13/08/2018

Posições e Papéis na sala de aula


                                        Posições e Papéis

                                                           Mauro Nogueira de Oliveira


A sala de aula é um riquíssimo espaço de grupalidade. Nela identificamos diversas manifestações que retratam a vida de um grupo.
Considero que um grupo existe quando ocorre simultaneamente o seguinte: pessoas; a possibilidade do contato face a face entre elas (“eu vejo todos e sou visto por todos”); num espaço comum de convivência (a sala de aula); envolvidas em uma tarefa comum (o processo ensino/aprendizagem); por um período determinado de tempo (o período de uma disciplina, do turno, etc.)
Referindo-se à estrutura grupal, Cartwright e Zander(1975) destacam que o grupo se organiza a partir de categorias tais como posições, papéis, normas e objetivos.
Na sala de aula identificam-se posições claras: professor e alunos. Em algumas existe uma outra posição que é a do líder da classe ou representante de turma.
Essas posições determinam o status de seus ocupantes. O professor tem mais status que os alunos e dentre os alunos, o líder da classe tem mais status que seus colegas e menos que o professor.
Num espaço relacional, quanto mais claras e definidas (e não rígidas) forem as fronteiras entre as posições, mais contribuirão para uma boa operação grupal. Por fronteiras entenda-se tudo o que diz respeito a regras, atribuições e limites, que norteiam a movimentação da relação no espaço.
Os papéis qualificam as posições. Referem-se à forma como essas são desempenhadas. Definem o como acontece a ocupação de espaços pelos membros do grupo, no grupo. Por exemplo: “aluno obediente”, “professor exigente”, “aluno desinteressado”, “professor camarada”, etc.
Quanto mais papéis forem desempenhados pela pessoa que ocupa uma determinada posição, maior movimentação ela terá dentro do espaço grupal. Movimentação no sentido de conectar-se, relacionar-se com outros.
E, do contrário, quanto menos papéis desempenhados, mais imagens cristalizadas e menor será a mobilidade da pessoa que ocupa a posição.
Há membros do grupo da sala de aula que circulam por todas as “tribos”, como os considerados “populares” e há os que congelam em um determinado papel (como o “mau aluno”, o “aluno nerd retraído”, o “professor bonzinho”), a tal ponto de tornarem-se previsíveis aos demais.
Normas do grupo existem para contribuir com a definição de fronteiras entre as posições. Mais importante que elas próprias é principalmente, a forma como são criadas e estabelecidas.
Se impostas de maneira autoritária, é provável que estimulem uma reação de contra-controle.
Se construídas a partir da negociação entre os membros do grupo, tendem a ser percebidas como protetoras da relação, estimulam a responsabilidade e em função disso, a probabilidade maior é de que provoquem comportamentos cooperativos. Em especial quando existe a permissão para serem avaliadas e re-avaliadas, sempre que do grupo emerja essa necessidade.
Uma dificuldade dos educadores nesse âmbito é que, em nossa cultura, fomos educados a somente seguir normas estabelecidas por outros. Os freqüentes comportamentos reativos de membros se originam comumente do desejo frustrado em participar como protagonista nas decisões.
Se não aprendemos a construir normas dialogicamente, consequentemente não nos comprometemos a respeitá-las. Aprendemos a obedecê-las. Ou até a fingir que o fazemos. Isso está mais próximo da submissão e até do cinismo, do que da cooperação e da responsabilidade.
Cada grupo tem seu objetivo, o que não necessariamente coincide com os objetivos individuais dos seus membros. É possível que o membro do grupo se inclua e assuma o objetivo grupal, apenas para poder alcançar seus objetivos individuais. Exemplo: o objetivo de um grupo que está em sala de aula é aprender os conteúdos das disciplinas; seus participantes, no entanto, podem ter outros como: aprender para satisfazer seu desejo, para ser reconhecido pelos pais e pelos outros, simplesmente estar junto com os colegas, apenas cumprir com uma exigência familiar e comunitária, etc.
Quando os objetivos grupais e individuais se complementam, a operação do grupo estará mais próxima da harmonia. Quando do contrário, esses objetivos competem, o desprazer na relação é presente e os resultados são afetados negativamente.
Esse olhar para a dimensão grupal da sala de aula, pode ser estendido para outras manifestações grupais, consideradas as suas peculiaridades: a empresa , a família, o grupo de amigos que se encontra com regularidade, o grupo que realiza atividades comunitárias e outros.