio ou do flash de gênio que
todos nós somos capazes em algum tempo. Elas precisam de assimilação, digestão,
tradução e, às vezes, negócio doloroso, paciente de reflexão, teste,
confirmação.
Em Atenção e Interpretação Bion soletra um modelo
de 'grupo institucionalizado de trabalho' como essencial para o desenvolvimento
da ideia nova, o trabalho do gênio, o místico. Pelo aparecimento da função do
Estabelecimento, e a elaboração consequente de regras, de treinamento e
critérios para qualificação, o grupo de trabalho institucionalizado cria uma
acomodação psicológica e emocional a ser feita à realidade que um gênio mata,
um flash de gênio enfraquece. Esta função provê alguma proteção contra a
onipotência e a tendência para confundir a ideia consigo mesma, como se a
pessoa possuísse isto em lugar de realizá-la.
O fato de que o trabalho do mundo tem que ser feito
por pessoas ordinárias faz este trabalho de cientificação, ou vulgarização, ou
simplificação, ou comunicação ou tudo junto, imperativo. Não há suficientes
místicos para ir em volta e esses que há não devem ser desperdiçados.
Se eu pudesse pôr este ponto de um modo mais
mundano, está fora da tensão entre a ideia nova e seu recipiente: seja um
grupo, uma organização, uma sociedade, uma mente individual (ou realmente uma
palavra, ou uma forma de arte) que o desenvolvimento acontece, ou
reciprocamente não acontece. Sem aquela tensão você produziria nada ou quando
muito, ostentação.
Se as transformações criam resistências, elas
também requerem isto. É a relação entre as duas que é produtiva ou destrutiva,
não em si próprias. A tensão ou os paradoxos que eu tenho chamado de
intrínsecas à toda a experiência em grupos e as suas formas institucionalizadas
é uma 'tensão essencial'. E esta é a última área na qual eu penso que todos os
que estão envolvidos em trabalhos de relações de grupo poderiam aprender algo
do pensamento de Bion estando alerta à fenomenologia desta relação e para os sinais
de sua presença.
EM CONCLUSÃO
Quando eu tive a intenção de preparar esta
conferência, eu pensei que eu soubesse o que eu queria dizer bem claramente. Eu
tinha lido muito do trabalho de Bion, e vivi por muitos anos com isto. Eu tinha
falado frequentemente sobre isto a meus colegas no Instituto e sentia que tinha
experimentado vínculos entre isto e minha própria experiência e tinha praticado
coordenando grupos e em trabalhos de consultoria e de pesquisa.
Enfrentado com uma folha de papel em branco, minha
mente assumiu aquela brancura, e eu me senti bastante assustado. Talvez o
"imperador estivesse nu". Fui tentado (e não resisti a isto bastante)
voltar inúmeras vezes para os textos, a bíblia de Bion, e beliscar qualquer
roupa que eu achasse lá. Duas semanas antes um colega me perguntou qual seria o
tema principal da conferência. Eu murmurei algo incoerente e me senti sendo
perseguido. Levou uma quantia irregular de tempo para ver que não havia
'nenhum casaco'. Se eu pudesse só me permitir não experimentar
o "branco" como uma perseguição mas como um espaço no qual o
pensamento já estava então talvez eu começasse a descobrir o que eu poderia
dizer. Talvez.
Este estado de mente na presença do pensamento
intocado, a coisa nenhuma que espera ser descoberta e formulada pela elaboração
e jogada com o pré-verbal e imagens verbais, com sonhos, mitos, preconceitos,
Bion se referiu e usou uma frase de John Keats em uma carta para seus dois
irmãos, como 'capacidade negativa’: "Eu não tive uma disputa mas uma discussão
com Dilke em vários assuntos; várias coisas encaixaram em minha mente e
imediatamente me golpearam que a qualidade para formar a realização de um homem
em Literatura na qual Shakespeare possuiu tão enormemente, eu significo como
Capacidade Negativa que é quando um homem é capaz de ser em incertezas,
mistérios, dúvidas sem qualquer irritação."
Para a maioria de nós este estado da mente que Bion
acreditava estava no coração da prática da percepção psicanalítica nos
indivíduos e grupos, e é extraordinariamente difícil de alcançar. Mas sempre é
tentador, até mesmo se nós tivermos que ficar contentes, geralmente, em andar
nos passos de outros.