Wilfred Bion (1897-1979)
Psicanalista inglês, nascido na Índia, que durante algum
tempo teve a coragem de discordar de Freud no tema liderança.
Freud dizia que o grupo é o reflexo de seu líder e Bion
mostrou que o líder é eleito pelo grupo.
Segundo Bion, em seu livro Experiências com Grupos (1961)
todo e qualquer grupo funciona, ao mesmo tempo, em dois níveis: um nível que
chamou de grupo de trabalho e onde estão as tarefas a serem realizadas pelo
grupo, e um outro que chamou de grupo de pressupostos básicos, onde estão as
emoções do grupo. Os dois níveis ocorrem simultaneamente.
O grupo se organiza para realizar uma tarefa e nesta
organização está presente a figura de um gestor, professor, coordenador,
supervisor, terapeuta, etc. que é visto pelo grupo como o responsável pela
realização da tarefa, por isso percebe e espera desta figura um conhecimento
das etapas da tarefa e em sua capacidade de fazer com que o grupo a execute. Ao
mesmo tempo, percebe e espera desta mesma figura, capacidade de compreensão, capacidade
de diálogo, disponibilidade para ouvir, e outras capacidades que representam o
reconhecimento das emoções.
Sempre que estes dois níveis estão satisfeitos, o grupo
experimenta uma sensação de bem-estar, de realização, com um alto índice de
coesão, e um forte espírito de grupo, de pertença. O grupo consegue criar um
espírito de grupo, que Bion entendia da seguinte forma:
- A existência de um propósito comum;
- Reconhecimento comum dos limites de cada membro, sua
posição e sua função em relação às unidade e grupos maiores;
- Distinção entre os subgrupos internos;
- Valorização dos membros individuais por suas contribuições
ao grupo;
- Liberdade de locomoção dos membros individuais dentro do
grupo;
- Capacidade de o grupo enfrentar descontentamentos dentro
de si e de ter meios de lidar com ele.
Quando esta figura que deveria ser a responsável pela
realização da tarefa é vista pelo grupo com falta de conhecimento, falta de
habilidade de planejamento, pouca visão sistêmica, etc. se, satisfaz o nível
emocional do grupo, este se organiza para suprir tais carências e manter a
realização da tarefa e manter esta figura pois ela satisfaz o nível emocional
do grupo. Isso dura um tempo não muito longo, pois sobrecarrega alguns membros
do grupo na realização da tarefa.
No entanto, quando esta figura não contribui para a
satisfação do nível emocional do grupo, os pressupostos básicos, em vez de
contribuírem como energia para a realização da tarefa, dispersam esta energia
na busca de satisfação emocional, e faz com que o grupo escolha um líder a
partir do pressuposto básico mais próximo da sua cultura. Quando isso acontece,
a forma que algumas figuras de autoridade encontram para manter o grupo em
atividade, é o surgimento do autoritarismo que, durante algum tempo, dará
resultado, mesmo que isso signifique queda na qualidade do resultado. E este
autoritarismo aparece como uma resposta ao boicote que começa a acontecer no
grupo.
E uma quarta situação onde o responsável pela realização da
tarefa não satisfaz o nível da tarefa, nem o nível emocional do grupo traz como
resultado sua exclusão do grupo por aqueles que o colocaram nesta posição.
Alguns preferem ficar com os aspectos teóricos da obra de
Bion, no entanto, a mim parece que a riqueza de seu trabalho está na dinâmica
grupal que conseguiu identificar. E esta dinâmica diz que o grupo precisa estar
com os seus dois níveis satisfeitos e caso isso não ocorra, surgirão processos
dentro do grupo indicando estar havendo uma insatisfação e esta insatisfação se
refletirá na execução da tarefa.
Conectado consigo mesmo, torna-se mais fácil abraçar os
desafios e aceitar as mudanças. Bion, costumava medir a maturidade de seus
pacientes pela tolerância que eles demonstravam frente a incertezas. Bion
costumava vir com frequência ao Brasil. O psicanalista Rubem Alves conta que,
antes de uma de suas palestras, uma pessoa da plateia comentou: “Doutor,
estamos muito curiosos para saber o que o senhor vai dizer”. Bion respondeu:
“Eu também”, ou seja, ele vivia a incerteza com prazer e excitação.
Mauro Nogueira de Oliveira
Janeiro 2018