Espaço Geográfico e Espaço Psicossocial
Consideremos espaço geográfico como o espaço físico de convivência de um grupo e espaço psicossocial, o espaço da vida relacional de um grupo. Um não existe sem o outro.
Vejamos: um homem e uma mulher encontram-se, apaixonam-se e decidem morar juntos. Escolhem conviver num mesmo espaço geográfico.
Essa decisão dará início à constituição de um grupo que influenciará gerações futuras, se vierem a existir.
Os parceiros levam para a formação de um novo casal, suas histórias individuais na família, o funcionamento desse grupo de origem, sua cultura, suas regras de comportamento e hábitos, dos mais simples até os mais complexos.
A partir da decisão de viverem juntos, a escolha do espaço físico e do como este casal o ocupará, será resultado de uma negociação ou da não negociação.
Por exemplo. Tradicionalmente concebemos o ambiente doméstico como sendo espaço da mulher. Hoje, em função das mudanças, cada vez mais o homem começa a vê-lo como seu espaço também.
Como será a distribuição dos móveis na casa? Que tipo de móveis usaremos?
Cada vez mais, homens vem se envolvendo com prazer em funções culinárias. Isso influencia sobre a decisão da organização da cozinha? Ou a parceira entende que o território é somente dela? Ou ainda, os dois delegam o espaço para uma cozinheira?
E já na convivência a cena das refeições: Qual lugar na mesa será ocupado pelos parceiros? Homem na cabeceira? Mulher à direita ou à esquerda? A mesa será redonda? Terão lugares fixos? As refeições poderão ser feitas em frente à televisão?
Há um horário acordado para as refeições ou cada um faz a sua quando chegar em casa? O momento da refeição é de conversas espontâneas ou é um momento sério, de recolhimento? É falta grave não estar presente em uma refeição?
Como é tomada a decisão sobre qual lado dormir na cama do casal? É pela facilidade de acesso ao banheiro? É por uma imagem registrada anteriormente sobre qual o lado em que o pai dormia e qual o lado da mãe? O lugar da cama é decidido para criar mais espaço para o berço do nenê que chegou ou está sendo esperado?
Como isso se dá na família de origem do homem e na da mulher? Há mais semelhanças ou mais diferenças nesses hábitos?
Se não houver uma negociação a respeito destes temas e de outros muitos, tanto o homem quanto a mulher entram na relação levando expectativas de que as coisas continuem como são e sempre foram em seus respectivos grupos primitivos.
Se as experiências de um e do outro não tiverem sido muito diferentes, é possível que a negociação se dê em um clima mais harmonioso, mas se há expectativas de que o modelo de um prevaleça sobre o modelo de outro, a competição começará.
A construção e organização do espaço físico e a negociação sobre sua ocupação, faz parte de uma contratação maior e mais profunda que é a contratação do delineamento do espaço psicossocial de cada um e do casal. Isso definirá a forma como cada um dos parceiros se movimentará na relação.
Uma boa negociação resultará sempre numa boa parceria, às vezes complementar.
Se a cultura da família do homem for “homem manda, mulher obedece” e, se a cultura da família da mulher for “mulher obedece e homem manda” este casal tem uma altíssima probabilidade de "ser feliz para sempre", apesar do ressentimento contido da mulher. É possível arriscar a hipótese de que ambos tenham se buscado, mesmo que inconscientemente, para dar continuidade a esta cultura. É aparentemente bem mais fácil assim, pois cada um transitará em terreno já conhecido, o que quase não exigirá negociação, pois já estavam “combinados” antes mesmo de se conhecerem.
No entanto, se estas diferenças culturais forem grandes, quanto mais o casal disponibilizar tempo para o diálogo a respeito dessas diferenças, investindo na construção da sua síntese, mais o delineamento do espaço psicossocial resultará em liberdade para ambos e satisfação para o casal.
Muitas diferenças podem influenciar na construção deste espaço geográfico / psicossocial: a diferença de idade entre os membros do casal, de formação educacional, de regiões geográficas de nascimento e formação, crenças religiosas e ideológicas, etc.
É este pequeno nascente grupo que criará o ambiente relacional que recepcionará os filhos no aprendizado da convivência em grupo.
Mauro Nogueira de Oliveira
08/2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário