13/06/2016

Normas grupais

Normas grupais

“Qualquer ação frequentemente repetida torna-se moldada em um padrão que pode em seguida ser reproduzido com economia de esforço e que é apreendido pelo executante como tal padrão: o hábito.” ( in Berger e Luckmann ,1985, pg. 77).

O hábito garante que uma atividade possa vir a ser executada no futuro da mesma forma e com o mesmo esforço físico e/ou ainda mais econômico.

A partir dos hábitos, é possível ao indivíduo organizar  seu tempo, além de  reduzir as inúmeras alternativas que poderiam surgir para a realização de um projeto, a uma só possibilidade. Dessa forma se  protege do trabalho de ter que tomar decisões.

O hábito pois, é um companheiro do solitário.

Quando um indivíduo com seus hábitos entra em contato com outro e seus respectivos hábitos e ambos decidem conviver em um mesmo espaço social, precisarão  necessariamente  fazer combinações, que possibilitem a  convivência dos seus diferentes hábitos.  Assim nascem as normas e as instituições.

Quando estabelecemos contato com outras pessoas e decidimos fazer parte  daquele grupo, começamos  a receber  influências das pessoas e do grupo e a influenciá-los. São as normas construídas, conscientemente ou não, no e pelo grupo, que definem quais comportamentos são adequados, quais os inaceitáveis, o ritmo em que as tarefas devem ser feitas,  os códigos de comunicação, a forma de cumprimentos entre os membros do grupo, etc. Se quisermos continuar a pertencer, precisaremos aceitar a forma como o grupo funciona, ou seja, viver de acordo com suas normas. Ou revê-las. E elas podem e devem ser revistas por meio do diálogo, a fim de propiciar experiências renovadas e dessa forma, crescimento para as partes em relação no grupo e para o grupo.

Amado e Guitet (1982 pg. 121), afirmam que o grupo é o local privilegiado onde todos os processos de influência se encontram, tanto aquelas oriundas das instituições às quais o grupo pertence, quanto aquelas geradas a partir do próprio funcionamento grupal.

Você já identificou as normas  comuns aos seus grupos de convivência? Quais as que você concorda e quais as que você se submete para pertencer? Como você lida em seus grupos de referencia ante normas obsoletas ou que considere incomodas?

Mauro Nogueira de Oliveira
09/2009



REFERÊNCIAS
BERGER, P. & LUCKMANN, T., A Construção Social da Realidade. Vozes. Petrópolis, 1985
AMADO, G. & GUITTET, A., A Dinâmica da Comunicação nos Grupos. Zahar. RJ, 1982.






Gregariedade

Gregariedade

Gregários que somos, precisamos experimentar o sentimento de pertencer a um grupo e, para isso, negociamos com os outros, consciente e/ou inconscientemente, possibilidades e limites com esse fim. Esse movimento acontece desde o início de nossa história, ao  serem forjados e “escolhermos” os papéis que desempenharemos no ambiente familiar, o que serve de aprendizado para, futuramente, serem exportados para outros grupos.

Falando de papéis, não podemos deixar de examinar suas possibilidades de realização nas relações:
os papéis desejados por nós;
aqueles desejados pelo grupo e
os papéis que desempenhamos.

Quando experimentamos papéis que são, ao mesmo tempo, desejados por nós e esperados pelo grupo, o confortável sentimento de pertencer nos remete ao prazer.

Ao experimentarmos papéis que são desejados por nós, mas não esperados pelo grupo, o sentimento de pertencer é frágil e ameaçado pelo risco eminente da exclusão.

Possibilidades se apresentam como resolução desse impasse:
- acomodar-se ao que o grupo espera para continuar pertencendo, o que gera frustração e dor nas relações em suas mais variadas manifestações;
- entrar em choque com o grupo e conosco mesmos, por estarmos frustrando expectativas de quem gostaríamos de agradar e, sem dúvida, nessas circunstancias, nossa possibilidade de prazer diminui e quase escasseia ou,
- negociar no grupo desejos, expectativas e necessidades, buscando possibilidades de novas configurações nas relações, que resultem em mais satisfação para as partes e para o grupo.

Podemos experimentar ainda, papéis que são, ao mesmo tempo, não desejados por nós e não esperados pelo grupo. Nessa situação, a motivação para permanecer no grupo inexiste, a não ser quando da  necessidade neurótica de manutenção  do sofrimento.

Essas são situações complexas que nos demandam escolhas cotidianamente.

Assumir decisões e atitudes que nos remetam a um maior espaço de movimentação nos grupos aos quais pertencemos, resulta do aprofundamento da consciência de que ser gregário, não significa necessariamente submeter-se, negar-se.

trecho do artigo “Gregariedade”, de Mauro Nogueira de Oliveira



Fronteiras

Fronteiras

Com  Kurt Lewin, psicólogo social alemão (1890 -1947) aprendi  a importância da geografia de  nossas vidas. Para ele o comportamento e o desenvolvimento de uma pessoa dependem da relação desta com seu meio físico, geográfico e cultural. Portanto, para compreender ou prever um comportamento, a pessoa e seu meio precisariam ser olhados como uma constelação de fatores interdependentes, num espaço de vida relacional.

Esta compreensão me remete a pensar na infância e adolescência.

Lembro da minha infância. Minha noção de mundo quando criança era obtida através de revistas e ouvindo rádio. Morava em Jaguari, uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, com cinco mil habitantes e era muito difícil imaginar que Porto Alegre, capital do Estado, já tinha quase um milhão de habitantes. E que São Paulo, na época, já tinha mais de três milhões. Como seria isso possível? Para mim, Jaguari já era tão grande. Como poderia haver espaço para tanta gente? E olha que eu não era mal informado, estava com doze anos de idade nessa época e já pensava demais. Mas, só podia pensar o mundo com as informações as quais tinha acesso. O resto era fantasia.

Vivia em uma época, em que não havia muitas dúvidas: os adultos  nos ensinavam todas as suas certezas com muita certeza!

Algumas dessas certezas nos diziam como agir, como ser, como fazer em relação ao mundo, em relação aos outros e em relação a nós mesmos. O ensinamento severo dessas fronteiras rígidas era, na maioria das vezes, significado por eles como expressão de amor e proteção.

A rigidez das fronteiras servia como estímulo para o jovem querer sair do ambiente controlador, quer fosse através da busca de estudar  na Capital, de conseguir um  emprego, casar... ações que acenavam como possibilidade de ter mais liberdade, ampliar o espaço de movimento de vida, criar novos espaços geográficos e, consequentemente, novos espaços psicológicos.

Sair do ambiente controlador, contudo, não significava de forma alguma que as fronteiras deixassem de existir. Não se extinguiam até porque  estavam internalizadas. E porque precisávamos delas. Essas fronteiras nos davam a sensação de pertencimento à família e a outros grupos importantes, nos situavam em um determinado espaço geográfico e permitiam que frequentássemos  espaços sociais correspondentes. Significavam também que estávamos sendo cuidados.

Insatisfeitos com elas procurávamos rompê-las através de um "salto" social  educacional e/ou profissional.

Um dos aprendizados que aquele ambiente controlador nos trouxe , foi o de que deveríamos ser mais amigos de nossos filhos do que nossos pais foram. Na busca de encontrar  essa condição terminamos por nos tornar mais parceiros, do que pais de nossos filhos. Parceiros não colocam limites, não frustram, apoiam, estimulam e, parceiros mais velhos ainda protegem.

Isso tem resultado em que, as fronteiras que nos serviram de catapultas, de obstáculos a serem superados e que nos ensinaram a fazer escolhas, começassem a deixar de cumprir estas funções.

Na busca de flexibilizar, afrouxamos.

Não quero generalizar. Há pais que, mesmo correndo o risco de serem vistos como “caretas” por seus filhos, não deixam de estabelecer  fronteiras saudáveis, protetoras das relações consigo, com os outros  e com o mundo e, que são ao mesmo tempo, estimulantes.

Refiro-me a outros que, movidos pela melhor das intenções, se perderam no estabelecimento de limites.

O momento mundial é de queda de fronteiras geográficas, noção de mundo transformando-se com uma enorme celeridade, economicamente os mercados se tornando Comuns, o dinheiro começando a ser Comum e um volume de informações impossível de ser processado por uma pessoa. Em contrapartida e paradoxalmente, temos a queda das certezas e uma inundação de dúvidas, na proporção em que a quantidade de informações aumenta.

Compreendo esse trânsito de fronteiras rígidas para fronteiras difusas,  como uma  busca humana da aprendizagem de delinear  fronteiras nítidas, claras e permeáveis, nas suas macro e micro relações, de acordo com as circunstâncias. A falta de clareza nesses limites,  que nos deixa confusos e inseguros afetiva e socialmente, se expressa em todas as formas de relações sociais, das político-econômicas às familiares e amorosas.

Dado ao desejo de todos de participação como protagonista dessa construção de fronteiras claras e justas, nada mais nos resta do que investir nessa aprendizagem, a fim de que sejamos mais felizes em nossas relações no mundo.

E isso só se conquista com o exercício do diálogo, com investimento na resolução de conflitos entre posições diferentes e na negociação.

Mauro Nogueira de Oliveira
08/2008

Espaço geografico e espaço psicossocial

Espaço Geográfico e Espaço Psicossocial

Consideremos espaço geográfico como o espaço físico de convivência de um grupo e espaço psicossocial, o espaço da vida relacional de um grupo. Um não existe sem o outro.

Vejamos: um homem e uma mulher encontram-se, apaixonam-se e decidem morar juntos. Escolhem conviver num mesmo espaço geográfico.

Essa decisão dará início à constituição de um grupo que  influenciará gerações futuras, se vierem a existir.

Os parceiros levam para a formação de um novo casal, suas histórias individuais na família, o funcionamento desse grupo de origem, sua cultura, suas regras de comportamento e hábitos, dos mais simples até os mais complexos.

A partir da decisão de viverem juntos, a escolha do espaço físico e do como este casal o ocupará, será resultado de uma negociação ou da não negociação.

Por exemplo. Tradicionalmente concebemos o ambiente doméstico como sendo espaço da mulher. Hoje, em função das mudanças, cada vez mais o homem começa a vê-lo como seu espaço também.

Como será a distribuição dos móveis na casa? Que tipo de móveis usaremos?

Cada vez mais, homens vem se envolvendo com prazer em funções culinárias. Isso influencia sobre a decisão da organização da cozinha? Ou a parceira entende que o território é somente dela? Ou ainda, os dois delegam o espaço para uma cozinheira?

E já na convivência a cena das refeições: Qual lugar na mesa será ocupado pelos parceiros? Homem na cabeceira? Mulher à direita ou à esquerda?  A mesa será redonda? Terão lugares fixos? As refeições poderão ser feitas em frente à televisão?

Há um horário acordado para as refeições ou cada um faz a sua quando chegar em casa? O momento da refeição é de conversas espontâneas ou é um momento sério, de recolhimento? É falta grave não estar presente em uma refeição?

Como é tomada a decisão sobre qual lado dormir na cama do casal? É pela facilidade de acesso ao banheiro? É por uma imagem registrada anteriormente sobre qual o lado em que o pai dormia e qual o lado da mãe? O lugar da cama é decidido para criar mais espaço para o berço do nenê que chegou ou está sendo esperado?

Como isso se dá na família de origem do homem e na da mulher? Há mais semelhanças ou mais diferenças nesses hábitos?

Se não houver uma negociação a respeito destes temas e de outros muitos, tanto o homem quanto a mulher entram na relação levando expectativas de que as coisas continuem como são e sempre foram em seus respectivos grupos primitivos.

Se as experiências de um e do outro não tiverem sido muito diferentes, é possível que a negociação se dê em um clima mais harmonioso, mas se há expectativas de que o modelo de um prevaleça sobre o modelo de outro, a competição começará.

A construção e organização do espaço físico e a negociação sobre sua ocupação, faz parte de uma contratação maior e mais profunda que é a contratação do delineamento do espaço psicossocial de cada um e do casal. Isso definirá a forma como cada um dos parceiros se movimentará na relação.

Uma boa negociação resultará sempre numa boa parceria, às vezes complementar.

Se a cultura da família do homem for “homem manda, mulher obedece” e, se a cultura da família da mulher for “mulher obedece e homem manda” este casal tem uma altíssima probabilidade de "ser feliz para sempre", apesar do ressentimento contido da mulher. É possível arriscar a hipótese de que ambos tenham se buscado, mesmo que inconscientemente, para dar continuidade a esta cultura. É aparentemente bem mais fácil assim, pois cada um transitará em terreno já conhecido, o que quase não exigirá negociação, pois já estavam “combinados” antes mesmo de se conhecerem.

No entanto, se estas diferenças culturais forem grandes, quanto mais o casal disponibilizar tempo para o diálogo a respeito dessas diferenças, investindo na construção da sua síntese, mais o delineamento do espaço psicossocial resultará em liberdade para ambos e satisfação para o casal.

Muitas diferenças podem influenciar na construção deste espaço geográfico / psicossocial: a diferença de idade entre os membros do casal, de formação educacional, de regiões geográficas de nascimento e formação, crenças religiosas e ideológicas, etc.

É este pequeno nascente grupo que criará o ambiente relacional que recepcionará os filhos no aprendizado da convivência em grupo.

Mauro Nogueira de Oliveira
08/2006

A família e o traçado de fronteiras relacionais

A família e o traçado de fronteiras relacionais

Durante a gravidez de um novo casal é possível acontecer grandes conversas entre a mãe e o filho em formação, entre o pai e esse novo ser e entre marido e mulher, a respeito da forma como educarão a criança, do que cada um espera que o filho seja, sobre o que farão para que ele cresça saudável, sobre os planos para que seja bem sucedido e por ai afora. Desta forma se engendram as possibilidades de papéis que serão oferecidas ao novo membro da família, para que ele ocupe o seu espaço no grupo.

Como esses diálogos, na maioria das vezes, ocorrem num clima amoroso, fica difícil aceitar que possa estar acontecendo naquele momento, algum tipo de delegação além de uma definição antecipada da fronteira que permitirá o espaço de movimentação de um outro ser na relação grupal.

Este pequeno grupo em processo de constituição, que faz parte de um outro grupo maior - o grupo composto pela família de origem do homem - e de outro – composto pela família de origem da mulher, está desenhando seus contornos, definindo a fronteira que o diferenciará dos grupos originais, para se tornar autônomo, ainda que afetivamente ligado.

Ai o nenê nasce. Seria absurdo levantar a possibilidade de que a nova mãe do novo integrante da família possa experimentar sentimentos contraditórios em relação a sua própria mãe?

Se a relação mãe e filha não foi construída de uma forma que permita autonomia, poderá haver por parte da filha / nova-mãe, uma sensação de estar sendo invadida em seu espaço, ainda mais se a mãe tende a assumir papéis que denotam “eu sei e você precisa aprender comigo”

Também seria absurdo levantarmos a possibilidade de que a mãe do novo-pai teça críticas à forma como estão educando seu neto?

Como o novo pequeno grupo lidará com estas “intromissões”? Demarcarão limites? Que fronteiras definirão? Claras? -“o que cabe e a quem cabe?”. Rígidas? - “na nossa casa não admitiremos opinião de ninguém” - ou Difusas? - “deixemos que eles façam o que quiserem senão ficarão chateados e não quero me sentir culpado (a) por isso, muito menos me sentir excluído(a) por punição ao decepcioná-los”.

Segunda gravidez. Mais uma posição terá que ser criada naquele pequeno grupo e o mesmo espaço relacional precisará ser redistribuído. Pai e primeiro filho podem formar uma aliança para se proteger daquele que é sentido como mais um invasor pelo pai e de um usurpador de seu lugar, pelo filho.

Como dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, é provável que ao nascer, o segundo filho inconscientemente, busque o exercício de papéis diferentes daqueles que o primeiro já desempenhava, pois ter espaço neste grupo lhe é vital. As conversas que aconteceram quando da gravidez de seu irmão mais velho, também aconteceram com ele, provavelmente num outro tom e é possível que nelas lhe tenham dito, o quanto gostariam que fosse diferente do irmão.

Novamente, as culturas que atravessaram as gerações que  originaram aquele pequeno grupo e que o permeiam, vão determinar a forma da negociação de espaços, tanto na nova família, quanto desta com o grande grupo familiar.

É neste pequeno / grande grupo, portanto que cada um de nós inicia a aprendizagem de nos incluir e conviver em grupo.

Os primeiros ambientes relacionais que nos influenciaram no desenho de nossos papéis e posições, vão nos acompanhar e continuar influenciando por nossa vida afora. Muito do aprendizado que gera crescimento em nossas vidas é feito a partir da ressignificação de nossas primeiras relações.

Ao sair para a vida, o aprendizado da criança se dará a partir do quanto será possível desempenhar nos novos grupos, os papéis  aprendidos no grupo familiar e da descoberta de novos papéis que desvendem capacidades que estavam antes adormecidas, enquanto ela buscava de todas as formas garantir seu espaço na família.

Como estamos nos relacionando com as posições que ora ocupamos em nossos grupos?  Quais nossos papeis mais frequentes? Ainda ocupamos apenas os papéis que aprendemos em nossa família de origem?  Descobrimos papeis que acordaram em nós outras possibilidades de estar no mundo? Como está nossa habilidade em definir fronteiras e em administrá-las?

Mauro Nogueira de Oliveira
08/2005

A dimensão grupal da sala de aula

A dimensão grupal da sala de aula.

A sala de aula é um riquíssimo espaço de grupalidade. Nela identificamos diversas manifestações que retratam a vida de um grupo.

Considero que um grupo existe quando ocorre simultaneamente o seguinte: pessoas; a possibilidade do contato face a face entre elas (“eu vejo todos e sou visto por todos”); num espaço comum de convivência (a sala de aula); envolvidas em uma tarefa comum (o processo ensino/aprendizagem); por um período determinado de tempo (o período de uma disciplina, do turno, etc.)

Referindo-se à estrutura grupal, Cartwright e Zander(1975)  destacam que o grupo se organiza a partir de categorias tais como posições, papéis, normas e objetivos.

Na sala de aula identificam-se posições claras: professor e alunos. Em algumas existe uma outra posição que é a do líder da classe ou representante de turma.

Essas posições determinam o status de seus ocupantes. O professor tem mais status que os alunos e dentre os alunos, o líder da classe tem mais status que seus colegas e menos que o professor.

Num espaço relacional, quanto mais claras e definidas (e não rígidas) forem as fronteiras entre as posições, mais  contribuirão para uma boa operação grupal. Por fronteiras entenda-se tudo o que diz respeito a regras, atribuições e limites, que norteiam a movimentação da relação no espaço.

Os papéis qualificam as posições. Referem-se à forma como essas são desempenhadas. Definem o como acontece a ocupação de espaços pelos membros do grupo, no grupo. Por exemplo: “aluno obediente”, “professor exigente”, “aluno desinteressado”, “professor camarada”, etc.

Quanto mais papéis forem desempenhados pela pessoa que ocupa uma determinada posição, maior movimentação ela terá dentro do espaço grupal. Movimentação no sentido de conectar-se, relacionar-se com outros.

E, do contrário, quanto menos papéis desempenhados, mais imagens cristalizadas e menor será a mobilidade da pessoa que ocupa a posição.

Há membros do grupo da sala de aula que circulam por todas as “tribos”, como os considerados “populares” e há os que congelam em um determinado papel (como o “mau aluno”, o “aluno nerd retraído”, o “professor bonzinho”), a tal ponto de tornarem-se previsíveis aos demais.

Normas do grupo existem para contribuir com a definição de fronteiras entre as posições. Mais importante que elas próprias é principalmente, a forma como são criadas e estabelecidas.

Se impostas de maneira autoritária, é provável que estimulem uma reação de contra-controle.

Se construídas a partir da negociação entre os membros do grupo, tendem a ser percebidas como protetoras da relação, estimulam a responsabilidade e em função disso, a probabilidade maior é de que provoquem comportamentos cooperativos. Em especial quando existe a permissão para serem avaliadas e reavaliadas, sempre que do grupo emerja essa necessidade.

Uma dificuldade dos educadores nesse âmbito é que, em nossa cultura, fomos educados a somente seguir normas estabelecidas por outros.   Os frequentes comportamentos reativos de membros se originam comumente do desejo frustrado em participar como protagonista nas decisões.

Se não aprendemos a construir normas dialogicamente, consequentemente não nos comprometemos a respeitá-las. Aprendemos a obedecê-las. Ou até a fingir que o fazemos. Isso está mais próximo da submissão e até do cinismo, do que da cooperação e da responsabilidade.

Cada grupo tem seu objetivo, o que não necessariamente coincide com os objetivos individuais dos seus membros. É possível que o membro do grupo se inclua e assuma o objetivo grupal, apenas para poder alcançar seus objetivos individuais. Exemplo: o objetivo de um grupo que está em sala de aula é aprender os conteúdos das disciplinas; seus participantes, no entanto, podem ter outros como: aprender para satisfazer seu desejo, para ser reconhecido pelos pais e pelos outros, simplesmente estar junto com os colegas,  apenas cumprir com uma exigência familiar e comunitária, etc.

Quando os objetivos grupais e individuais se complementam, a operação do grupo estará mais próxima da harmonia. Quando do contrário, esses objetivos competem, o desprazer na relação é presente e os resultados são afetados negativamente.

Esse olhar para a dimensão grupal da sala de aula, pode ser estendido para outras manifestações grupais, consideradas as suas peculiaridades: a empresa , a família, o grupo de amigos que se encontra com regularidade,  o grupo que realiza  atividades comunitárias e outras mais.

Mauro Nogueira de Oliveira
03/2009

12/06/2016

Escola, família e a educação relaccional

Escola, Família e educação relacional

Nos últimos 20 anos, a educação infantil no Brasil e no mundo foi foco de profundas reflexões no campo da legislação, da investigação pedagógica e das políticas públicas governamentais. No caso brasileiro a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), pela primeira vez priorizou a educação infantil e os resultados disso já estão aí para serem comprovados.

Há em escolas uma preocupação e um investimento de tempo na recepção e acolhimento das crianças que conviverão, no mínimo por um ano, com a mesma professora e os mesmos coleguinhas. Um investimento para que os espaços de movimentação relacional sejam construídos e negociados.

Uma boa professora trabalha em conjunto com os pais quando identifica comportamentos que não estão ajudando a criança no aprendizado de sua socialização e quando isso acontece, mais uma oportunidade de facilitação de crescimento é oferecida ao aluno por seu contexto.

Entretanto, há uma expressão ouvida no ambiente escolar e familiar quando a criança sai da educação infantil e vai para o ensino fundamental, que diz assim: “agora terminou a brincadeira”.

Infelizmente termina mesmo. E inicia-se um período que mais contribui para o acúmulo de informações e quase nada para a educação relacional.

Mesmo que a convivência se dê num mesmo espaço geográfico, a alternância de professores dando pouca ou nenhuma importância ao que está acontecendo no processo grupal (por não saber lê-lo e não por simples descaso), atuando predominantemente como tarefeiros (dando aulas), faz com que até a absorção de informações fique comprometida.

Há então uma ocupação do mesmo espaço geográfico e não um compartilhamento do espaço psicossocial.

Se houvesse esse compartilhar, haveria troca de informações a respeito dos grupos de alunos; a respeito do impacto que cada um causa no outro; que cada professor com seu estilo provoca no grupo e nos alunos e sobre o quanto este impacto está sendo educativo ou não. Haveria dessa forma um crescimento do sistema pela aprendizagem relacional propiciada.

A dissociação entre os subsistemas que constituem a escola - direção, corpo técnico, professores, corpo de apoio -, consequência da ausência de negociação de seus espaços relacionais no sistema, contribui mais ainda para que o ambiente, que deveria ser de acolhimento, funcione como estimulador da competição, do individualismo, da segregação e do surgimento das tribos dos iguais. Tais tribos de alunos são organizadas muito mais para defesa de seus espaços psicossociais, do que por identificação afetiva.

Neste sentido o ensino superior não é diferente. A reforma do ensino universitário na década de 70, ao que parece, foi muito bem recebida pelos professores, pois não precisariam mais lidar com grupos. A partir do sistema de créditos cada aluno viria a conviver com no máximo cinco colegas de forma mais próxima e dificilmente ao mesmo tempo. Em sala de aula passou a haver um aglomerado de alunos, um professor que ditava informações e muito pouca relação entre essas pessoas.

É raro encontrar um currículo escolar que reserve tempo para a integração entre os participantes deste sistema: alunos e educadores (aí compreendidos todos os atores: direção, pais, professores, técnicos, apoio, etc).

O espaço geográfico da escola é um excelente lugar para o encontro comunitário, ainda não aproveitado em seu potencial e, por vezes até dilapidado. Por que será?
Quantas vezes se ouviram educadores referindo-se a um grupo de alunos como muito difícil para trabalhar.

Existem grupos difíceis? Poderiam ser participantes que convivem num espaço comum, durante um determinado tempo e que estão em busca de uma forma de ocupar o seu lugar de valor?  Com fome de ser significativo no grupo maior?

Muitos conflitos entre escola e família acontecem em razão deste choque. Famílias que buscaram acolher bem seus novos membros e os ajudaram a construir espaços de movimentação com  participação, encontram dificuldades ao colocar os filhos numa escola onde as regras são muito diferentes, construídas de forma pouco participativa e às vezes até contrárias às suas expectativas. A família espera que a caminhada de seu filho em sua socialização seja feita da forma o mais progressiva possível e o que acontece é uma possibilidade de retrocesso. Possibilidade de retrocesso porque qualquer criança tem o desejo de ser incluída e, se necessário, no ambiente da escola, assumirá comportamentos incômodos que garantam a sua inclusão. Comportamentos que podem ser bem diferentes daqueles esperados pela escola e por sua família.

Por outro lado, famílias que tiveram dificuldades na construção de espaços relacionais que propiciem saúde, culpam a escola por esta não conseguir que seus filhos assumam comportamentos para os quais não foram iniciados no ambiente familiar.

Não é possível o isolamento entre essas instituições. Os dois sistemas precisam conversar entre si como aliados em seu saber e em seu não saber. E, o mais importante: estes sistemas contribuirão para a educação de crianças e jovens se experimentarem, além do conversar entre si, dialogar internamente, exercitando a tarefa complexa de negociar seus espaços relacionais. Para isso precisa ser privilegiado um tempo e principalmente, a decisão de mudar. E vejo como primeiro passo o eliminar culpados.

Mauro Nogueira de Oliveira