19/03/2021

Intervenções e Instrução do coordenador de grupos T - Roy Whitman

 

INTERVENÇÕES E INSTRUÇÃO DO COORDENADOR DE GRUPOS T

Roy M. Whitman

(De Psicodinámica del Grupo T - Ed. Paidos, Buenos Aires, 1975)

Intervenções do coordenador

As vezes surge a questão da técnica e forma das intervenções. Ainda que haja certas opiniões diferentes, me parece que há certas similitudes entre esta e a psicoterapia psicanalítica. No início da psicanálise o analista fazia interpretações sucintas. Em geral, as reservava para o final da sessão quando, com grande habilidade e bem organizadas, podia reunir toda a variedade de temas que havia tratado o paciente durante a sessão. Com frequência o paciente se aferrava defensivamente em algum pequeno aspecto das observações do terapeuta porque o processo de integração de um material tão carregado de emoções lhe resultava demasiado difícil.

Parece que agora há uma tendência a fazer interpretações muito mais sucintas relacionadas com o material exposto pelo paciente no momento mesmo. Penso que isto pode servir como modelo para a intervenção no Grupo T. O coordenador deve evitar as bombásticas interpretações que servem para aumentar seu status, mas não resultam úteis para a aprendizagem. 

Ainda que pareça demasiado óbvio o que vou dizer, as interpretações devem ser feitas em termos que sejam familiares a todos os membros do grupo. Se o coordenador julga necessário utilizar uma expressão técnica (e isto pode ser necessário para a aprendizagem) deve ter o máximo de cuidado de explicá-la.

O coordenador deve tratar de fazer observações amplas, generalizadoras, que sejam aplicáveis a muitos membros do grupo.  Usar, na menor proporção possível, os nomes dos indivíduos (o contrário do que ocorre em grupos terapêuticos) para fazer interpretações grupais, já que o nível de atenção se dirige ao processo do grupo mais que às interações individuais.

Com frequência suas interpretações devem tomar a forma de perguntas ou de hipóteses que deseja examinar com o grupo.  Nunca deve encerrar uma sessão, ou um dia de trabalho, sem que haja oportunidade de realimentação por parte do grupo, a não ser que deseje que o grupo saia como um "tema de casa" a elaboração de uma resposta a uma interpretação. Deve tratar de estabelecer uma pauta de confirmação ou negação de suas interpretações. Uma das defesas mais difíceis de enfrentar é o fato de que o grupo passe por alto uma interpretação sua (ocorre seguido quando impera uma modalidade contradependente).  Seu recurso consiste então em observar a conduta seguinte do grupo para ver em que medida este incorporou sua observação.  A precisão de uma interpretação se adverte pelo que vem depois, não pelo que sucedeu antes. Um fenômeno que se observa com frequência é a menção de uma de suas interpretações por parte de um membro, como se nunca tivesse sido dito antes.  Nessas ocasiões é difícil, mas necessário, frear o impulso de reclamar os direitos sobre dita contribuição. O outro extremo constitui o grupo que aceita incondicionalmente as interpretações do coordenador para ganhar sua aprovação. Isto deve ser detectado e interpretado para o grupo como uma manobra defensiva para evitar uma compreensão profunda.

Para finalizar, minha experiência me tem mostrado que o uso de um raciocínio análogo é um dos métodos mais eficazes para inserir uma interpretação.

A educação de um coordenador

Quais são os requisitos necessários para um bom coordenador de Grupo T? Não existem respostas arbitrárias a esta pergunta nem deveria havê-las, já que a tarefa de um coordenador é tão complexa que não há um só conjunto de qualidades que possam julgar-se necessárias. Podem ser feitas algumas sugestões gerais.

O coordenador deve ter experiência em dois campos: em sua própria vida interior e em dinâmica de grupos. O primeiro se alcança com certa facilidade mediante alguma classe de experiência psicanalítica ou psicoterapêutica pessoal, ainda isto não é imprescindível. Se pode adquirir uma experiência de natureza clínica por meio do trabalho com as operações inconscientes ou preconscientes de outras pessoas, mas o sentido pessoal de convicção é muito mais firme se se obtém mediante a exploração do próprio inconsciente. David Riesman se referiu a isso mediante uma comparação com a viagem a Europa que era tão popular como ponto final da educação na geração dos primeiros anos de 1900. Agora se estimula mais fazer uma viagem através do próprio inconsciente e da vida. É considerável o número de pacientes que no início de sua análise sonham com uma viagem por uma terra desconhecida.

No campo de trabalho com grupos nada pode substituir a experiência real. Os grupos possuem uma singularidade própria que é muito difícil de aprender se só se trabalha com pacientes individuais. É provável que este seja um dos motivos pelos quais o psicoterapeuta individual que faz terapia de grupo faz, muitas vezes, terapia no grupo e não terapia com o grupo. O campo da dinâmica grupal tem muito que aportar ao da psicoterapia de grupo e é conveniente clarear que deve tratar-se mais de uma interfecundação do que uma ação unidirecional. O propósito das observações que se fizeram em 1956, em Chicago, na reunião da Associação Psicológica Americana (Whitman, Bach, Watson, Bennis e outros) era demonstrar que, na realidade, é mais importante entender a dinâmica do grupo para o terapeuta que para o paciente. De um modo bastante similar é mais importante para o coordenador de Grupo T que para seus membros entender a dinâmica da personalidade.

Talvez seja necessário recomendar que um coordenador potencial participe antes como membro de um grupo de um modo similar ao de um terapeuta potencial que participa como paciente.


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