Posições e Papéis
Mauro
Nogueira de Oliveira
A sala de aula é um
riquíssimo espaço de grupalidade. Nela identificamos diversas manifestações que
retratam a vida de um grupo.
Considero que um
grupo existe quando ocorre simultaneamente o seguinte: pessoas; a possibilidade
do contato face a face entre elas (“eu vejo todos e sou visto por todos”); num
espaço comum de convivência (a sala de aula); envolvidas em uma tarefa comum (o
processo ensino/aprendizagem); por um período determinado de tempo (o período
de uma disciplina, do turno, etc.)
Referindo-se à
estrutura grupal, Cartwright e Zander(1975) destacam que o grupo se organiza a
partir de categorias tais como posições, papéis, normas e objetivos.
Na sala de aula
identificam-se posições claras: professor e alunos. Em algumas existe uma outra
posição que é a do líder da classe ou representante de turma.
Essas posições
determinam o status de seus ocupantes. O professor tem mais status que os
alunos e dentre os alunos, o líder da classe tem mais status que seus colegas e
menos que o professor.
Num espaço
relacional, quanto mais claras e definidas (e não rígidas) forem as fronteiras
entre as posições, mais contribuirão para uma boa operação grupal. Por
fronteiras entenda-se tudo o que diz respeito a regras, atribuições e limites,
que norteiam a movimentação da relação no espaço.
Os papéis qualificam
as posições. Referem-se à forma como
essas são desempenhadas. Definem o como acontece a ocupação de espaços pelos
membros do grupo, no grupo. Por exemplo: “aluno obediente”, “professor
exigente”, “aluno desinteressado”, “professor camarada”, etc.
Quanto mais papéis
forem desempenhados pela pessoa que ocupa uma determinada posição, maior
movimentação ela terá dentro do espaço grupal. Movimentação no sentido de conectar-se,
relacionar-se com outros.
E, do contrário,
quanto menos papéis desempenhados, mais imagens cristalizadas e menor será a
mobilidade da pessoa que ocupa a posição.
Há membros do grupo
da sala de aula que circulam por todas as “tribos”, como os considerados
“populares” e há os que congelam em um determinado papel (como o “mau aluno”, o
“aluno nerd retraído”, o “professor bonzinho”), a tal ponto de tornarem-se
previsíveis aos demais.
Normas do grupo
existem para contribuir com a definição de fronteiras entre as posições. Mais
importante que elas próprias é principalmente, a forma como são criadas e
estabelecidas.
Se impostas de
maneira autoritária, é provável que estimulem uma reação de contra-controle.
Se construídas a
partir da negociação entre os membros do grupo, tendem a ser percebidas como
protetoras da relação, estimulam a responsabilidade e em função disso, a
probabilidade maior é de que provoquem comportamentos cooperativos. Em especial
quando existe a permissão para serem avaliadas e re-avaliadas, sempre que do
grupo emerja essa necessidade.
Uma dificuldade dos
educadores nesse âmbito é que, em nossa cultura, fomos educados a somente
seguir normas estabelecidas por outros. Os freqüentes comportamentos reativos
de membros se originam comumente do desejo frustrado em participar como
protagonista nas decisões.
Se não aprendemos a
construir normas dialogicamente, consequentemente não nos comprometemos a
respeitá-las. Aprendemos a obedecê-las. Ou até a fingir que o fazemos. Isso
está mais próximo da submissão e até do cinismo, do que da cooperação e da
responsabilidade.
Cada grupo tem seu objetivo, o que não necessariamente
coincide com os objetivos individuais dos seus membros. É possível que o membro
do grupo se inclua e assuma o objetivo grupal, apenas para poder alcançar seus
objetivos individuais. Exemplo: o objetivo de um grupo que está em sala de aula
é aprender os conteúdos das disciplinas; seus participantes, no entanto, podem
ter outros como: aprender para satisfazer seu desejo, para ser reconhecido
pelos pais e pelos outros, simplesmente estar junto com os colegas, apenas
cumprir com uma exigência familiar e comunitária, etc.
Quando os objetivos
grupais e individuais se complementam, a operação do grupo estará mais próxima
da harmonia. Quando do contrário, esses objetivos competem, o desprazer na
relação é presente e os resultados são afetados negativamente.
Esse olhar para a
dimensão grupal da sala de aula, pode ser estendido para outras manifestações
grupais, consideradas as suas peculiaridades: a empresa , a família, o grupo de
amigos que se encontra com regularidade, o grupo que realiza atividades
comunitárias e outros.