19/01/2018

Nomes, Pensamentos e Mentiras - para entender Experiências com Grupos de Bion

NOMES, PENSAMENTOS E MENTIRAS: A RELEVÂNCIA DOS ESCRITOS POSTERIORES DE BION, PARA ENTENDER EXPERIÊNCIAS COM GRUPOS

David Armstrong
(Traduzido por Mauro Nogueira de Oliveira)
 
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"Percepção psicanalítica em indivíduos e grupos" é o subtítulo de Atenção e Interpretação.  Acredito que é possível localizar neste mais recente trabalho de Bion, linhas de pensamento que complementam, modificam e ampliam as ideias apresentadas em Experiências em Grupos, e que a negligência relativa destas linhas de pensamento por praticantes em 'relações de grupo' contribui para uma atrofia teórica e metodológica auto infligida que às vezes parece cercar quem trabalha neste campo. 

BION NO TRABALHO: UMA MEMÓRIA PESSOAL
Há uns vinte e cinco anos atrás, participei do que penso que foi o último 'study group' conduzido por Bion na Inglaterra, como parte de um curso de relações de grupo que durou mais de três meses, e dirigido por Ken Rice, no Instituto Tavistock, em Londres. 
Olhando para trás, não recordo muito dos detalhes do que aconteceu e do que foi dito nessas reuniões. Retenho uma impressão visual forte da sala em que nos encontrávamos, na Rua Devonshire, com suas janelas altas e chão polido, e dos membros do grupo. Participaram um Administrador de prisão, um psicólogo de prisão, um par de homens de negócios, um jornalista, um jovem assistente social e um igualmente jovem, eu. (Na ocasião eu participava de um Projeto do Tavistock que trabalhava com pesquisa e ação, principalmente em organizações industriais.) 

Os dias estavam um pouco tórridos no Tavi. O Instituto tinha se dividido recentemente em duas facções, encabeçadas por Eric Trist e Ken Rice. Eu pertencia à facção de Eric Trist e só me foi permitido assistir o curso porque seria coordenado por Bion. Do próprio Bion, eu me lembro principalmente da pessoa: o modo dele andar na sala e se sentar, a igualdade da sua fala, o seu ar de intensa e imparcial curiosidade. 

Eu voltarei a este tema novamente. Primeiro, quero fazer um comentário sobre duas outras, parcialmente relacionadas, recordações. A primeira, e eu estava muito atento, assim como outros membros do grupo, é que Bion nunca deu a mais leve impressão de ser o autor de Experiências em Grupos. Alguns de nós tínhamos lido o livro anteriormente, com graus variados de compreensão e frustração. Fomos preparados para ver as 'suposições básicas' no trabalho e serem oferecidas evidências de nossa experiência. Ficamos tristemente desapontados e intrigados. Nada do que Bion disse parecia conectar com este aparato conceitual; considerando que nos eventos de intergrupos, coordenados por Ken Rice, Isabel Menzies, Bob Gosling, Pearl King e Pierre Turquet, durante dois fins de semana, dependência, pareamento e luta/fuga estavam em todos lugares, e eu penso genuinamente, ter encontrado. 

A preocupação de Bion estava em outro lugar. Mas onde? Nas primeiras sessões ele falou muitas vezes sobre o uso de nomes: o modo de nomear tem uma qualidade ilusória, como se fosse a resposta a uma pergunta em lugar de uma pergunta para a qual uma resposta precisa ser buscada. 

'Eu sou David Armstrong' busca identificar um limite ao redor de uma entidade que se é: para usar a linguagem de Bion, ligar uma conjunção constante com um nome é o que Bion se refere como uma hipótese de definição. Mas esta ligação também pode ser usada para restringir a pesquisa. Um limite para exploração (quem é David Armstrong?; o que é ele?; onde ele está aqui e agora?) se torna uma barreira para defender o que é 'eu' do que é 'não eu'. Um limite é fixado, o desconhecido é roubado de seu poder para perturbar. A vingança do desconhecido pode ser um curioso vazio de sentimentos, impossibilitando estabelecer contato com o grupo, ou até mesmo consigo mesmo. 

Nas últimas sessões, um tema que ocorreu periodicamente era o conhecimento e o medo de conhecimento expressados em regras, moralidades e juízos. As reuniões do grupo aconteceram na época do 'caso Profumo'.  Recordo a confusão de Bion (talvez seja uma palavra muito forte) à energia moral que isto lançou no grupo, como se nós não pudéssemos desviar o pensamento deste caso, como os casos que às vezes aparecem em conferências de relações de grupo, poderia ser entendido, adaptando uma frase de Clausewitz ou Bismarck sobre guerra e diplomacia, simplesmente como a perseguição política através de outros meios. Moralidade era a mentira inventada para esconder um pensamento. 

Nomear, saber, inventar mentiras, achar pensamentos, estes temas ocorreram periodicamente ao longo do que Bion escreveu. Para mim eles funcionam como um adubo tanto na exploração do campo grupal como do individual. Mais que isso, eu também acredito que estes dois campos provêm, na frase de Bion, uma 'visão binocular' para explorar e entender o solo do conhecimento e desconhecimento humano, sem os quais nós somos prisioneiros de nossos medos e terrores, em nossa vida pública e privada. 

O GRUPO COMO UMA ARENA PARA TRANSFORMAÇÕES
Antes de explorar este ponto, quero retornar ao que disse anteriormente sobre a qualidade ou tom das intervenções de Bion. Frequentemente em eventos de relações de grupo você está muito bem atento quando uma 'interpretação' está sendo feita pelo consultor. É como se de alguma maneira levasse a etiqueta de 'interpretação' em sua sintaxe, complexidade ou endereço. Se você é o consultor, está semelhantemente atento ao que é seu e ao que é do grupo e que os membros estão atentos que você está atento a isso. As intervenções de Bion não anunciavam as suas intenções deste modo. Era uma interpretação que ele estava oferecendo, ou uma observação, ou um comentário, ou uma opinião? Você não podia dizer. Estava mais como um elemento de uma conversação, sem ser exatamente sociável. 

Anos atrás assisti, uma ou duas vezes, o filósofo John Wisdom em 'Outras Mentes em Cambridge'.  Eram desempenhos muito estranhos. Iniciavam como uma conferência, de um modo familiar. Então havia um longo silêncio.  Wisdom contemplava um canto da sala ou a parte de trás do corredor e arrancava uma imagem ou exemplo daquele espaço, como se estivesse fisicamente presente a ele naquele momento. Ele começava a descrever isto como um elefante rosa, uma lua azul, um espírito intranquilo.  Todos suprimíamos uma risadinha. 

Wisdom era tão auto absorvido quanto muitos grandes filósofos provavelmente eram ou são. Os vínculos que ele viu e fez naquela sala eram vínculos em um espaço mental projetado na frente dele. Porque nós não habitávamos aquele espaço não podíamos fazer os vínculos, não podíamos ver os pensamentos que ele achou no ar ao redor dele e de nós.  Bion não era tão auto absorvido assim. Os vínculos que ele viu e fez eram vínculos em um espaço mental não projetado na sua frente ou no seu interior, um espaço para qual os membros do grupo e o grupo como um todo contribuíram. Mas havia a mesma sensação de estar na presença de um descobridor de pensamentos, oferecidos como alimento para pensamento. 

Talvez este estilo de funcionamento seja inimitável. Mas mesmo sendo, eu penso que contém ou exemplifica uma concepção importante sobre grupos, mais especificamente sobre a ideia do 'grupo de trabalho'. Bion às vezes é acusado de não levar o 'grupo de trabalho' a sério como, às vezes, os psicanalistas são acusados de tomar a 'realidade concebida', para poder estudar os vários estratagemas de evasão e negação. Acredito que isto está fundamentalmente errado e que no modo de funcionamento de Bion a pessoa pode descobrir um significado de um grupo de trabalho, de um certo modo que transcende qualquer simples noção de acomodação à realidade e oferece uma visão radicalmente diferente do grupo, como uma arena para transformações. 

O OBJETO DE TRANSFORMAÇÃO
Se o grupo é potencialmente uma arena para transformações, o que está sendo transformado, o que envolve o processo de transformação e o qual é o seu valor? 

O primeiro destes questionamentos: "o que está sendo transformado" é talvez o mais fácil de responder. Para Bion, a origem da transformação: a coisa-em-si (última realidade ou '0') que não pode ser conhecida exceto pelo processo de transformação, é sempre a mesma. É experiência emocional. Nos escritos posteriores, Bion é corajoso ou bastante precipitado para reivindicar que todo o pensamento humano, qualquer que seja o campo, se origina na transformação da experiência emocional. Se a pessoa pensa em uma pintura, em uma canção, em um poema, em um romance, em um pedaço de cerâmica talvez, não é difícil de conceber isto como a tentativa do artista para formular, fazer presente e comunicar "através da cor e do desenho, por sucessões de tons ou de palavras, pela forma e textura do barro" uma experiência emocional presente nela. 

É importante, para o que direi depois, que este ato de se fazer presente não é (para Bion) um ato de simples representação. Representação sugere um modelo de algo a ser representado e algo pelo qual é representado, como se o pintor confrontasse uma experiência emocional como ele confronta o seu modelo: uma paisagem, uma babá.  Fazer-se presente não é assim porque, diferente de um objeto sensual, uma experiência emocional não pode ser vista, provada, cheirada, tocada. É um evento mental: um desconhecido 'x' ou uma coisa-em-si. O único acesso que temos a isto é através das transformações que nós fazemos ou executamos disto. 

Um colega meu, Colin Evans da Universidade de Gales, chamou minha atenção recentemente para uma citação de Salman Rushdie em Os Versos Satânicos. O trabalho do poeta, Rushdie escreve, é 'nomear o inominável, apontar as fraudes, tomar partido, lançar argumentos, amoldar o mundo'. Talvez haja algo de megalomaníaco; também algo bastante misterioso e presciente. Mas a primeira frase, 'nomear o inominável', é, eu penso, uma boa descrição do que é estar envolvido em uma experiência emocional, mesmo que reconheçamos que o nome e a coisa nomeada não sejam iguais. 

Quando olho uma pintura não vejo a experiência emocional que foi a origem do trabalho de Cezanne como um artista, por exemplo. Eu tenho uma experiência emocional e isso pode me levar a dizer: 'eu nunca entendi isto antes, como um objeto reflete e leva a presença de outro'. Ao extremo, esta experiência pode me conduzir a mudar minha vida na frente de uma grande obra de arte. Eu não só entendo ou sei algo novo, eu me torno algo novo. 

Mas reivindicando que todo o pensamento humano e esforço representa uma transformação da experiência emocional, Bion vai além destes exemplos bastante óbvios. Matemática, ele dirá, é uma transformação da experiência emocional pelo idioma do número; geometria pelo idioma das coordenadas do espaço. Em algumas das suas mais recentes discussões, Bion cita o paralelo entre descobertas astronômicas e descobertas em psicanálise. 

Eu estou familiarizado com uma teoria psicanalítica da mente humana que parece com a teoria astronômica do buraco negro até onde eu posso entender formulação astronômica. Por que um psicanalista deveria inventar uma teoria para explicar um fenômeno mental e, independentemente, os astrônomos elaborarem uma teoria semelhante sobre o que eles pensam sobre um buraco negro no espaço astronômico? O que está causando o que? Esta é uma peculiaridade da mente humana que projeta isto para o espaço, ou isto é algo real no espaço do qual deriva esta ideia de espaço na própria mente? 

Esta é uma pergunta que é improdutivo tentar responder. Ou para por isto de outro modo, a resposta é provavelmente e/ou: como um quadro de minha mão mostrando um lado de minha mão, e um quadro de minha mão mostrando o outro lado de minha mão. O desejo para nomear é uma tentativa para solucionar um mistério que precisa ser vivido e explorado. E este mistério tem a ver com a conexão do pensamento das realizações humanas, em um tempo e lugar particular e através das diferentes ciências ou artes, puras e aplicadas. 

Usando minha própria linguagem e de meus colegas de investigação no Instituto Grubb, o modo de pensamento e funcionamento de Bion, exemplificados aqui, fundamentalmente poderiam ser descritos como 'sistêmicos'. Ele está interessado no modo pelo qual algo em uma cultura, um contexto, se reproduz em formas diferentes, realizações diferentes, a partir de alguma raiz comum. E junto com este interesse vai uma consciência que tem a ver com a produção e procura de vínculos: entre uma pessoa e outra, entre o indivíduo e o grupo, entre uma palavra e o que é usado para expressar, entre físico e mental, consciente e inconsciente. E examinando estes vínculos, os experimentando dentro dele na sua prática como psicanalista, Bion se achou experimentando repetidas vezes, uma resistência para unir os extremos, que ele sentia, como um ataque em sua mente. 

TRANSFORMAÇÕES E RESISTÊNCIAS
Me deixe citar, novamente das recentes discussões, uma resposta que Bion deu a um psiquiatra a que estava expressando a sua perplexidade diante de uma 'especulação imaginativa' que Bion estava oferecendo sobre o desenvolvimento da personalidade durante a vida intra-uterina: "Meu chefe cirúrgico, quando eu era um estudante médico, era Wilfred Trotter que escreveu Os Instintos do Rebanho na Paz e na Guerra. Ele chamou a atenção para algo que parece existir. Por exemplo, tome um grupo como este: Nós temos uma combinação de sabedoria que torna insignificante o pouco que cada um de nós sabe, mas por analogia nós somos como células individuais, no domínio que é limitado por nossas peles. Eu penso que há algo pelo qual esta combinação de sabedoria se faz sentir ao mesmo tempo por um grande número de pessoas. Nós gostamos de pensar que nossas ideias são nossa propriedade pessoal, mas a menos que nós possamos fazer nossa contribuição disponível para o resto do grupo não há chance de mobilizar a sabedoria coletiva do grupo que poderia conduzir para avançar no seu desenvolvimento. Há certas pessoas altamente inteligentes que não podem tolerar o bombardeio perpétuo de pensamentos, sentimentos e ideias que vêm de todos os lados, inclusive delas mesmas. Assim elas cancelam a assinatura dos jornais; retiram o número da lista de telefones, puxam as cortinas e tentam até onde possível, alcançar o tipo de situação na qual elas fiquem livres de impacto adicional. Assim a comunidade perde a contribuição que o indivíduo pode fazer e o indivíduo morre mentalmente da mesma forma que certas células na necrose do corpo." 

O corpo tem a inteligência para resistir a uma invasão de corpos estranhos como bactérias e mobiliza fagócitos para lidar com os objetos invasores. É possível que possamos nos organizar em comunidades, em instituições para se defender contra a invasão de ideias que vêm do espaço exterior, e também do espaço interno? O indivíduo tem medo de permitir a existência de imaginações especulativas até mesmo dele próprio; ele tem medo do que aconteceria se qualquer pessoa notasse estas especulações imaginativas e tentasse livrar-se de uma influência perturbadora. 

Esta resposta contém a síntese da visão altamente paradoxal de Bion de grupos e experiências em grupos. Disto eu quero tirar três implicações: Primeira, a resposta torna claro que, para Bion, indivíduo e grupo são necessários para o progresso e desenvolvimento de cada um. Não é justo que as ideias de um indivíduo, para entrar no domínio público, precisem de um grupo que possa contê-las e trabalhar com elas, sem destruir ou roubar sua vitalidade, seu poder para perturbar, destruam-se no processo. O grupo encarna uma sabedoria coletiva, uma multiplicidade de recursos, centros de consciência que podem alimentar, somar e preencher o que qualquer indivíduo tenha comunicado. (Isto é o que eu tenho em mente falando do grupo como uma arena para transformações).
Mas, segundo esta resposta também torna claro que o grupo, organizado como uma comunidade ou uma instituição, resiste às mesmas oportunidades para transformação que sua própria desenvoltura provê. Além disso, cada indivíduo toma parte nesta resistência. E Bion deixa claro que esta resistência não é só de um membro do grupo.  A resistência no grupo ressoa com a resistência do indivíduo, sob do disfarce de proteger algo sentido como pessoal e pertencente a si mesmo: minha ideia, minha experiência, meu pensamento. 

É comum em conferências de relações de grupo que o consultor ou um membro do grupo chame a atenção para o uso de 'nós', como uma representação de uma ideia do grupo como algo monolítico.  É um pouco menos comum chamar a atenção para o uso do 'eu'.  Ainda que ambos os usos, 'nós' e 'eu', frequentemente sirvam ao mesmo propósito, bloquear conhecimento adicional, fixar limites para a união, preservar um limite que é sentido como ameaça através de intromissões de alguém ou outro lugar.  Se uma ideia, uma experiência, um pensamento, um sentimento, pertence a nós ou então a mim, podemos sentir que nós ou eu está sob nosso ou meu controle.  É algo que nós ou eu possuímos, e então nós ou eu podemos desconhecer.  Mas suponha que não pertença a nós nem a mim.  Nós ou eu não sabemos o que acontecerá, para onde conduzirá, se germinará em um pássaro ou um monstro, se nos dará vida nova ou nos matará. 

É esta possibilidade que dá tal ressonância e durabilidade aos mitos de Prometheus, Fausto e Frankenstein, do Jardim do Eden e a Torre de Babel. 

Nada está protegido de pensamentos. Só mentiras estão seguras até que o pensamento venha. Ou, pondo isto nas condições de Bion, mais exatamente, os únicos pensamentos que estão seguros são os pensamentos para os quais um pensador é absolutamente essencial; e os únicos pensamentos para os quais um pensador é absolutamente essencial são as mentiras. Consequentemente o dictum feliz de Bion afirma que a suposição tácita de Descartes que pensamentos pressupõem um pensador, só é válida para a mentira. 

O que é uma mentira? Bion põe isto assim: uma mentira é uma formulação conhecida pelo iniciador como falsa, mas mantida como uma barreira contra declarações que conduziriam, caso contrário, a uma transformação psicológica ou emocional. O motim emocional contra o qual a mentira é mobilizada é uma 'mudança catastrófica': isto é, uma mudança que ameaça a psique, a experiência da pessoa e sua estima, ou, como Bion diz, 'afronta o seu sistema moral’. Tais formulações são familiares em grupos e organizações, na relação de uma pessoa com outra ou para consigo mesmo. 

Isto me conduz à terceira implicação da resposta de Bion. A fonte do paradoxo que o grupo, assim como o indivíduo, simultaneamente provê que a oportunidade para e as forças da resistência para a transformação, serão achadas na incerteza, na dúvida, no não saber, que é a definição característica da formação de um pensamento. Ou talvez seria melhor dizer, da consciência da experiência emocional que, se podemos tolerar a frustração do não saber, pode prover o solo no qual um pensamento possa aparecer. O cerne deste não saber, que paira no ar, como um pensamento, é o medo da mudança catastrófica. 

PENSAMENTOS E O GRUPO
O que tem isto a ver com entender nossas experiências cotidianas em grupos, não só em grupos de conferências de relações de grupo, mas qualquer grupo: uma sociedade, uma organização, uma família, uma tribo, uma associação voluntária? Algum tempo e algumas circunstâncias, talvez não muito. Eu penso que podemos exagerar frequentemente até que ponto o trabalho do mundo, o trabalho que todos nós fazemos, pede esforço mental contínuo, um encontro com o desconhecido. Nós podemos sobreviver com hábitos, costumes, truques inteligentes de nosso comércio, nossa inteligência nativa, contanto as circunstâncias não mudam muito, externamente ou interiormente.  Nós somos ocupados. Nós estamos tendo que ser inteligentes, adaptáveis, sabidos. Nós necessariamente não estamos tendo que pensar. 

Mas claro que as circunstâncias mudam, dentro e fora. Um ambiente amigável a nossas atividades e interesses fica não amigável. Salman Rushdie escreve um livro. Líderes novos, faces novas, ideias novas são geradas. E nós mudamos. Costumes velhos envelhecem, os hábitos da inteligência parecem puídos. 

Em um tal contexto vital, que pode surgir dentro de um único grupo ou organização, mas que também pode infectar uma sociedade inteira, todos os fenômenos que eu aludi como o paradoxo essencial da vida do grupo, significando e ressignificando para forçar nossa atenção, podem incluir o seguinte: 

Primeiro, há uma consciência de experiência emocional no grupo, por parte de seus membros, separadamente e corporativamente, que é não focado e intocável, que pode não ser possível pôr em palavras e pode se mostrar em comportamento que os psicanalistas se referem como 'acting out'. Esta experiência pode ser composta de sentimentos de excitação, expectativa, desespero, perda de controle ou vacuidade.
Um modelo para iluminar este estado, Bion sugere, é o fenômeno do nascimento: Eu suspeito que há alguma contrapartida do termo 'nascimento de uma ideia': que há alguma razão para imaginar que estão relacionadas estas experiências dolorosas que temos no processo de dar à luz a uma ideia ou para fazer uma conexão, que é uma instância de pensamento. Uma instituição, uma sociedade de seres humanos, pode estar impossibilitada de sobreviver ao nascimento de uma ideia. Nós somos, indubitavelmente, descuidados com nossa obstetrícia psicológica. Nós parecemos sentir que a coisa a fazer com uma ideia recém-nascida é dar uma beijoca. 

Muito de meu próprio e do trabalho de meus colegas no Instituto Grubb não leva a forma de funcionamento com grupos ou organizações, mas com representantes individuais, frequentemente gerentes seniores ou líderes, usando um método de consulta individual descrito por Bruce Reed como 'Análise do Papel Organizacional'. Como uma organização de pesquisa social aplicada, nossa meta particular é descrita como: identificar, interpretar e trabalhar os pontos de pressão da organização e através da análise profissional e práticas gerenciais, permitir aos clientes alcançar seus objetivos institucionais. 

Assim nós estamos profissionalmente voltados para trabalhar nessas situações onde o tipo de fenômeno que eu estou buscando descrever, é provável acontecer. 

Às vezes um cliente que nos procura aparentemente sabe exatamente qual é o problema, ou exatamente o que ele quer saber, ou exatamente o que ele quer que você faça sobre isto, que envolve frequentemente fazer algo para ou com alguém. É como se tudo o que cliente requer é que outra pessoa assuma um trabalho particular que ele ou a organização não se sente competente bastante para fazer por si próprio. O interesse dele está em empregá-lo como um técnico e explorar suas perícias. Também pode haver todos os tipos de outras motivações ou considerações.  Dada nossa meta, como um Instituto, estas situações podem precisar de ser ordenadas antes de qualquer decisão.  Um cliente que conhece exatamente o problema ou o que ele quer que você faça sobre isto não está no reino dos 'pensamentos' e provavelmente não dará boas-vindas a isto se você estiver. Ele está procurando confirmação das ideias mais prováveis que ele já sabe, ou técnicas à mão ou truques para alcançar o que ele quer alcançar. 

Como a pessoa explora a situação com o cliente, pode começar a sentir que ele está no território que eu me referi antes como o da 'mentira': quer dizer, a declaração do 'problema' é conhecida como sendo insatisfatória ou falsa, mas é assegurada porque não fazer isso provocaria algum motim na organização como um todo ou na própria percepção do cliente a respeito do seu papel. O que acontece então dependerá do juízo que o consultor faz a respeito dele ou da capacidade do cliente em confrontar e trabalhar com esta possibilidade. 

Mas um cliente também pode vir bastante incerto de qual é o real problema; que conta uma história que o deixa confuso e caótico como ele, que está sofrendo uma sensação de frustração, de turbulência dentro e fora da organização. Tal cliente, nas condições que estou usando, está anunciando que pode estar na presença do 'nascimento de uma ideia': algo esperando ser formulado no ato da exploração e interpretação entre você e ele. 

Segundo, a consciência de desfocar a experiência emocional no grupo (ou representante do grupo) é acompanhada e pode ser escondida por outros elementos que resistem a isto. Um exemplo é a afirmação de limites como barreiras, ou ao redor do indivíduo ou do grupo, pelo uso de nomear como uma defesa. Eu me referi a isto anteriormente, falando sobre os modos nos quais os pronomes 'Eu' e 'Nós' podem ser desdobrados para prevenir o reconhecimento do fato que a experiência nova é justamente uma experiência que põe em questão o significado a ser dado a estes nomes. 'Eu', 'Nós' não estiveram aqui antes. A abertura para o presente da experiência emocional aqui e agora, significa meios que estão abertos à evolução de 'Eu', 'Nós' e a relação entre eles. O uso insistente de 'Eu' / 'Nós', trai a presença do 'não-Eu', 'não Nós' que já está dentro de mim/de nós e espera nascer. 

Tal uso defensivo de nomear pode aparecer em muitas outras formas. Recentemente estávamos envolvidos em muito trabalho com escolas, em particular com grupos de cargos superiores. Escolas são organizações que enfrentam grande turbulência atualmente, dentro e fora. Esta turbulência não tem só a ver com a interferência governamental contínua e a legislação. Também há consciência de algo na sociedade que desafia e questiona sobre o significado das escolas, da educação e treinamento, ensino e aprendizagem, em nosso ambiente presente.  Em nossa experiência, muitos professores, em muitas escolas, têm a coragem para enfrentar esta turbulência, para sofrer a incerteza dentro deles e de suas instituições e trabalhar com isto. Mas há também, às vezes, a tendência de resistir muito poderosa. Isto emerge frequentemente em uma preocupação defensiva com e no uso de valores, ou na afirmação de uma certa concepção da profissão pedagógica que é projetada para circunscrever o que pode e não pode ser entretido como um pensamento. 'Valores' e 'profissão' são chamados como se eles fossem nomes cujo significado já é conhecido e determinado, em lugar de hipóteses, cujo significado aqui e agora sempre é aberto à exploração e à evolução. 

Há um vínculo entre este uso da defensiva de nomes e a mentira (no sentido técnico no qual eu tentei desdobrar isto).  Ambos são frequentemente parte, aberta ou veladamente, de uma preocupação com a moralidade: o que deve ou não deve ser, contra o que é e o que não é. 

Meu colega John Bazalgette conta uma história adorável de uma menina que foi solicitada a escrever uma pequena revisão de um livro sobre pinguins. O que ela escreveu foi: 'este livro me conta mais sobre pinguins do que eu quero saber'. É o medo de que aprender mais do que a pessoa quer saber que contribui tão poderosamente à mentira.  Atrás deste medo espreita uma convicção primitiva que as únicas notícias boas não são nenhuma notícia, ou pelo menos notícias de ontem. E atrás deste medo, sugere Bion, está a culpa persecutória de que a ideia é o combustível do pecado original. 

No último volume da sua psicanalítica autobiografia, Bion se refere à culpabilidade, pela boca de ' PA', como: Um dos fundamentos, uma das suposições básicas.... O crime (racional, lógico) e o sentimento de culpa são parceiros naturais. É uma forma pela qual a justiça, moralidade e ingenuidade intelectual pode ser dedicada por tão longo tempo para poupar tempo e energia. 

Eu não sei se usando o termo 'suposição' básica aqui, Bion pretendeu com isto as associações que cercam seu uso técnico em Experiências em Grupos. Até onde eu sei ninguém explorou esta possibilidade no contexto de relações de grupo. Se culpabilidade é uma suposição básica na mentalidade do grupo, então talvez a instituição da lei em sociedade pode ser vista como representando a resposta de um 'grupo especializado de trabalho' para lidar com as emoções associadas com a culpa. 

A MOBILIZAÇÃO DAS SUPOSIÇÕES BÁSICAS
Esta referência às suposições básicas introduz um terceiro jogo de fenômenos através dos quais, em um contexto vital, os paradoxos essenciais da força de vida de grupo chamam nossa atenção, isto é, a mobilização de atividade de suposição básica: dependência, pareamento e luta/fuga. 

Eu ainda não disse nada em detalhes sobre estas suposições. Não porque eu pense que elas não sejam importantes, mas porque eu penso que este território é muito bem explorado, particularmente em trabalhos de relações de grupo, que pode obscurecer ou pode chamar nossa atenção para longe de outros fenômenos de grupo.  Nós precisamos ir além das 'suposições básicas', se esquecer delas para poder redescobri-las e as fazer novas, se elas retêm vitalidade conceitual e relevância. 

Eu não penso que é necessariamente correto dizer que as suposições básicas são defesas de grupo. Bion as vê como inerentes à toda atividade de grupo em Experiências em Grupos. Elas correspondem a três do que ele descreveu como as quatro situações básicas para as quais as direções emocionais primárias correspondem: 'nascimento, dependência, pareamento e guerra'. Mas, na constelação que estou buscando descrever, penso que a mobilização de suposições básicas, as formas particulares que levam e as ocasiões nas quais elas se forçam na atenção da pessoa, tem uma função defensiva. Elas estão atentas, por parte do grupo, para se pôr além do encontro com o desconhecido, além do reino do pensamento, de nomes e de mentiras: achar uma solução mágica para o dilema existencial do grupo e de todos seus membros. 

O que eu penso sobre todos nós que trabalhamos com relações de grupo não é sempre muito bom ou afinado para assistir e/ou caracterizar este dilema. Porque acreditamos que as suposições básicas são onipresentes, não temos nenhum cuidado para notar quando, e considerar por que, elas obstruem nossa experiência. 

RÉ-EMOLDURANDO O 'GRUPO DE TRABALHO'
Eu me referi ao fenômeno, dentro do contexto que eu estou descrevendo, que representam modos de resistir ou escapar da reunião com o desconhecido. 

Mas também há fenômenos que representam modos de ida para conhecer o desconhecido. E aqui nós estamos no território de atividade do grupo de trabalho. Eu suspeito que os praticantes de relações de grupo realmente não começaram a fazer mais que arranhar conceitualmente a superfície deste fenômeno, entretanto a prática pode ser feita com antecedência da teoria. É muito fácil abrigar tudo atrás da idéia crua, simples do grupo de trabalho como o grupo que se encontra para executar uma tarefa pública. 

A dificuldade está nos contextos que eu estou falando, ou, na reunião com o desconhecido, a própria tarefa pública pode ser problemática. Isto é por que eu penso que pode ser útil pensar em grupo de trabalho que não só funciona pelo conceito de tarefa pública e todos seus vários derivados, mas também pela idéia a que eu me referi no princípio, do grupo de trabalho como uma arena para transformações. Eu não quero reivindicar que esta ideia corresponde a uma realidade observável clara do funcionamento do grupo. Estou usando isto (no termo de Bion) como uma preconcepção para a qual uma realização pode ser encontrada que dará à luz a uma concepção.
Mas eu penso que a pessoa pode descobrir elementos de tal realidade no aparecimento de imagem, de sonhos, de mitos, dentro de um grupo e na capacidade para o que Barry Palmer e Colin Evans chamaram 'jogar sério'. Ou nesses momentos em um grupo, que pode estar mais presente nos grupos da vida cotidiana do que nos grupos temporários que criamos nas conferências de relações de grupo, quando as pessoas podem associar o material de outros sem uma preocupação irritável com a propriedade e sem o recurso para uma ideia prescritiva de 'relevância'. 

Recentemente, Gordon Lawrence buscou explorar esta área em uma série de conferências em 'Sonho Social'.  É interessante a mim que, descrevendo a atividade ele está tendo a intenção de emoldurar, Lawrence evita uso do termo 'grupo', preferindo falar de uma 'matriz', definida como um lugar 'fora da qual algo se desenvolve'. Parte da razão disto, mencionando novamente, pode derivar da sensação de Lawrence que as sociedades industriais avançadas estão experimentando mudanças cumulativas que podem ser interpretadas como o começo do fim dessas sociedades como elas foram conhecidas no passado e o começo de sociedades que podem ter que ser 'inventadas'. É como se, para criar a possibilidade de explorar aquele tema, a pessoa precisa inventar uma forma nova em troca para a exploração livre das associações que giram ao redor dos conceitos de 'grupo', ou 'grupo de trabalho' como estes tenham sido até então empregados. 

TRANSFORMAÇÕES EM INSTITUIÇÕES: A TENSÃO ESSENCIAL
A inovação de Lawrence, simultaneamente metodológica e institucional, ilustra, mas também evita uma última parte do pensamento de Bion a qual eu desejo comentar. Ao longo da sua vida, Bion teve uma suspeita profunda e desconfiança da vida institucional. Em vários dos seus mais recentes seminários ele se refere deste modo às instituições: "A dificuldade sobre todas as instituições, o Instituto Tavistock e todas que temos, é que elas estão mortas, mas as pessoas dentro delas não, e as pessoas crescem e algo vai acontecer. O que normalmente acontece é que as instituições (sociedades, nações, estados e assim sucessivamente) fazem leis. As leis originais constituem uma concha, e então novas leis ampliam aquela concha. Se fosse uma prisão material, você poderia esperar que as paredes da prisão fossem elásticas de algum modo. Se as organizações não fazem nada, elas desenvolvem uma concha dura, e então a expansão não pode acontecer porque a organização se prendeu." 

Organizações se prendem quando estão impossibilitadas de apreender a ideia nova: se vem de dentro ou de fora ou pelos poros da sensibilidade das pessoas para a presença do desconhecido. Mas nós podemos perder facilmente a visão do fato que qualquer ideia nova requer alguma anfitriã pela qual não só é disseminada, mas também é tornada disponível para o uso ao longo da comunidade ou sociedade ou grupo. Ideias são precárias: elas necessariamente não emergem completamente formadas ou são completamente compreendidas. Elas podem ser os produtos de gênio ou do flash de gênio que todos nós somos capazes em algum tempo. Elas precisam de assimilação, digestão, tradução e, às vezes, negócio doloroso, paciente de reflexão, teste, confirmação. 

Em Atenção e Interpretação Bion soletra um modelo de 'grupo institucionalizado de trabalho' como essencial para o desenvolvimento da ideia nova, o trabalho do gênio, o místico. Pelo aparecimento da função do Estabelecimento, e a elaboração consequente de regras, de treinamento e critérios para qualificação, o grupo de trabalho institucionalizado cria uma acomodação psicológica e emocional a ser feita à realidade que um gênio mata, um flash de gênio enfraquece. Esta função provê alguma proteção contra a onipotência e a tendência para confundir a ideia consigo mesma, como se a pessoa possuísse isto em lugar de realizá-la. 

O fato de que o trabalho do mundo tem que ser feito por pessoas ordinárias faz este trabalho de cientificação, ou vulgarização, ou simplificação, ou comunicação ou tudo junto, imperativo. Não há suficientes místicos para ir em volta e esses que há não devem ser desperdiçados. 

Se eu pudesse pôr este ponto de um modo mais mundano, está fora da tensão entre a ideia nova e seu recipiente: seja um grupo, uma organização, uma sociedade, uma mente individual (ou realmente uma palavra, ou uma forma de arte) que o desenvolvimento acontece, ou reciprocamente não acontece. Sem aquela tensão você produziria nada ou quando muito, ostentação.
Se as transformações criam resistências, elas também requerem isto. É a relação entre as duas que é produtiva ou destrutiva, não em si próprias. A tensão ou os paradoxos que eu tenho chamado de intrínsecas à toda a experiência em grupos e as suas formas institucionalizadas é uma 'tensão essencial'. E esta é a última área na qual eu penso que todos os que estão envolvidos em trabalhos de relações de grupo poderiam aprender algo do pensamento de Bion estando alerta à fenomenologia desta relação e para os sinais de sua presença. 

EM CONCLUSÃO
Quando eu tive a intenção de preparar esta conferência, eu pensei que eu soubesse o que eu queria dizer bem claramente. Eu tinha lido muito do trabalho de Bion, e vivi por muitos anos com isto. Eu tinha falado frequentemente sobre isto a meus colegas no Instituto e sentia que tinha experimentado vínculos entre isto e minha própria experiência e tinha praticado coordenando grupos e em trabalhos de consultoria e de pesquisa. 

Enfrentado com uma folha de papel em branco, minha mente assumiu aquela brancura, e eu me senti bastante assustado. Talvez o "imperador estivesse nu". Fui tentado (e não resisti a isto bastante) voltar inúmeras vezes para os textos, a bíblia de Bion, e beliscar qualquer roupa que eu achasse lá. Duas semanas antes um colega me perguntou qual seria o tema principal da conferência. Eu murmurei algo incoerente e me senti sendo perseguido.  Levou uma quantia irregular de tempo para ver que não havia 'nenhum casaco'. Se eu pudesse só me permitir não experimentar o "branco" como uma perseguição mas como um espaço no qual o pensamento já estava então talvez eu começasse a descobrir o que eu poderia dizer.  Talvez. 
Este estado de mente na presença do pensamento intocado, a coisa nenhuma que espera ser descoberta e formulada pela elaboração e jogada com o pré-verbal e imagens verbais, com sonhos, mitos, preconceitos, Bion se referiu e usou uma frase de John Keats em uma carta para seus dois irmãos, como 'capacidade negativa’: "Eu não tive uma disputa mas uma discussão com Dilke em vários assuntos; várias coisas encaixaram em minha mente e imediatamente me golpearam que a qualidade para formar a realização de um homem em Literatura na qual Shakespeare possuiu tão enormemente, eu significo como Capacidade Negativa que é quando um homem é capaz de ser em incertezas, mistérios, dúvidas sem qualquer irritação." 

Para a maioria de nós este estado da mente que Bion acreditava estava no coração da prática da percepção psicanalítica nos indivíduos e grupos, e é extraordinariamente difícil de alcançar. Mas sempre é tentador, até mesmo se nós tivermos que ficar contentes, geralmente, em andar nos passos de outros.
 


O Estudo de Comportamento de Grupo Durante Quatro Décadas

DURANTE QUATRO DÉCADAS
Alvin Zander
Journal of Applied Behavioral Science, NTL Institute for Applied Behavioral Science, 15(3), 1979
(Traduzido por Mauro Nogueira de Oliveira)

Sem muita preocupação, há aproximadamente 40 anos, alguns estudantes do comportamento humano desenvolveram um interesse em saber como os grupos administram suas atividades.  Este aumento de atenção entre estudiosos era evidente no número e conteúdo de publicações, na criação de uma cadeia de comunicações e em um desejo zeloso de alguns indivíduos, desta cadeia, em melhorar grupos ineficazes sem que qualquer um soubesse como poderiam ser feitos tais melhoramentos.  Os cidadãos atraídos para pesquisar grupos, alguns declararam abertamente, esperavam que os produtos desta pesquisa proveriam, finalmente, respostas para sérios problemas do governo e das relações sociais.

Durante as décadas subsequentes o crescimento rápido neste período inicial, foi substituído por um movimento mais lento e para um exame mais profundo de tópicos particulares, pois estes estudiosos se interessaram em treinar os membros dos grupos e se afastaram, a maior parte, dos campus das faculdades, ou pelo menos de investigadores, estimulando grupos em situações naturais e laboratórios de treinamento.  Neste artigo nós revisamos algumas das características principais na história da pesquisa em comportamento de grupo, fazendo um comentário sobre as atividades de treinamento que tiveram um impacto em investigações empíricas.

ANTES DE 1940
Antes de 1935 tinha havido pequeno esforço científico para entender processos de grupos.  Pesquisas tinham sido transformadas em riso nas audiências assim como as características de personalidade dos pesquisadores, mas o único trabalho perto dos estudos atuais de vida de grupo continuava sendo como os grupos e indivíduos resolviam problemas, um tópico que permanece de interesse até hoje.  A carência de investigações em atividades de grupos não é surpreendente quando recordamos que os psicólogos dos anos trinta dedicavam a maioria da sua atenção ao estudo da fisiologia, das habilidades motoras e aos processos cognitivos do indivíduo.  Psicólogos sociais ainda não tinham descoberto a sua identidade e os sociólogos, parte deles, ainda não estavam colecionando dados empíricos em grupos.

Na última metade dos anos trinta houve tentativas para explicar eventos dentro das organizações; vários desenvolvimentos notáveis em pesquisa sinalizaram este fato.  Trabalho em estrutura de grupo e atração entre membros (Moreno, 1934), a influência de normas de grupo nos membros (Sherif, 1936), o impacto de convicções compartilhadas nas atitudes políticas de estudantes de faculdade (Newcomb, 1943), e o efeito que a sociedade teve nos sentimentos de um grupo de trabalhadores de fábrica (Roethlisberger & Dickson, 1939), revelou que aspectos de comportamento coletivo, previamente de interesse para filósofos sociais, poderiam tornar-se úteis sob investigação científica.

A pesquisa mais influente foi, sem dúvida, no estudo emergente de comportamento de grupo, foi a de Lewin, Lippitt e White (1939).  As suas investigações de clima de grupo, conflitos intergrupos e estilos de liderança (autocrático, democrático e laissez-faire) fez uso, com modificações importantes, das técnicas disponíveis em psicologia experimental, observações controladas de comportamento e métodos de trabalho de grupo social.  O propósito deles era expor alguns dos modos nos quais o comportamento de líderes pode diferir e descobrir como métodos de influência de liderança afetavam as propriedades dos grupos e o comportamento dos membros.  Devemos notar que não era pretendido que estas investigações fizessem uma contribuição à tecnologia de administração de grupo per se.  Eles buscaram prover perspicácia na dinâmica subjacente de grupos.  Os métodos e resultados dos estudos sugeriram que pudesse ser possível construir um corpo coerente de conhecimento sobre a natureza da vida de grupo e eventualmente uma teoria geral de grupos.  Estes estudos tiveram uma originalidade e significância que produziram um impacto no mercado das ciências sociais e profissões.  Quase imediatamente, parceiros de Lewin, e outros, começaram projetos de pesquisa, a maioria deles em laboratórios experimentais, projetados para produzir informações pertinentes para uma teoria de dinâmica de grupo.  Os resultados deste trabalho formaram o núcleo de uma "massa crítica" que eventualmente fez esta especialidade distinta e aceita.

Foram assumidas as suposições de Lewin sobre as causas do comportamento humano particularmente ao estudo da vida de grupos, como ele assegurou que a maioria das variáveis que determinam comportamento em um determinado momento e lugar é existente naquela colocação.  Eventos passados e alguns no futuro seriam interpretados em termos de suas representações psicológicas atuais.  A ênfase de Lewin era nas forças e constrangimentos que surgem em situações conduzidas a uma concentração em pesquisa e treinamento no aqui-e-agora da vida do grupo.  Porque tais noções eram especialmente apropriadas, o desenvolvimento de teoria, predição e experimentação, ajudaram a gerar um estilo especial de investigação.

DURANTE 1940
Quando estas investigações estavam caminhando, os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial e a pesquisa em pequenos grupos foi realizada durante 5 anos.  Em 1946, Lewin e um grupo de estudantes, fundou o Centro de Pesquisa para Dinâmica de Grupo no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e em 1948 o Centro se mudou para A Universidade de Michigan depois da morte intempestiva de Lewin.

Pela pesquisa feita neste centro, e em meia dúzia de outros centros com propósitos semelhantes em vários países e em vários campus e laboratórios do governo, o conhecimento sobre a psicologia social de grupos entrou em um período de crescimento ativo.  Alguns dos tópicos estudados frequentemente nos anos quarenta eram: a pressão social sobre os membros de um grupo (Festinger, 1950), a direção e quantidade de comunicações entre membros (Bavelas, 1950), contrastes no comportamento dos membros em grupos cooperativos e grupos competitivos (Deutsch, 1949), as consequências de líderes de comunidade de treinamento (Lippitt, 1949), e os efeitos do poder social entre crianças (Lippitt, Polanski, Redl & Rosen, 1952).

Os conceitos e métodos nestas pesquisas eram radicais para a época.  Assim, os cientistas submergidos nestes esforços acharam útil se organizar informalmente para trabalhar para um fim comum.  Investigadores distantes um do outro criaram uma cadeia solta, trocando documentos e falando sobre as suas investigações em reuniões pequenas, conferências, visitas, etc.  A formação desta " faculdade " invisível de estudantes de grupos não era distinta das associações voluntárias, descritas por Griffith e Mullins (1972). Isso acontece ao longo da história da ciência sempre que um tópico notavelmente novo é levado por membros de uma determinada disciplina.  Muitos dos estudiosos de grupo acreditaram firmemente que a produção das suas pesquisas teria um impacto para melhorar os métodos democráticos, e os investigadores trabalharam conscientemente para tal fim.  Após o término da Segunda Guerra Mundial, era mais aceitável que aquelas pesquisas em comportamento humano teriam valor prático para a sociedade.

Cidadãos ordinários prestaram atenção considerável a esta pesquisa, e o estudo de processos de grupo recebeu tanto interesse na mídia como tinha recebido a recombinação do DNA, substâncias químicas tóxicas, tranquilizantes, ou os efeitos de computadores, em anos mais recentes.  A razão para a atração desta pesquisa naqueles tempos será detalhada em algum dia.  Porém, é possível adivinhar que a atração ao trabalho surgiu em parte porque todo o mundo estava preocupado o sobre o destino deste país após a Segunda Guerra Mundial e sobre o futuro da democracia como uma forma de governo.  Então, eles estavam propensos a dar boas-vindas ao trabalho de cientistas que poderiam aumentar nossa compreensão ou a dinâmica de governar e poderiam sugerir modos de melhorar os procedimentos.

Também, havia um medo difundido, durante os anos quarenta, das ditaduras que desenvolveram métodos irresistíveis para manipular as mentes ou homens.  Talvez poderíamos aprender a opor tal pressão através da pesquisa feita por estudantes de grupos.  Não menor era o interesse, até mesmo encantamento, nos métodos e resultados de experiências em pequenas sociedades no laboratório onde era mostrado que o comportamento contrastante de membros de grupo, debaixo de circunstâncias contrastantes, poderia ser previsto e explicado.  Os cidadãos haviam aprovado os cientistas da física que surgiram durante os anos quarenta porque estes tinham ajudado a ganhar a Segunda Guerra Mundial.  Talvez os cientistas sociais poderiam ser úteis em problemas de vida de grupo se eles recebessem determinado encorajamento formal e apoio.  Adequadamente, no final da década, o Escritório de Pesquisa Naval criou uma unidade para prover capitais para pesquisa em comportamento de grupo.

Um outro desenvolvimento nos anos quarenta é notável.  Em 1947 o Laboratório de Treinamento Nacional para Desenvolvimento de Grupo era organizado pela Divisão de Educação de Adultos da Associação de Educação Nacional, em cooperação com o Centro de Pesquisa para Dinâmica de Grupo.  Este era um seminário de três semanas assistido por profissionais de várias áreas que desejavam melhorar seu conhecimento de grupos e suas habilidades como membros e gerentes.  Porque havia uma provisão limitada de conhecimento disponível para os participantes deste tipo de laboratório, os professores confiaram em que os estudantes aprenderiam através das suas experiências em pequenos grupos de discussão.  Este procedimento encorajou conversa sobre os assuntos que os excitaram e estes se mostraram ser sentimentos pessoais, relações entre membros, diferenças de percepções e explicações para estas diferenças.  Tal interação centrada na pessoa, como nós veremos, foi de muito valor para o estudo de grupos. Uma conta destes desenvolvimentos é oferecida no livro Além das Palavras, de Kurt Back (1972).

Desde o princípio, os fundadores do National Training Laboratory tiveram ideias diferentes sobre os propósitos da unidade.  Alguns destes objetivos eram: ensinar dinâmica de grupo, ensinar aos consultores como facilitar mudança dentro de uma organização, ensinar aos membros da sociedade habilidades básicas, treinar os participantes nos métodos pedagógicos que são empregados no laboratório, e administrar pesquisa em comportamento de grupos.  Por causa destas visões distintas, as reuniões dos pesquisadores quando planejavam cada laboratório eram vivazes e estimulantes, para dizer o mínimo.  Não havia nenhum interesse inicial, deveríamos enfatizar, encorajando crescimento pessoal, saúde mental, ou sensibilidade para relações interpessoais.

DURANTE OS ANOS 1950
Na década de cinquenta, a pesquisa na psicologia social de grupos era altamente inovadora e a taxa de publicação mais que dobrou, de acordo com Hare (1976).  Autores de capítulos em pesquisa de grupo na Revista Anual de Psicologia publicada em 1951, 1953, 1954 e 1958 comentam que o estudo de grupos era um trabalho vivo e criativo em psicologia social e provia um enfoque para o campo inteiro.

Os tópicos para investigação já eram esses mencionados, mais: o fluxo de comunicação em grupos quando os membros têm graus diferentes de conexão entre eles, poder interpessoal para influenciar, as fontes de coalizões, e a natureza e consequências de relações equilibradas dentro de grupos.  Bales (1950) desenvolveu um método para observar e codificar comentários feitos por participantes em pequenos grupos de resolução de problemas.  O tratamento destes dados, foi chamado de análise do processo de interação, e revelou que tipo de observações (perguntas, sugestões, acordos etc.) era mais provável aparecer a cada fase dos esforços de um grupo de solução de problemas.  Este trabalho forma a base daquilo que os sociólogos chamam de estudo dos pequenos grupos (Hare, Borgata & Bales, 1955).  Porém, se concentrou nos atos e papéis individuais, e pouca atenção foi dada para o grupo como uma unidade.

As propriedades dos grupos, suas origens e consequências, contavam, neste tempo, uma meta para o estudo de dinâmica de grupo; muitos dos achados ou pesquisas focalizaram uma ou mais destas propriedades, como coesão, metas e liderança.  Um livro que resume resultados de pesquisa em dinâmica de grupo, organizado de acordo com tais títulos, foi publicado por Cartwright e Zander em 1953.
Embora a pessoa pudesse identificar um corpo coerente de conhecimentos dos resultados de pesquisa de grupo, havia ilhas de achados que não se ajustaram bem e estes resultados separados não foram incluídos em resumos do campo. Agências governamentais começaram a prover ajuda financeira para pesquisa de grupos: o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, o Instituto Nacional para Saúde Mental, partes do Departamento de Defesa, e (mais tarde) a Fundação de Ciência Nacional.  Além disso, não era difícil obter concessões para projetos promissores, de fundações privadas e firmas industriais.  Era um tempo vivaz, mas não bem organizado a ser envolvido no estudo de grupos.

Pelo meio desta década o Laboratório de Treinamento Nacional em Desenvolvimento de Grupo que já não tinha uma relação formal com o Centro de Pesquisa para Dinâmica de Grupo derrubou as palavras: "em Desenvolvimento de Grupo" de seu título, e se orientou para a independência da Associação de Educação Nacional. O NTL encorajou laboratórios em várias partes do país.  A mais proeminente destas filiais era a Universidade de Los Angeles, orientada por estudantes de teoria da personalidade, não psicologia social.  Estes professores nutriram uma ênfase em crescimento pessoal e relações interpessoais e usaram o grupo como um instrumento para o seu ensino, não como um assunto de instrução em si mesmo.  Eles colocaram mais ênfase em sentimentos pessoais e problemas que em cognições ou informação - assim o termo "treinamento de sensibilidade" era uma designação apropriada para o seu estilo de ensino.

Desenvolvimentos comparáveis estavam ocorrendo no laboratório original como o treinamento para enfatizar autoconsciência e melhoria pessoal em lugar de entendimento de propriedades de grupo.  Críticos surgiram, especialmente entre os psicólogos e profissionais de saúde mental.  Eles acreditavam que as atividades dos laboratórios geravam tensão nos participantes e que havia pequena evidência de que as atividades tivessem efeitos favoráveis naqueles que os experimentaram.  Os partidários do treinamento defenderam seus programas afirmando que eles estavam fazendo pesquisa e ensinando sobre comportamento de grupo, não promovendo aconselhamento para indivíduos.  Tinha ficado evidente, porém, que um laboratório de treinamento não era um lugar satisfatório para administrar pesquisa básica, como a coleta de dados frequentemente interferia com atividades pedagógicas e controles experimentais adequados, raramente poderiam ser desenvolvidos em um grupo de treinamento.

DURANTE OS ANOS 1960
Pelos anos sessenta, o estudo de comportamento de grupo tinha se tornado uma subdisciplina aceita em departamentos de Psicologia e em lugares para o estudo de Sociologia, Serviço Social, Saúde Pública, Educação e Administração.  Artigos técnicos nesta especialidade apareceram um pouco menos frequentemente do que eles fizeram na década anterior.  O número de publicações de pesquisa caiu de talvez 150 em um ano para 120, mas não conheço nenhuma conta precisa desta frequência.  Em contraste, ensaios no uso de grupos em educação, terapia e administração aumentaram em números.  Muitos dos que haviam estado fazendo pesquisas na psicologia social de grupos se moveram para outros interesses sem conexão com a vida dos grupos, e todos os centros estabelecidos para pesquisa em grupos, excluindo um no Michigan, fecharam pelo meio da década. Sherif (1977) e Steiner (1974) afirmam que aqueles muitos psicólogos sociais do estudo de grupos e outros fenômenos coletivos mudaram para o estudo de indivíduos durante os anos sessenta.

Se esta redução de interesse em grupos aconteceu de fato, por que isto aconteceu?  Várias razões podem ter contribuído.

1.  Pesquisa em grupos é mais difícil que pesquisa em indivíduos: quando o grupo (comparado aos indivíduos) é a unidade de estudo, muitos de vários assuntos são precisados, eles são mais difíceis de apropriar no número exigido no momento formal, os custos são mais altos, e o desenho, medida e análises são mais complicados e complexos.

2.  Conceitos sobre vida de grupo são frequentemente também muito desajeitados para usar, muito austeros para atrair interesse, ou muito complicados para testar com confiança.

3.  Resultados de pesquisa em grupos podem ser fracos e de difícil convencimento por que é difícil estabelecer regras quando se está medindo os comportamentos variados em um grupo.  Assim, muitos investigadores de grupo obtêm pequena satisfação dos seus esforços.

4. Um investigador pode obter mais ajuda da literatura atual quando estudando os indivíduos que quando estudando grupos.

5.  Capitais para o apoio de pesquisa social começaram a estar escassos nos anos sessenta e o estudo de grupos não se tornou atrativo para estes capitais.

Os fãs da dinâmica de grupo também encolheram em número durante os anos sessenta, assim como seus interesses movidos, junto com mudanças em assuntos sociais do tempo, para tópicos onde o estudo de grupos era nem tão longo nem tão crucial.  Alguns dos problemas da vida de grupo durante os anos sessenta e os anos setenta não estavam priorizados, além disso, isso estimulou teorias a respeito de como o grupo efetivamente administra seu negócio.  Ao contrário dos anos quarenta, era pretendido agora estudar as situações de grupo que provocam mudanças sob condições fora do grupo, ou seja: demonstrações, rompimentos e outras formas de confronto e combatividade, em lugar de pelo uso do processo democrático.  Não se pode observar esforços fáceis para criar mudança social, e assim a pesquisa em tais tópicos ocorria após ocorrido o fato.  Como resultado, não foram desenvolvidas teorias nestes assuntos.  "Guardas de grupo" podem ter notado, além disso, que os resultados de pesquisa em comportamento de grupo não tinham correspondido às expectativas principais seguradas para eles depois de Segunda Guerra Mundial - o mundo não tinha sido mudado.  Também, muitos dos melhores resultados conhecidos de pesquisa de grupo enfatizaram os efeitos ruins de grupos nos seus membros - uma visão que não despertou entusiasmo pelo estudo de comportamento de grupo.  Acompanhando esta troca de interesse entre não-cientistas, vimos uma dissolução gradual da cadeia que tinha sido formada entre estudiosos notáveis.  A redução de fervor ativista dentro desta cadeia, porém, não era só uma característica deste campo.  Griffith e Mullins (1972) observou que os mais prósperos, de associações informais entre cientistas, não duraram mais do que 10 a 15 anos, normalmente por causa de baixa vitalidade científica ou baixa distinção do trabalho dos membros e porque modismos mudaram entre partidários de pesquisa.  Estes autores acreditavam que uma cadeia tem que desenvolver uma teoria coerente para durar, e não houve desenvolvimento de coerência nas explicações de comportamento em grupos.

Os tópicos na moda para pesquisa em grupos durante estes 10 anos eram conformidade dos grupos sob pressão, relações interpessoais entre pares de pessoas com motivos diferentes (o dilema do prisioneiro), a "troca " arriscada e facilitações sociais.  Em 1967, Gerard e Miller comentaram na Revista Anual de Psicologia que a maioria do recente trabalho sobre grupos já trazia conclusões familiares.  Em parte, isto era verdade.

DURANTE OS ANOS 1970
Nos anos setenta, os principais tópicos de pesquisa eram ainda familiares.  Evidência para isto pode ser vista em uma conta de investigações de grupo durante 1975, 1976 e 1977 que eu preparei para A Revista Anual de Psicologia (1979).  Os tópicos frequentemente estudados durante os 3 anos eram: pressões sociais em grupos, as fontes (não as consequências) de coesão de grupo, e cooperação contra competição em grupos.  Menos popular, mas não menos familiar, era: liderança, estrutura de grupo e resolução de problemas em grupos.  Polarização de convicções entre os membros, e outros processos cognitivos em grupos, como interesse que recentemente atraiu investigadores para a pesquisa do tamanho do grupo e padrões de distância física entre os participantes.  Um bom grau de atividade, então, aconteceu em pesquisa, embora o número de agências e os dólares para apoiar o trabalho tenha diminuído nos anos 70 a muito menos que nos primórdios dos anos 60.  Psicólogos sociais começaram a se preocupar com a natureza e direção do seu campo e subcampos, inclusive comportamento de grupo (Ring, 1967; Steiner, 1974; Elms, 1975; Silverman, 1977).  Finalmente, o uso dos grupos para ajudar o "crescimento" pessoal de indivíduos se tornou grande negócio durante os anos setenta e provêm um serviço rápido para pessoas ansiosas que esperavam, durante os anos setenta, comprar conforto sem investir em terapia.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES GERAIS
Durante anos, desde que a pesquisa em grupos começou, várias características simbolizaram seus métodos.  A maioria das investigações foi de experiências controladas e uma boa proporção destas usaram um instrumento, um experimento, ou procedimento inventados por outra pessoa.  Parte da razão para esta dependência em métodos estabelecidos é que muitos estudantes de graduação e seus professores, não podiam obter capital para um programa de estudos, assim eles administraram experiências isoladas que tinham uma probabilidade alta de sucesso.

Apesar da preferência para o método experimental, houve surpreendentemente algumas ricas teorias em dinâmica de grupo.  Isto diz algo sobre a dificuldade de explicar eventos coletivos.  Nenhuma dúvida de muitas teorias foi descartada porque os resultados de obstinados pesquisadores não encontrariam apoio para testar as hipóteses desenvolvidas nas teorias; e revisões nestas ideias para ajustar ao momento atual não aconteceram em testes mais recentes.  Em outras ciências e em outros braços da psicologia, os estudiosos podem rever e ajustar suas previsões às ideias surgidas em um laboratório, observando fenômenos que os interessa.  Mas os investigadores de grupo raramente têm coletivos disponíveis. Realmente, o fenômeno que eles estudam não pode se assemelhar a nada que eles podem notar em um grupo natural.  Como resultado, teorias sobre grupos são muito frequentemente longas em lógica e pequenas em habilidades de pesquisa.

Como é verdade que em muitos outros campos, conceitos mais precoces na psicologia social de vida de grupo são substituídos gradualmente através de ideias mais novas e posteriormente são declarados um pouco mais ajustados que as noções originais.  Ilustração: trabalho no impacto de decisões de grupo gerou estudos de pressões sociais em grupos; demonstrações de estilo de liderança passaram a pesquisar o poder social; pesquisa na troca arriscada se tornou trabalho em origem das ideias polarizadas em discussão; e, investigações de competição intragupos desenvolveram modos de solucionar conflitos de intergrupos.  Embora nós podemos facilmente achar exemplos como esses citados, nos quais houve movimento para maior especificação de conceitos, a pesquisa em comportamento de grupo sofre de uma ausência de utilidade e bem claras noções primárias.  Exemplos de termos vagamente usados em pesquisa são: liderança, socialização e ambiente social.  Na ausência de precisões adequadas, ideias como estas não podem ser manipuladas em uma situação consistente no laboratório ou suas medidas validadas na conferência.  Talvez estudantes de grupos se beneficiariam com um retorno aos dias em que os estudiosos se preocuparam em como construir conceitos úteis; mas esta ideia não está pronta para ressurreição, temo eu.

Quando conceitos se tornam resultados mais válidos e comumente aceitos, novas pesquisas são integradas mais facilmente em um (crescendo) corpo de sabedoria.  Como as coisas estão agora, os investigadores de vida de grupo são notavelmente inventivos em criar novos termos para fenômenos que já tem um nome perfeitamente útil e criam confusão mais semântica do que necessidade.  Por exemplo, vários sinônimos existem para denotar: o desejo de um membro para permanecer em um grupo, as funções de liderança, os fins para os quais grupos se esforçam, e as dimensões da estrutura de grupo.  Além disso, termos diferentes são frequentemente usados para a mesma definição, e um determinado estudioso pode ignorar pesquisa feita sob uma perspectiva diferente daquela que ele prefere, embora os resultados da pesquisa sejam bastante pertinentes para o seu próprio interesse.  O que pode ser pior é ilustrado em um recente livro onde o poder interpessoal para influenciar é um tema primário.  O autor provê uma definição de poder social que não está em nenhuma parte próxima das definições usadas nos estudos de poder que ela resume completamente.  Assim, ela reúne dados para apoiar uma visão que os estudos não apoiam em nada.  Claramente, a incerteza de conceitos em comportamento de grupo pode conduzir a uma falta de precisão.
Um número relativamente limitado de tópicos foi explorado fora do número disponível para investigação.  Alguns exemplos de perguntas que têm gerado pequeno estudo considera a importância delas na vida das organizações: por que é tão difícil de expelir um membro de um grupo?  Por que grupos recrutam certas pessoas em lugar de outros?  Quais são as razões para o segredo sobre como uma rotina é praticada em organizações?  Por que um gerente moderno é conhecido por comportamento abrasivo pelos subordinados?  Por que grupos estabelecem metas difíceis?  Como os membros podem melhorar a eficiência de reuniões?  Como as organizações respondem a regulamentos que limitam as ações?  A pessoa pode pensar facilmente em outros assuntos que garantem estudo: mudanças nas propriedades de grupos com o  passar do tempo, por que os membros participam em um grupo, as fontes de conflito entre grupos, os efeitos contrastantes de centralizações e descentralizações em um grupo, as origens das metas de um grupo, as causas de produtividade em um grupo, ou os efeitos do ambiente social em um grupo.  Em um recente volume discuti vários destes assuntos com uma visão para pesquisa estimulante (Zander, 1977).

Por que tópicos maduros não são escolhidos para estudo?  Uma razão, já implícita, é que os investigadores estão ocupados planejando e administrando experiências em assuntos mais familiares; de fato, um investigador raramente se move para assuntos que são imensamente diferentes dos dele ou para áreas anteriores de seu interesse.  Outra razão é que um problema pode ser reconhecido amplamente como um candidato para pesquisa mas não é um tópico aceitável aos olhos de investigadores potenciais, esses que aconselham os investigadores, esses que editam diários, ou esses que provêm capitais para pesquisa.  O problema pode ser bem conhecido, mas deixe de lado porque não há nenhum dado básico no assunto, não podem ser feitas medidas fidedignas do fenômeno envolvido, os assuntos teóricos não são declarados claramente, ou o projeto é muito caro e vai despender muita energia.

Como é dito frequentemente, é verdade que nada é tão prático como uma boa teoria.  Tal teoria pode explicar as causas e esforços de um determinado evento em diferentes situações.  Através dos resultados de pesquisa, as pessoas discernem como melhor se ajudar porque elas identificam que condições conduzem a quais consequências, e por que.  A inovação da pesquisa em dinâmica de grupo esteve em um planalto durante alguns anos.  Não permanecerá neste nível por longo tempo se novas necessidades e novos meios estimularem novos desenvolvimentos entre os estudantes do comportamento de grupo.