24/03/2021

HUMBERTO MATURANA E A AUTOPOIESE

 

HUMBERTO MATURANA E A AUTOPOIESE


Por: Rita Hilachuk

Humberto Maturana nasceu em 14 de setembro de 1928 em Santiago do Chile. Estudou no Líceo Manuel de Salas, em 1947, e, logo depois, entrou para Universidade do Chile para estudar medicina. Em 1954, graças a uma bolsa pela Fundação Rockefeller, foi estudar anatomia e neurofisiologia na University College of London. Doutorou-se em Biologia pela Universidade de Harvard nos Estados Unidos.

Neurobiólogo e critico do realismo matemático, em 1970, criou o conceito de autopoiese, o qual foi aprimorado no mesmo ano. O termo autopoiese que vem do grego (auto: próprio e poieses: criação) foi desenvolvido em conjunto com o chileno Francisco Varela, aparecendo pela primeira vez no ensaio De Máquinas y Seres Vivos, em 1972.

De acordo com Maturana e Varela, os organismos são resultados de suas interações com o meio. Essa interação é caracterizada por uma mudança estrutural continua que não cessa enquanto houver vida, e pela relação de troca entre o organismo, meio e contexto em que se vive. Embora sejamos determinados por uma estrutura biológica, isso não define como seremos, pois somos mudados pelo meio, o qual interfere em como agimos com nossas próprias estruturas.

“Viver é interagir, e interagir é conhecer, por extensão, viver é conhecer.” (ANDRADE, 2012: 100)

A forma como interpretamos o mundo e a realidade enquanto observadores é a preocupação central da autopoieses. O nosso conhecimento provém de uma relação interna que atribui sentidos ao conhecimento e a realidade externa.

Para ilustrar o processo cognitivo, os autores utilizam o experimento da salamandra , realizado em 1943 por um cientista estadunidense. A salamandra é um anfíbio com alto poder de regeneração: se for cortado seu nervo óptico, ela o regenera, e se o olho for arrancado e colocado de volta, ela recupera a visão. O experimento consiste em girar a 180° o olho da salamandra; assim, ao ver a presa, ela joga a língua para trás e erra o alvo, pois a ordem de suas retinas se inverte. A conclusão é que o ato de lançar a língua para caçar não é o ato de apontar para o objeto externo, mas resultado de uma correlação interna. Na autopoiese, são as correlações internas que atribuem sentido ao meio, e é o observador que atribui sentido à realidade.

Um exemplo dos indivíduos sendo moldados pelo meio é o caso das meninas-lobo, encontradas em uma aldeia ao norte da Índia, em 1922. As meninas de cinco e oito anos viveram na floresta até o dia que foram resgatadas; até então nunca tinham tido contato com humanos e foram criadas por lobos. A menina de cinco anos morreu logo após a separação de sua família lupina, e a de oito, embora tenha sobrevivido, nunca adquiriu hábitos completamente humanos. Segundo Maturana e Varela, embora humanas, elas adquiriram hábitos do ambiente em que viveram, construíram seu conhecimento a partir dele, que teve forte influência na definição de seus comportamentos. Elas tinham o lobo como um semelhante.

Maturana e Varela chegam à conclusão de que toda experiência cognitiva transforma o organismo devido a sua experiência perceptiva: “ao examinarmos mais de perto como chegamos a conhecer esse mundo, sempre descobriremos que não podemos separar nossa história de ações – biológicas e sociais – de como ele nos parece ser.”(MATURANA; VAARELA apud ANDRADE, 2012: 103).

Essas considerações científicas são aplicadas em nossa vida cotidiana, por deduções lógicas, através de estruturas internas que possibilitam a coerência em nosso jeito de agir e reproduzir conceitos.

AUTOPOIESE NA SOCIOLOGIA

Embora elaborada na biologia, a teoria da autopoiese tem suas aplicações na física e na sociologia. Em 1927, o sociólogo Niklas Luhman apropriou-se  do conceito de autopoiese para explorar os sistemas sociais, abordando o modo como o convívio externo pode desenvolver nos indivíduos diferenças dentro de si mesmo, pelo processo de aprendizagem social. Para ele, “a teoria dos sistemas-autoreferenciais afirma que os sistemas só podem diferenciar-se por referência a si mesmos (…) ao construir seus elementos e operações elementares. Para tornar isso possível, os sistemas têm que criar uma descrição de si próprios para orientação e como principio de informação”. (LUHMANN apud SANTOS; CORREIA, 2004:35)

De acordo com Luhmann, o sistema processa informações com o estabelecimento de diferenças. As sociedades modernas são caracterizadas por muitos sistemas e subsistemas. Pode-se dizer que uma sociedade funcionalmente diferenciada é aquela que prevê problemas e um jeito de resolvê-los. Tudo que transmite informação são meios de comunicação de massa, desde que destinem mensagens a receptores desconhecidos.

Projeto Synco, elaborado no Chile, visava criar uma grande central de informação, Devido ao golpe de 1973, o projeto é interrompido e a sala destruída. É um exemplo de teoria dos sistemas no qual um nível é subordinado ao outro, e também interdependente. Este vídeo  explica o funcionamento do projeto:


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