16/10/2015

A feminilização das posições

A feminilização das posições



Muito se tem falado, nos dias de hoje, sobre as mudanças que a sociedade está exigindo, principalmente nas atitudes do homem, do macho.

Não consigo ver este clamor pela mudança sem relacioná-lo às atitudes da mulher, da fêmea, pois são elas, as atitudes femininas, que têm provocado as mais diversas reações nos homens. Vejamos algumas destas reações e, permitam a pretensão, causas.

Quando membros de um grupo sabemos que ocupamos posições e papéis. Ao dizermos Marido e Mulher estamos nos referindo a posições. Se dissermos: marido compreensivo, nos referimos a uma posição e a um papel dessa posição, ou seja, papel é a forma de manifestação e nos garante espaço no grupo, assim como a posição nos garante status.

Toda posição traz expectativas de papéis por parte dos membros de um grupo. Há papéis esperados a respeito da posição marido e os mais conhecidos são: provedor, protetor, companheiro, amante, amigo.

A mulher, ao apresentar o seu homem para os outros como "meu marido", está dizendo das expectativas de papéis que tal posição acarreta? Creio que sim.

Há alguns anos atrás o homem se referia à sua companheira como "minha esposa", também se referindo a uma posição e, como vimos, com papéis esperados. Quando se refere hoje a essa parceiro dizendo - "minha mulher" - o que isso denota? 

Posse? Pode ser, mas será que não há também a possibilidade de, ao referir-se ao gênero e não à posição, estar criando mais possibilidades para essa pessoa e não só os papéis esperados?

É permissão do homem ou conquista da mulher? Me parece que é conquista da mulher e isso possibilita que ela amplie seu campo de atuação, seus espaços de movimento e tudo o que o gênero traz embutido, o que é muito mais do que uma posição.

Por que a mulher, ao referir-se ao seu companheiro, não diz: "meu homem"? 

Entendo que é porque o homem ainda está aprendendo a liberar-se da posição de marido, ao contrário da mulher que já está mais adiantada no aprendizado da liberação da posição de esposa.

Esse aprendizado tem possibilitado à mulher, liberta das expectativas de posições ditas femininas e assumindo sua condição de fêmea, a assumir duas atitudes. Uma, talvez a mais desejada pelos homens, é a sua masculinização, o que a leva a competir diretamente e de igual para igual com o homem. Este é o jogo preferido pelos homens porque é mais conhecido e porque é o gênero masculino que impõe as regras. A mulher perde. A outra é assumir sua condição de fêmea sem a 
preocupação de fazer valer seus méritos a partir dos deméritos do homem. 

Simplesmente sendo a mulher que é, com a inteligência que tem e com um jeito diferente de fazer as coisas até então feitas por homens. Quando age dessa forma e ocupa mais espaço no mercado, na família, no casal e em outros grupos, a mulher feminiliza posições tidas até então como masculinas. 

Desenvolve um jeito feminino de trabalhar, de gerenciar, de planejar, de agir. Esse jeito feminino está fazendo com que haja, por parte da sociedade, uma ressignificação dessas posições ditas masculinas. O perfil de um gerente, hoje, inclui o sensível ao outro, a demonstração do afeto, a compreensão, a intuição - até então manifestações ditas femininas. Ao feminilizar as posições a mulher provoca medo no homem porque esse ainda não está realizando o aprendizado de sua integralização, assim como a 
mulher aprendeu, graças às feministas, que o caminho não é o da masculinização, não é o de igualar-se no gênero e sim o de assumir-se integralmente no gênero e em tudo o que ele comporta - o masculino e o feminino.

Talvez esteja na hora do homem correr atrás em busca desse aprendizado, oportunizando-se mais inteiro e revendo os papéis que vem assumindo.

Ao mesmo tempo, não consigo deixar de pensar que possa ser uma estratégia feminina manter o homem em suas posições e nos seus papéis esperados enquanto as mulheres realizam uma revolução silenciosa, feminilizando o mundo e ocupando nossos espaços e nosso status.

Afinal, eu sou homem e ainda tenho um olhar predominantemente masculino.



Mauro Nogueira de Oliveira

Consultor de Processos Grupais

Didata da Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos - SBDG

Abril/2004

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