19/05/2015

Retratos da Mudança Organizacional: diferentes percepções de seus conceitos e aplicações.

Artigo escrito por Joelma Cristina Costa, Jacira Cristina Costa e Wagner Junior Ladeira, publica no XII Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia da Associação Educacional Dom Bosco.

Bem interessante a pesquisa realizada.

www.aedb.br/seget/arquivos/.../781_Artigo%Mudanca.pdf

14/05/2015

Um Banco de Dados para Facilitadores de Grupo

Este texto, gentilmente traduzido por Carla Souza, traz a colheita realizada por alguns participantes de uma atividade no NTL (National Training Laboratories), em 1976. Por si só não tem valor científico nem traz recomendações (não gosto muito dessa palavra) que devem ser seguidas ao pé da letra, mas traz a oportunidade de pensarmos nas observações verbalizadas, nas intervenções que fazemos em nosso trabalho de coordenar grupos de desenvolvimento.

Selecionei algumas e fiz alguns comentários que podem gerar outros comentários, se quiserem. Meus comentários estão em itálico.

Um Banco de Memória para Facilitadores
Extraída de "25 Atividades Para Times" publicada por Pfeiffer & Company, San Diego, CA., 1993 (tradução livre)
Traduzido por Carla Souza

Ao longo do tempo, as habilidades dos facilitadores podem ficar desbotadas. Uma intervenção proveitosa é esquecida, ou tipos de intervenção bem usadas podem ser usadas em excesso que elas tornam-se estereotipadas. Experientes consultores de processo, líderes de grupos de discussão, e treinadores de T-group freqüentemente refletem sobre uma sessão de grupo que recém terminou e desejam poder ter lembrado de fazer uma coisa ou outra que, naquela hora, fugiu de suas mentes. Eles poderiam ter usado uma lista de intervenções de treinadores. Tal lista é oferecida aqui como uma "sacudida na memória" para reconstruir o conjunto mental e o repertório comportamental de tempos em tempos.

É uma adaptação de uma compilação gravada por participantes no Laboratório de Treinamento, Teoria e Prática do Instituto NTL em 1976, em Bethel, Maine, quando Florence Hoylman e Howard Lamb eram os facilitadores. A lista de intervenções  pode ser usada como uma sugestão para renovar seu potencial como um facilitador, para que possa responder apropriadamente, especialmente quando você sente a necessidade de voltar ao papel de facilitadores após um período de tempo sem ação nesse sentido.
Muitos dos itens refletem a base teórica com a qual outros failitadores podem concordar, entretanto não se pretende, como um livro de receitas, a ser seguida exatamente. Ao contrário, se você lê a lista antes de começar um trabalho de grupo, ela pode servir para renovar seu esquema conceitual e aumentar a eficiência de suas intervenções.

Intervenções dos facilitadores:

Siga o fluxo da energia.
Perfeita. Quem estabelece o ritmo, a profundidade, o foco, é o grupo. O facilitador pode convidar, estimular, cutucar para mudar este ritmo, profundidade e foco, mas a decisão é do grupo.

Nunca use "nós" ou "nosso" como um facilitador.
Nós e nosso são expressões que denotam igualdade de posições. Intervenções que mostram uma igualdade entre facilitador e membros do grupo, trazem o risco de colocar o facilitador no foco do processo. O facilitador fala do grupo, dos membros do grupo ou de si mesmo.

Assumir o papel de participante somente é efetivo quando o grupo esteja bem coeso.
Este é um alerta importante. Se isso ocorrer nos momentos iniciais do grupo, momento em que ainda não existe uma coesão grupal pois a estrutura ainda está em construção, poderá ser percebido como competição por espaço no espaço do grupo. 

Você pode fazer uma afirmação de participante, mas deve permanecer no papel de facilitador.
Isso é ir na fronteira entre o facilitar e o membrear. O facilitador não pode desocupar sua posição. A segurança dos membros do grupo é influenciada por este movimento.

Uma intervenção listando sentimentos, pode ajudar  pessoas que estão tendo dificuldades de identificar seus sentimentos.
Sim. Confusão não gera aprendizado. O que pudermos fazer para facilitar, pensando junto sobre os sentimentos que podem estar ocorrendo, contribuirá para reduzir estados de confusão e criar possibilidades de mudança.

Quando um assunto difícil vem à tona, uma intervenção voltada a um indivíduo é preferível do que uma a nível grupal.
Sim. Há vezes em que o melhor é não fazer intervenção alguma e deixar que o grupo encontre ou reencontre seu fluxo por meio do diálogo. Mas se o facilitador sente que é importante uma intervenção, uma alternativa seria:  fulano, como isso chega em ti? Dessa forma, dá um tempo para as defesas do grupo afrouxarem para abrir espaço para a expressao de uma percepção diferente do momento grupal. Uma intervenção no processo grupal, provavelmente colocaria o grupo na defensiva.

Quando alguém mostra dificuldade em absorver um feedback, um tipo de intervenção  útil é: "Você ouviu..." ou "O que você ouviu? "
Excelente

Responder diretamente a perguntas de um participante pode levar a uma discussão intelectual.
A não ser que o facilitador tenha bem claro que a resposta ajudará a diminuir confusão, esclarecer o processo ou ampliar conhecimento. Caso contrário, é melhor calar.

Se dois assuntos estão sendo desenvolvidos simultaneamente, indique isto ao grupo e solicite prioridades.
Ótima sugestão.

Se os participantes passam por cima de  assuntos trazidos por outros ou não se permitem segui-los, uma intervenção do tipo "Hei você está mudando de assunto!" , pode ser útil.
Ou então: o que está acontecendo que o grupo não consegue se manter num assunto nem noutro?

Normalmente é preferível começar uma sessão com uma colocação aberta (se uma abertura for usada).
Se é o grupo quem define seus caminhos, com a facilitador apoiando na tomada de consciência de suas escolhas, não cabe em uma abertura de um grupo de desenvolvimento, definir focos, objetivos específicos, etc.

Quando uma colocação do tipo lá-e-então leva a uma argumentação com o facilitador, intervenções como esta podem ser úteis.
- "O que está acontecendo entre nós? "
- "Todos vocês querem continuar com isto?"
Sim, o objetivo do facilitador  é chamar o grupo para o foco: o aqui e agora.

 Se, como facilitador, você estabelece algumas normas no início, então suas intervenções devem se moldar àquelas normas.
Claríssimo.

Se um participante está recebendo feedback e outro começa a dirigir-se a ele também, ofereça espaço, i.e., "Você quer ouvir outras pessoas?"
É isto.

Se houver um co-facilitador, as colocações não devem, diretamente, seguir uma a outra.
Este é um cuidado muito importante que facilitadores que trabalham em dupla precisam ter. As intervenções não devem acontecer uma em seguida da outra pois há risco de dupla mensagem, de multi focos, de contradições, geradoras de confusão . Isto não se aplica quando a intervenção que seguir a primeira vier a ampliá-la.

O facilitador deve ressaltar coisas para as quais voltar.
Não vejo muita necessidade, mas mal não faz.

Quando, como facilitador, você sente-se perdido, expresse de forma clara como você se sente a respeito.
É uma das intervenções mais ricas num processo grupal. O facilitador dizer: estou perdido, preciso da ajuda de vocês para me achar, demonstra autenticidade, humildade e é uma grande permissão para todos no grupo expressarem suas dúvidas e inquietações.

Intervenções do tipo resumo podem ser úteis para prover clareza, confirmar precisão e estimular aprendizagem.
O cuidado que precisa ter é de não se fazer intervenções deste tipo demasiadas vezes, pois poderia contribuir para que o  facilitador se cristalizasse no lugar de um sintetizador, um relator do grupo.

Você pode demonstrar raiva no grupo para deixar clara a regra  de que a expressão da raiva é o.k.
Autenticidade é o melhor exercício que um coordenador pode fazer. Com o exercício a forma de expressão fica mais apurada. Até a expressão da raiva.

Alguns participantes reagem melhor a intervenções de clarificação que a usual resposta do tipo comportamento-sentimento. Ajuste as intervenções a cada pessoa, incluindo sua linguagem.
O movimento comunicacional prioritário deve ser: o facilitador precisa se expressar para se fazer entendido claramente pelo grupo. E não o grupo deve entender o facilitador.

Se a comunicação de um membro do grupo parece inapropriada, i.e., direcionando-se para longe do fluxo de energia do grupo, você pode dar espaço a ele conferindo: "Você quer mesmo entrar neste assunto agora? "
 Penso de outra forma: seria interessante convidar o participante que está  se distanciando  a examinar o quanto o momento do grupo, a atividade, o que está  sendo comunicado, está contribuindo para o  distanciamento.

Como facilitador você pode fazer uso de uma série de respostas não verbais.
Sim, é um recurso.

Quando o grupo está trabalhando com um participante relutante, a tendência é ser demasiadamente ‘civilizado’, embora o sentimento subjacente seja de hostilidade. Você pode trazer a tona a hostilidade subjacente ou ao menos contribuir para desvelar a fachada educada.
Sim, pode. Mas com muito cuidado. Sugiro perguntar-se antes  de qualquer intervenção: a serviço  de quem estarei tomando essa atitude? Estarei contra transferindo?

O facilitador deve evitar aceitar os rótulos e analogias dos participantes.
Todos e todas, de todos.

A resposta de um facilitador deve ser humana,. Não tente ser um robô objetivo e insensível. (Como pode ser o facilitador outra coisa senão humano?)
Lucido! Sem comentários.

Quando uma colocação do tipo "Eu gosto de você" é feita, pode ser necessário puxar para fora mais informações e suportes mais abrangentes. Tal colocação pode "nublar" o assunto.
Pode ser uma afirmação sedutora? Se for, realmente precisa investigar e não deixar por isso.

Freqüentemente existirão defensores para um participante relutante e você poderá ter que impedi-los de dirigir a energia (o foco de atenção) para longe daquele participante.
Sim, principalmente se os defensores estiverem se defendendo através do partiipante relutante.

Quando um participante afirma que quer ficar "fora do centro de atenções", isto não é um sinal automático que você deva ir naquela direção. Você precisa de mais informações do que isto. Uma intervenção oportuna é: "Quem sabe você queira continuar daqui?".
Particularmente, prefiro respeitar as escolhas e esta seria uma que eu respeitaria, mas não deixaria de perguntar: posso te chamar mais tarde?

Quando um participante diz, "os outros neste grupo", continue o diálogo perguntando:  o que "outros" significa.
Ótima. E quem são os outros?

Esteja alerta aos não verbais e não limite seu foco a uma coisa ou pessoa. O facilitador deve desenvolver o hábito de pesquisar periodicamente o grupo inteiro.
Excelente.

Se uma colocação "lá-e-então" aparece, o facilitador pode escolher legitimar e redirecionar: "Penso que foi importante para você trazer isto, mas é  importante voltar para..."
Ou então: o que isso tem que ver com o que estamos trabalhando?

Começar um encontro com um relaxamento pode "fazer o tiro sair pela culatra" por tornar as pessoas tão relaxadas que elas tenham dificuldade de fazer qualquer outra coisa. Uma melhor tática é fazê-las olhar umas para as outras e tentar entrar em contato com os assuntos que emergem. Relaxamento também contribui para focar apenas em sentimentos positivos enquanto evita os negativos.
Concordo. Nada melhor do que um início natural.

Quando um facilitador afirma que um assunto é difícil, fica mais difícil para o grupo lidar com o assunto.
Pode ficar sim. Mas e se for dificil mesmo? O grupo e o facilitador tem de lidar somente com assuntos fáceis?

Quando um assunto delicado vem a tona, alguns participantes podem tentar abandoná-lo trazendo um outro assunto. Neste ponto, pode ser melhor usar uma intervenção que dê permissão para explorar o assunto ou retardar novos assuntos: "Nós temos várias coisas com que  trabalhar..."
Se o assunto que for trazido para evitar o que estava sendo examinado, penso que o facilitador precisa alertar de que isso pode estar acontecendo e perguntar ao grupo qual sua escolha.

Como facilitador evite fazer coisas que foquem em você mesmo.
Sim

Não existe um jeito simples para chegar a um consenso em um T-group, assim evite intervenções que requeiram uma resposta de grupo.
De preferência, em um grupo de desenvolvimento, aceite e permita o não-consenso.

Quando você está bloqueado em seus próprios sentimentos, compartilhe e indique um desejo de continuar.
Sim.

Evite o uso de jargões de laboratório com um participante confuso.
Não só com os confusos. O facilitador precisa ficar atento para não se refugiar em jargões e clichês.

Quando uma intervenção não tem resposta tente parafraseá-la.
Só se for necessário uma resposta. A não resposta não somente deve ser permitida como  pode ser geradora de profundas reflexões.

Uma intervenção sobre o processo do grupo deve ser descritiva ao invés de interpretativa. Um facilitador pode descrever o comportamento de um grupo, mas deve evitar colocar uma interpretação no comportamento do Grupo.
Sim. Interpretações são ficções. Além das descrições cabem as hipóteses que são sempre interrogações.

Diálogo entre pessoas que fazem julgamento e as que não fazem pode levar à rotulação.
Por isso julgamentos precisam ser evitados sempre, tanto por parte dos membros de um grupo quanto, principalmente, por parte do facilitador.

Pessoas que estão inconscientes de seus sentimentos necessitam um espelho claro de seus comportamentos verbais e não verbais. Dê vários feedbacks. Pergunte a elas para descreverem seus sentimentos físicos: "Você pode me dizer o que esta acontecendo dentro de você a medida que você ouve o que dissemos para você? "
Pode ser uma alternativa. Não sei se vários feedbacks. Muitos podem aumentar a confusão e a resistência que contribuem com dificuldades na escuta.

Conceitualizações dos processos do grupo podem ser úteis como intervenções.
Sim. Nada mais prático do que uma boa teoria (Lewin).

Você pode encorajar um participante com: "Eu vejo você aprendendo com isto", particularmente se o participante está tentando esquivar-se da atenção no foco.
É uma possibilidade.

Quando duas pessoas estão discutindo um assunto, mas são incapazes de comunicar-se, pode ser necessário trazer outros para trabalhar no assunto.
É importante saber se estas duas pessoas estão de acordo em incluir percepções de outros.

Direcionando-se para o fim do laboratório, pode ser melhor focar naqueles que não tiveram muito tempo para discussão. Uma intervenção com uma pessoa ativa pode ser: "Você tem demostrado competência em lidar sobre isto, os outros podem precisar mais do tempo."
Se isso acontecer no final é porque não foi trabalhado durante o processo do grupo.

Colocações do tipo "por que" convidam a intelectualizações (viagens mentais).
Sim

Não desenvolva noções fixas de onde a próxima sessão irá dar. O facilitador não pode nem estabelecer a agenda do grupo nem forçar um assunto que ele acha deva estar presente.
Sim.

Não aceite envolvimentos íntimos entre pares.
É possível controlar? Que facilitador tem este poder?

Um facilitador não tem que ficar no mesmo lugar. Um movimento pode ser uma intervenção muito efetiva.
Sim. Movimentação no espaço é comunicação.

Um relato sobre um evento anterior na história do grupo, como ontem no jantar, tende a ter sido tão trabalhado anteriormente e provavelmente não será útil.
Em tese. Mas se o assunto retorna, isso pode estar acontecendo  porque não foi sufiientemente trabalhado.

Direcionando-se para o final do laboratório, se uma pessoa finalmente quer trabalhar com o grupo em alguma coisa depois de não ter participado anteriormente, pode ser melhor sugerir "levar para casa".
Sim.

Para cada situação há uma variedade de alternativas de intervenções abertas aos facillitadores: intervenções não devem ser vistas em termos de isto ou aquilo.ˆ
Otimo. O facilitador precisa aprender  a incluir. Isto e aquilo e aquele outro....

Você não pode aprender uma lista de intervenções úteis para serem usadas sob circunstâncias específicas porque intervenções são altamente situacionais. Failitadores devem buscar  primeiro por autenticidade para eles próprios e então,  por competência para diagnosticar uma situação e selecionar uma intervenção apropriada.
Sim

Falha em intervir não irá destruir a experiência de aprendizagem. Confie no processo. Engane-se do lado das poucas ao invés das muitas intervenções.
SIm

Uma boa atitude para um facilitador é olhar apenas ocasionalmente para a pessoa falando e gastar mais tempo olhando para o resto do grupo.
Sim.