28/12/2017

A biologia do amor de Humberto Maturana

A biologia do amor de Humberto Maturana

Ele é um cientista diferente dos demais: consegue ver o ser humano pelas lentes do amor,

pela biologia do sentimento

http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=105&secao=1846&mat=2128
Maturana: “É no amor que alcançamos o bem-estar e realizamos nossa condição humana” - Imagem: Rodrigo Fernandez/Wikimedia
Maturana: “É no amor que alcançamos o bem-estar e realizamos nossa condição humana” - Imagem: Rodrigo Fernandez/Wikimedia
Seria o neurobiólogo chileno Humberto Maturana, 88 anos, um ser mais evoluído, que veio de outro
planeta para renascer na Terra? Quem conhece algumas de suas obras mais famosas, como
“A Biologia do Amor”e “Á Árvore do Conhecimento”, sabe que há uma razão para fazermos essa
pergunta.
Maturana é um cientista diferente dos demais: consegue ver o ser humano pelas lentes do amor, pela
biologia do sentimento, enxergando-o em um sistema global de múltiplas interações. Há quem diga que
isso é impossível. Mas existe alguma barreira que o amor ou a influência da natureza em nossas vidas
não atravesse?
Nascido na capital, Santiago, Maturana é adepto do pensamento sistêmico, que defende uma visão
interdisciplinar, integrada e interdependente da realidade: o ser vivo, os objetos e o ambiente estão
em constante relação e devem ser estudados como um todo. Nessa abordagem, ciência, subjetividade,
espírito e, claro, o amor, caminham juntos.
Na orelha do livro “A Árvore do Conhecimento”, que escreveu junto com o também chileno Francisco
Varela, PhD em Biologia, há uma descrição que melhor representa a tese defendida por Maturana:
“Vivemos no mundo e por isso fazemos parte dele; vivemos com os outros seres vivos, e portanto,
compartilhamos com eles o processo vital. Construímos o mundo em que vivemos ao longo de nossas
vidas. Por sua vez, ele também nos constrói no decorrer dessa viagem comum. Assim, se vivemos e nos
comportamos de um modo que torna insatisfatória a nossa qualidade de vida, a responsabilidade cabe a
nós”.
E completa: “Nossa trajetória de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo – mas este também
constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito. Mesmo que de imediato não percebamos, somos
sempre influenciados e modificados pelo que experienciamos”. Ou seja: um ser só sobrevive em um
entorno que o receba.
Para o neurobiólogo, o amor tem papel fundamental nisso, porque faz o homem evoluir.  “O que guia o
fluxo do viver individual são as emoções e na constituição evolutiva também. É o emocionar que se
conserva de uma geração a outra”, disse. Crítico da propaganda e do consumo insustentável, que,
segundo ele, são um “estímulo à cobiça”, Maturana destaca que o amor está sempre associado à
sobrevivência.
“Numa de suas parábolas, Jesus fala do camponês lançando sementes ao solo. Algumas caem nas
pedras e são comidas pelas aves, outras caem num solo árido e resistem por pouco tempo. Mas há
aquelas que encontram boa terra e crescem vigorosas. Assim também nós precisamos de um solo
acolhedor para nos desenvolver. Nosso solo acolhedor é o amor.”
É o que você, caro leitor, confere nesta seleção de frases e pensamentos que a Ecológico apresenta a
seguir:

Biologia do amar

“A biologia do amar é o fundamento biológico do mover-se de um ser vivo, no prazer de estar onde está
na confiança de que é acolhido, seja pelas circunstâncias, seja por outros seres vivos. No caso dos seres
humanos, isto é central na relação do bebê com sua mãe, com seu pai, com seu entorno familiar, que o
vai permitir crescer como uma criança que vai ser um adulto que se respeita por si mesmo.”
“Se você observa a história de crianças que se transformam em seres, chamemos assim, antissociais,
vamos descobrir que sempre tem uma história da negação do amar, de ter sido criado na profunda
violação de sua identidade, na falta de respeito, na negação de seu ser.”

Emoções

“As emoções são centrais na evolução de todos os seres vivos, porque definem o curso de seus fazeres:
onde estão, para onde vão, onde buscam alimentos, onde se reproduzem, onde criam seus filhotes, onde
depositam seus ovos, etc. Bem, com os seres humanos ocorre exatamente a mesma coisa. O emocionar,
o fluxo das emoções, vai definindo o lugar em que vão acontecer as coisas que fazem no conviver.”
“Se uma pessoa se move, por exemplo, a partir da frustração, isso vai definir continuamente o espaço
relacional na qual se encontra e o curso que vai ter seu viver. Se vive a partir da confiança, vai seguir um
curso distinto. Assim, portanto, o que guia o fluxo do viver individual são as emoções, e na constituição
evolutiva também. É o emocionar que se conserva de uma geração a outra na aprendizagem das
crianças.”             
                  

Cobiça

“Toda a visão do comércio que se associa ao estímulo da cobiça é destruidora da democracia. Quando
Jesus disse ‘não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo, não se pode servir ao dinheiro e ao
amor’, aponta certamente isso. Mostra que servir ao dinheiro tem a ver com a cobiça. Por isso, o jovem
rico para entrar no Reino de Deus tem que desfazer-se de suas riquezas, abandonar seus apegos,
porque o Reino de Deus é, de fato, amar. É a democracia.”

Propaganda

“Toda a propaganda para transformar as crianças em consumidores é um estímulo para a cobiça.
Provavelmente estas crianças serão adultos que vão cobiçar, porque cresceram na busca da satisfação de
qualquer coisa que querem, sem ter consciência do que isto significa no espaço social, no espaço de
convivência, por exemplo, de seus pais, que não necessariamente podem comprar tudo o que os filhos
querem.”

Competição

“A criança, ao jogar, aprende um modo de viver cuja atenção não está nas consequências, mas na
responsabilidade do que faz. Claro que vão ter consequências, mas elas não são o ponto central, e
sim aquilo que a criança está fazendo ao jogar. Se alguém aprende isso pode colaborar, pode estudar,
pode fazer qualquer coisa com satisfação e com prazer.”
“A competição não é nem pode ser sadia, porque se constitui na negação do outro.”

Crianças

“Não traiam as crianças! Não prometa acolhê-las quando os vai desconsiderá-las. Não prometa que vai
levá-las para brincar quando vai ordená-las que se sentem e fiquem quietas. Porque o que um professor
faz, às vezes, sem se dar conta, é trair as crianças em função do que ele quer que elas façam. Por um
lado as acolhe, mas na realidade as distingue. As crianças sabem exatamente quando alguém promete
algo e não cumpre, e vivem isso como uma traição. Isso gera dor e produz sentimentos, por que é uma
negação de nossa condição amorosa.”

Convicções

“Tendemos a viver num mundo de certezas, de solidez perceptiva não contestada, em que nossas
convicções provam que as coisas são somente como as vemos e não existe alternativa para aquilo que
nos parece certo. Essa é nossa situação cotidiana, nossa condição cultural, nosso modo habitual de ser
humanos.”

Determinismo

“Quando nos encontramos com um advinho profissional, que nos promete com sua arte de predizer o
futuro, em geral experimentamos sentimentos contraditórios. Por um lado nos atrai a ideia de que alguém,
olhando para nossas mãos e baseando-se num determinismo para nós inescrutável, possa antecipar
nosso futuro. De outra parte, a ideia de sermos determinados, explicáveis e previsíveis nos parece
inaceitável. Gostamos do nosso livre-arbítrio e queremos estar além de qualquer determinismo.”

Certezas

“O conhecimento do conhecimento obriga. Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente vigília contra
a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade, como se o mundo
que cada um vê fosse o mundo e não um mundo que construímos juntamente com os outros.”

Planeta Terra

“O mundo sempre foi maravilhosamente acolhedor. Se assim não fosse, a história do ser humano não
teria acontecido. Um ser só sobrevive em um entorno que o receba. Caso contrário, torna-se negativo e
agressivo e não resiste. Apesar de vivermos um momento de negação do amor, só sobrevivemos porque essa emoção persiste nos vínculos que definem a vida em sociedade. É no amor que alcançamos o
bem-estar e realizamos nossa condição humana.”

Dor

“A dor nos faz perguntar. Apesar de difícil, é uma oportunidade única de transformação, assim como a
curiosidade, que não nos permite submissão aos padrões externos. Quando tropeçamos, dói o pé. Isso
faz pensar sobre o modo de andar, a atenção ao caminhar, os desafios do trajeto. A dor da alma também
ensina.”

Amor

“O ser humano não vive só. A história da humanidade mostra que o amor está sempre associado à
sobrevivência. Sobrevive na cooperação. Se a mãe não acolhe o bebê, ele perece. É o acolhimento que
permite a existência. Numa de suas parábolas, Jesus fala do camponês lançando sementes ao solo.
Algumas caem nas pedras e são comidas pelas aves, outras caem num solo árido e resistem por pouco
tempo. Mas há aquelas que encontram boa terra e crescem vigorosas. Assim também nós precisamos de
um solo acolhedor para nos desenvolver. Nosso solo acolhedor é o amor.”
“O amor nos dá a possibilidade de compartilhar a vida e o prazer de viver experiências com outras
pessoas. Essa dinâmica relacional está na origem da vida humana e determinou o surgimento da
linguagem, responsável pelos laços de comunicação e que inclui ações, emoções e sentimentos.”
“O amor, ou, se não quisermos usar uma palavra tão forte, a aceitação do outro junto a nós na
convivência, é o fundamento biológico do fenômeno social. Sem amor, sem aceitação do outro junto a nós,
não há socialização, e sem esta não há humanidade. Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do
outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o
do fenômeno social.”
“Amar é uma atitude em que se aceita o outro de forma incondicional e não se exige ou se espera nada
como recompensa. Amar implica ocupar-se do bem-estar do outro e do meio ambiente. Em vez de oferecer
instruções do que e como fazer, amar é respeitar o espaço do outro para que ele exista em plenitude.”

Kurt Lewin e a Teoria de Campo

Kurt Lewin e a Teoria de Campo: o nascimento da psicologia social

As idéias de Kurt Lewin foram a gênese da psicologia social e das organizações.


por Arturo Torres

Na história da psicologia, há poucas figuras tão importantes e influentes como Kurt Lewin.
Este pesquisador não foi apenas um dos promotores da psicologia da  Gestalt,mas também
é considerado o pai da  psicologia social e da  psicologia das organizações.

Kurt Lewin também foi o criador da Teoria de Campo, que serviu de base para o
desenvolvimento de pesquisas sobre dinâmicas de grupo, muito aplicáveis ​​no ambiente
organizacional e empresarial. Então, para entender seu legado, voltaremos aos anos em que
Kurt Lewin desenvolveu suas ideias.
Os primeiros anos
Kurt Lewin nasceu em 1890 em uma família judia que morava em Mogilno, uma cidade que pertencia naquele tempo ao reino da Prússia e agora faz parte da Polônia. Depois que ele e sua família se mudaram para Berlim, Kurt Lewin começou a
estudar medicina na Universidade de Freiburg, mas um pouco mais tarde mudou-se para
Munique para se formar em biologia. De volta a Berlim, e sem ter terminado seu treinamento,
ele se interessou mais por psicologia e filosofia, uma disciplina que ele começou a estudar em
1911. Naquela época, ele já havia começado a participar de iniciativas ligadas ao socialismo,
ao marxismo e à luta pelos direitos das mulheres, e acreditava que a psicologia aplicada
poderia ser útil na promoção de reformas a favor da igualdade.

Forjando a psicologia de Gestalt

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Kurt Lewin foi enviado à frente para servir na
artilharia. No entanto, foi imediatamente ferido, e permaneceu convalescente por vários dias.
Naquele momento, começou a fazer uma descrição do campo de batalha utilizando termos
topológicos que recordam aquilo que seria feito a partir da teoria do Gestalt, que na época
estava se preparando, e também lembrou a teoria topológica  que ele criaria mais tarde.
De volta a Berlim, além do doutorado em filosofia, Kurt Lewin começou a trabalhar no Instituto
de Psicologia de Berlim . Foi aqui que  entrou em contato com outros dois grandes
representantes da psicologia da Gestalt: Wolfgang Köhler e Max Wertheimer . O cruzamento
de ideias entre eles permitiu que  consolidassem as idéias pertencentes à corrente da
Gestalt e, ao mesmo tempo, serviram de terreno fértil para que o laboratório fosse um lugar
onde as novas promessas da psicologia européia fossem formadas, como Bluma Zeigarnik.

Kurt Lewin nos Estados Unidos

Em 1933, quando  Hitler e os nazistas chegaram ao poder, Kurt Lewin decidiu se mudar
imediatamente para outro país. Ele acabou emigrando para os Estados Unidos depois de
tentar, infrutiferamente, obter um cargo de professor universitário em Jerusalém e, graças aos
contatos de Wolfgang Köhler, conseguiu entrar para trabalhar na Universidade de Cornell
para depois se mudar para Iowa. Em 1944 foi nomeado Diretor do Group Dynamics
Research Center no MIT, Massachusetts.
Durante este tempo, Kurt Lewin trabalha especialmente em fenômenos sociais que têm a ver
com a interação social e investiga os efeitos da pressão social sobre os hábitos alimentares
das crianças e as dinâmicas de trabalho mais efetivas nas organizações. Portanto, as áreas
tocadas por Kurt Lewin foram muito além do que costumava ser associado ao repertório de
atividades de um psicólogo, seja da Gestalt ou de qualquer outra escola.
Quando Kurt Lewin morreu em 1947, ele já havia aberto uma porta que daria lugar ao
novo ramo da psicologia: psicologia social .

Teoria do campo de forças

Nos anos em que Kurt Lewin morou na América do Norte, o  behaviorismo era o paradigma
predominante nos Estados Unidos. Os behavioristas entendiam que o comportamento
humano é o resultado da forma como o ambiente influencia os indivíduos, mas Lewin c
começou a criar uma visão de psicologia muito diferente daquela. Ele, como os
representantes da Gestalt na Europa, entendia que as pessoas não são um simples agente
passivo que reage aos estímulos, mas age de acordo com a maneira como percebem
que eles interagem com o meio ambiente . A interação foi, então, o elemento fundamental
que Kurt Lewin incluiu em suas análises.
A Teoria de Campo é a maneira de capturar a ideia de que a psicologia não deve se
concentrar no estudo da pessoa e do meio ambiente, como se fossem duas peças a serem
analisadas separadamente, mas devemos ver o modo como elas se afetam em tempo real.
É por isso que Kurt Lewin trabalhou com categorias como "espaço de vida" ou "campo":
o interessante para ele era a dinâmica, as mudanças e não as imagens estáticas do que
acontece em cada momento, o que ele entendeu, só era útil para descrever o que acontece
em cada fase de um processo e não somente explicar.
Para descrever os processos de mudança, Kurt Lewin foi inspirado pelos estudos de física
e emprestou a ideia do campo de força . Para ele, o comportamento individual ou individual
pode ser entendido como um processo de mudança que leva de uma situação inicial a outra.
Assim, a Teoria de Campo de Lewin estabelece que o que acontece enquanto esse processo
de mudança ocorre passa dentro de um campo dinâmico no qual o estado de cada parte
deste campo de força afeta todos os outros.
As variáveis ​​mais importantes que atuam nos campos ou "espaços vitais" são, para Kurt
Lewin, a tensão,a força e a necessidade, graças às quais o comportamento tem um propósito.

Kurt Lewin e pesquisa-ação

Kurt Lewin entendeu que, como em um campo de forças, todas as partes se afetam, e para
entender o comportamento humano, devemos levar em consideração todas as variáveis ​​que
intervêm em tempo real nas ações de indivíduos e grupos , desde o espaço em que estão
à temperatura, à maneira como eles socializam entre eles, etc. Além disso, esses elementos
não podem ser analisados ​​isoladamente, mas devemos nos concentrar no estudo de suas
interações para ter uma visão holística do que acontece.
Mas isso leva a uma ideia de que na época era revolucionário: como o que é estudado não é
algo isolado, mas interação, não devemos ter medo de afetar o objeto de estudo como
pesquisadores. Além disso, intervir no campo de força nos permite introduzir dinâmicas que
nos ajudarão a entender os mecanismos que funcionam neste campo.

Em suma, de acordo com Kurt Lewin, a influência sobre essas dinâmicas ajuda a ter uma
imagem verdadeira do que acontece. Isso foi cristalizado em uma das frases mais famosas
deste psicólogo: para entender um sistema, você deve mudá-lo . Este é o princípio da
pesquisa-ação que Kurt Lewin propôs como um método efetivo para entender e melhorar a
dinâmica social.

26/12/2017

Kurt Lewin - O Pai da Moderna Psicologia Social

O pai da moderna psicologia social

por Robert Kleiner e Gerry Kane
11/02/2016
Kurt-Lewin1Se você digitar no google “Kurt Lewin Zadek”
(1890-1947), você vai aprender rapidamente que ele é muitas vezes referido como o pai da
psicologia social moderna.
Mudanças na psicologia social e como as pessoas se comunicam são de particular interesse
para os empresário profissionais e  que estão tentando atingir um público específico para um
produto ou um partido político. Os insights de Kurt Lewin, portanto, são especialmente
pertinentes para aqueles que usam sua “teoria de gestão de mudança” para dar forma e
explorar a mudança cultural. Mas como, apesar dos insights sobre negócios e marketing, ele
é qualificado, junto com outros judeus, como membro do panteão de esquerda?
Lewin era, na verdade, um judeu consciente de uma rica cultura secular e um homem de
esquerda que organizou manifestos contra a ameaça do fascismo na Alemanha e contou
com muitos socialistas alemães entre os seus amigos mais próximos. Em 1924/25, como um
dos fundadores da “Universidade Livre” de Berlim, Lewin convidou Albert Einstein para ser
um dos administradores,  o que o físico “de bom grado” aceitou. Quando a Sociedade de
Filosofia Empírica foi fundada em 1926 (também envolvendo Einstein), Lewin foi um dos
primeiros oradores convidados para discutir o seu trabalho em psicologia social.
Também incluído no círculo de amigos radicais de Lewin, o grande diretor de cinema soviético
judeu, Sergei Eisenstein. Na década de 1920, Lewin era conhecido por seus filmes que
mostravam o desenvolvimento das crianças em diferentes idades, com uma ênfase particular
sobre a sua experiência psicológica (ou cognitiva) e suas expressões faciais e corporais.
Eisenstein passou muitas horas com Lewin a discutir esses filmes, e foi influenciado por suas
idéias.
Lewin foi o primeiro membro da faculdade de psicologia, na Universidade de Berlim, a
demitir-se em protesto contra a ascensão do nazismo, em 1933. Percebendo que não havia
mais  lugar para ele na academia alemã, escolheu vir para a América, em vez de se
mudar para Palestina. Aqui, ele continuou a fazer contribuições para a psicologia que, ainda
hoje, são  vivas e vibrantes.
Quando Lewin morreu aos 57 anos, deixou um legado de oito livros e alguns oitenta
artigos. Ele viveu tempo suficiente para ver a destruição da cultura e comunidades da
Europa Oriental iídiche, bem como a queda do nazismo, mas não o suficiente para ver o
estabelecimento formal do Estado de Israel. Nem  viveu o suficiente para ver seu trabalho
pioneiro em psicologia social e dinâmica de grupo (ele cunhou a frase) se tornar uma pedra
de toque moderna entre as pessoas que procuram compreender e modelar o
comportamento social. Sua frase, “gestão da mudança” é hoje usada em empresas,
universidades, sindicatos, e muitas outras organizações e como  tentam fazer com que  
as pessoas se movam de forma construtiva, com um mínimo de atrito, através de um
processo de mudança institucional. Lewin compreendia o processo de mudança como
sendo contínuo.
O mundo judaico, em particular, foi de especial interesse para Lewin, uma vez que sofreu muitas mudanças, até mesmo mudanças de paradigmas, durante sua vida.
Ele nasceu em 1890 em Mogilno, na Polônia, em uma família sionista progressista. Seus
pais, entendendo o papel da criatividade no desenvolvimento das crianças, queriam mais,
para Kurt e seus irmãos, do que uma educação escolar e decidiram que a Alemanha oferecia
a seus filhos mais do que a Polônia. A família mudou-se para Berlim em 1905, e Kurt ficou
imerso na educação e na sociedade alemãs.
Lewin estava bem ciente das pressões exercidas sobre os judeus por decretos
governamentais de assimilação na Polônia e na Alemanha, e dos muitos grupos que
tentavam separar os judeus de seu judaísmo. Escreveu sobre estas questões, e observou
que uma criança,, na Polônia, vivia dentro de pelo menos três situações de sobreposição
conflitantes simultaneamente: 1) pressões do governo de ocupação prussiana sobre os
judeus (e não-judeus) para germanizar e desistir de sua identidade étnica, sua língua iídiche,
e seus valores culturais; 2) as pressões para Polonizar  as recompensas prometidas de
assimilação; e 3) os conflitos comunais judaicos internos sobre  manter a própria identidade,
língua (iídiche) e valores culturais.
As recompensas de assimilação, teoricamente, seriam a aceitação social, a integração, a
igualdade de acesso à educação em todos os níveis, empregos qualificados e profissões,
lugares para se viver e liberdade de viajar. Na realidade, estas nunca foram plenamente
realizadas na Alemanha ou na Polônia, mas variava, dependendo quem estava no poder, a
sua necessidade das habilidades do povo judeu, e sua tolerância para os judeus e o
Judaísmo.
A resposta pessoal de Lewin a essas pressões foi ampliar a consciência, abertamente,
como um judeu secular de língua iídiche, ao tornar-se um  respeitado acadêmico alemão,
escritor e intelectual. Matriculou-se na Universidade de Freiberg em 1909, formou-se a
tempo de se juntar ao exército alemão na Primeira Guerra Mundial, foi ferido, e voltou à
vida civil e aos seus estudos. Ganhou um Ph.D. da Universidade de Berlim em 1916.
Seus insights sobre educação judaica ajudou YIVO e outras instituições educacionais
judaicas a definir os mais elevados padrões de programação para a educação de crianças
judias em escolas judaicas. O objetivo de Lewin e YIVO era   que seria confortável formar
crianças de escolas judaicas em sua própria pele e cultura judaica, e não sucumbir às
pressões  assimiladoras seculares e culturais colocadas nos judeus pelas sociedades alemã
e polonesa. Lewin foi, de fato, uma das primeiras pessoas convidadas por Leibush Lehrer,
um dos fundadores do YIVO, para dar suas percepções sobre “elevar a criança judia”,
“auto-ódio”, e marginalidade judaica. Algumas das pesquisas de Lewin sobre estas questões,
que ainda ressoam hoje, foram publicadas em iídiche, em 1930, no primeiro volume de
YIVO na educação. Em 1946, o trabalho foi traduzido para o Inglês como Problemas
psicológicos em Educação judaica .
Experiências de guerra de Lewin no exército alemão e a agitação social na Alemanha, nos
anos de Weimar, tiveram um grande impacto no seu pensamento sobre psicologia social -
em particular, o seu entendimento de que nossas “características individuais e o ambiente interagem para provocar um comportamento.” Os indivíduos se comportam de maneira diferente, ele observou, dependendo das tensões entre a auto-percepção e das condições ambientais, incluindo os “espaços de vida” (família, trabalho, escola) em que se encontram. Tal conceito contradiz  a teoria psicológica clássica, que não fala muito de fatores ambientais na análise da motivação do comportamento individual. A síntese da natureza versus criação foi apresentada  por Lewin como uma equação matemática, talvez a equação mais conhecida em psicologia social: B = ƒ (P, E), onde  behavior = function (person, environment)
Seus ensinamentos em psicologia social foram fortemente associadas à teoria da Gestalt,
que vê o comportamento como determinado por, nas suas palavras, “a totalidade dos fatos
coexistentes que são concebidas como mutuamente interdependentes. ”No entanto, as
pessoas com diferentes disposições, argumentou, podem compartilhar objetivos e atos
comuns em conjunto para alcançá-los. Sua interdependência pode moldar o grupo em um
“todo dinâmico”, em que os membros participem e se comuniquem de forma mais eficaz,
apresentem menor agressão, confiam mais uns aos outros, e são mais produtivos.
A identidade judaica era um modelo disto para Lewin: “Não é similaridade ou dissimilaridade
de indivíduos que constitui um grupo”, escreveu ele em 1939, mas sim a interdependência
do destino .... É fácil  ver que o destino comum de todos os judeus faz deles um grupo na
realidade. Aquele que compreende esta ideia simples sentirá que não  tem de romper com o
judaísmo completamente sempre que  muda sua atitude em relação a uma questão judaica
fundamental e se tornará mais tolerante com as diferenças de opinião entre os judeus. Além
disso, uma pessoa que aprende a ver o quanto seu próprio destino depende do destino de
todo o seu grupo estará pronta e até mesmo ansiosa para assumir uma parte equitativa da
responsabilidade pelo seu bem-estar.
Foi com o incentivo de Horace Kallen, um americano sionista, socialista, e filósofo
(que cunhou a expressão “pluralismo cultural”), que Lewin escolheu aceitar um cargo na
Universidade Cornell, em vez de na Universidade Hebraica, na Palestina. (Quando Lewin
estava considerando este último, ele propôs um instituto de pesquisa para o
desenvolvimento de um estado progressivo que incluísse judeus e palestinos a trabalhar
em conjunto). Lewin, em seguida, mudou-se de Cornell para a Universidade de Iowa, onde
ele ajudou a moldar a estação de pesquisa do Bem-Estar Infantil.
Na década de 1930, Lewin tinha estudado três modelos clássicos de liderança de grupo  -
democrático, autocrático e laissez-faire - e concluiu que, entre as crianças  havia mais
coesão,  criatividade e simpatia em grupos democraticamente executados. “Tem havido
poucas experiências para mim tão impressionantes como ver a expressão no rosto das
crianças mudar durante o primeiro dia da autocracia”, escreveu Lewin. “O grupo amigável,
aberto e cooperativo, cheio de vida, tornou-se, num curto espaço de meia hora, apático e
sem iniciativa. A mudança da autocracia para a democracia parecia levar um pouco mais
tempo do que da democracia à autocracia. Autocracia é imposta sobre o indivíduo.
Democracia ele tem que aprender.” Esses insights ajudaram a moldar o seu trabalho na
Universidade de Iowa. Durante a sua estada lá, ele também ajudou a fundar uma escola
Yiddish secular que serviu às famílias de  professores e famílias da comunidade em geral.
A escola tinha Yiddish, hebraico e literatura como seus focos.
SEU PRÓXIMO PASSO foi para o MIT, onde estabeleceu o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo e perseguiu três grandes temas de pesquisa: como melhorar a eficácia dos líderes comunitários; a melhor forma de facilitar o contato entre pessoas de diferentes grupos; e como produzir nos membros dos grupos minoritários um aumento da sensação de pertença, melhorado o funcionamento pessoal, e melhores relações com indivíduos de outros grupos. Este último tópico, especialmente, deu origem ao “treinamento de sensibilidade”, como uma estratégia para gerir eficazmente o preconceito racial e religioso.
Dois exemplos de seu trabalho no MIT são descritos por Julie Greathouse (da Universidade
Muskingum). Em um deles, “serviços religiosos tinham sido perturbados no Yom Kippur por
um grupo de católicos italianos.” Lewin reuniu um grupo religiosamente e racialmente misto
de trabalhadores.
A primeira ação do grupo foi trazer os quatro jovens que foram presos pelo crime e
 colocá-los sob custódia de sacerdotes locais e dos católicos Big Brothers. Em
seguida, envolver os membros da membros da comunidade, tantos quanto possível
para fazer melhorias. Foi decidido que o ato não era de anti-semitismo, mas de
hostilidade geral. Da mesma forma, não foi um problema que poderia ser resolvido
através do envio de homens para a cadeia. A solução seria eliminar as frustrações
da vida na comunidade através da criação de melhores condições de moradia,
melhorando o transporte e construção de instalações recreativas. Estas medidas
permitiriam que  membros de diferentes origens e grupos se integrassem.
Planos para melhorar as instalações da comunidade, escreve Greathouse, foram colocados
em movimento. Os membros da gangue foram mantidos em contato, e dentro de um ano,
“as condições haviam melhorado muito. Enquanto isso, não houve mudança relatada em
atitudes racistas ou anti-semitas, agressão contra negros e judeus cessou.”
Em outro exemplo, algumas lojas de departamento não estavam contratando pessoas negras
por causa de temores de que os clientes brancos se oporia. A equipe de Lewin entrevistou
clientes que tinham sido atendidos por  funcionários negros e funcionários brancos. Os doze
que responderam de forma preconceituosa foram perguntados se eles continuariam a fazer
compras em uma loja, se houvesse vendedores negros. Embora cinco dissessem que não,
 já haviam sido observados  a fazerem compras em um balcão com um vendedor negro - e
o resto disse que ainda iria fazer compras na loja de departamentos. “Concluiu-se,”
Greathouse escreve, “que mesmo  um cliente preconceituoso, não influenciava onde eles
haviam comprado, ou que bem eles haviam adquiridos... Portanto, o medo da queda nas
vendas não foi apoiada pela evidência.”
Os elementos sociais de insights psicológicos de Lewin, bem como a sua criatividade
científica, atraiu muitos estudantes soviéticos que se tornaram seus estudantes na
Universidade de Berlim. Cinco de seus primeiros seis doutorandos eram mulheres judias
soviéticas que haviam chegado a Berlim com outros interesses acadêmicos. Entre os
pedagogos na União Soviética que se tornaram seus amigos e foram influenciados por
seus insights estavam Lev Vigotski, que se tornou um pioneiro da psicologia educacional,
e Alexander Luria, um pioneiro do multiculturalismo.
Hoje, Lewin é aceito como o pioneiro da disciplina de psicologia social. Ele também deve ser
visto como um dos 20 do movimento judeu secular.
Robert Kleiner recebeu seu Ph.D da Universidade da Pensilvânia, em Psicologia Social,
formado na tradição da Teoria de Campo de Kurt Lewin. Ele tem sido um líder ativo na
Sholom Aleichem Club e da Conferência das Organizações judaicas seculares, e presidiu
a comissão que elaborou o currículo de Folk Shule das Crianças judias na Filadélfia. Seus
interesses acadêmicos incluem a história do povo judeu, e ele está atualmente trabalhando
em uma biografia de Kurt Lewin.

Gerry Kane , um graduado da secular Morris Winchevsky Escola Yiddish em Toronto, passou
a maior parte de sua carreira como diretor de criação e presidente de algumas das maiores
agências de publicidade do Canadá. Especializou-se em marketing social. Teorias de gestão
de mudança de Kurt Lewin foram uma parte importante desse trabalho. Gerry foi um dos
fundadores da Associação judaica Secular em Toronto, presidente da Comissão Yiddish
da Canadian Jewish Congress, e o colunista Yiddish para o Jewish News canadense.