25/04/2017

Grupo T - a proposta de Gerald Mailhiot

Gerald Bernard Mailhiot, em seu livro Dinâmica e Gênese dos Grupos, nos apresenta uma proposta de Grupo T muito didática que vale a pena relembrarmos e considerarmos.

Vale salientar que Mailhiot escolheu a denominação “grupo de formação” para dissociar de dinâmica dos grupos e terapia de grupos e também por deixar mais claro para os participantes.

PARA que uma experiência em “grupo de formação” seja válida,  é preciso que ela se estruture em função dos objetivos fixados originalmente por Lewin para este instrumento de aprendizagem. Kurt Lewin não concluiu o “T-group”. Mas suas próprias descobertas o haviam levado, gradualmente,  a formular desde 1945 três objetivos para uma aprendizagem em relações humanas:

1. Oferecer aos participantes uma experiência em grupo restrito,  único contexto no interior do qual as relações humanas de todos os membros podem se estabelecer sobre uma base interpessoal;
2. Oferecer aos participantes uma experiência de Grupo centrada sobre a comunicação humana e suas exigências de autenticidade;
3. Oferecer enfim aos participantes uma experiência de Grupo durante a qual suas relações com as figuras de autoridade poderiam evoluir e tornar-se mais autônomos.

Como assinalamos antes, os conflitos com a autoridade são considerados por Lewin como a fonte mais frequente de bloqueios e filtragem de comunicação no interior dos agrupamento humanos.

Com o tempo estes objetivos definidos por Lewin foram se tornando mais precisos e claros. Atualmente eles são apresentados em termos que variam segundo os autores, mas no essencial se reencontram. Assim, o “grupo de formação” deve conseguir, segundo a opinião de todos, sensibilizar os participantes para relações interpessoais e assim torná-los conscientes dos processos psicológicos em jogo no funcionamento dos grupos. Este objetivo principal a ser alcançado dá um sentido ao que pode parecer arbitrário nas estruturas consideradas como essenciais à validade de uma experiência em grupo de formação.

FALAR de estruturas a propósito do grupo de formação presta-se a equívocos, pois o grupo de formação é, essencialmente, uma situação de Grupo sem estruturas intrínsecas. Retornaremos ao assunto mais adiante. No momento trataremos de estruturas extrinsecas.

A) Quanto à duração, uma experiência em grupo de formação deve comportar um mínimo de 20 horas de sessões, sendo o ideal quarenta horas.
B) Quanto ao número de participantes, um grupo de formação deve contar um mínimo de dez participantes e um máximo de vinte,  sendo o ideal de doze a quinze.
C) Quanto à composição dos participantes, as pesquisas sobre este ponto estabeleceram que quanto mais heterogêneo o grupo maiores as possibilidades de aprendizagem. Sobretudo, quanto mais diferentes os tipos de trabalho e de vida dos participantes,  mais lentamente decorre a experiência, mas, por outro lado, há mais possibilidade para que o clima de Grupo favoreça as comunicações abertas e confiantes entre os participantes. Uma experiência em grupo de formação,  tentada em meio homogêneo, por exemplo, no interior de um mesmo ambiente de trabalho, arrisca ficar muito cedo comprometida pela apreensão de eventuais represálias da parte daqueles participantes que reencontram, depois da experiência, um status de autoridade no meio.
D) Quanto ao contexto espacio-temporal da experiência, é importante que seu início e seu termino sejam previstos, que os momentos e a duração de cada sessão sejam fixados, que a experiência seja vivida em um mesmo lugar determinado e reservado ao grupo para a duração inteira da experiência.

O GRUPO de formação não é estruturado senão de fora. Pois ele define-se para os participantes essencialmente como uma situação de Grupo sem estruturas internas, sem tarefas a realizar, sem autoridade reconhecida. O grupo de formação não é um grupo de trabalho centrado sobre uma tarefa a realizar; não é um grupo de discussão com temas a explorar, problemas a resolver ou a debater.

OS PARTICIPANTES são convidados pelos responsáveis, desde o início da experiência, a se perceber como possuindo todos um status de igualdade enquanto dure a aprendizagem. Devem, pois, o mais cedo possível, deixar cair suas máscaras e despojar-se dos personagens que a sociedade os obriga a representar na vida real. Não estando submetidos a nenhuma autoridade, nem constrangidos por nenhuma estrutura,  nem pressionados por nenhum prazo, devem considerar-se livres para dispor, à sua maneira, das horas que durará a experiência, tentando se comunicar entre si, para além dos status, das funções, das situações privilegiadas que habitualmente ocupam em seus grupos respectivos, isto é, comunicar entre si, de pessoa a pessoa, e não mais de personagem a personagem. Para facilitar este clima de liberdade, e de espontaneidade de expressão, alguns práticos da dinâmica dos grupos preconizam mesmo que se estabeleça como regra o uso exclusivo do modo familiar de tratamento entre os participantes.

OS PROFISSIONAIS responsáveis pela experiência (eles devem ser dois, de preferência, segundo a opinião da maior parte dos autores), contrariamente às expectativas do grupo, devem recusar-se a representar certos papéis tradicionais e assim desencorajar toda relação de dependência que o grupo queira estabelecer com eles. Estes papéis são os seguintes:

A) Devem recusar-se a assumir a liderança do grupo,  não delegando tarefas nem sugerindo temas de discussão.
B) Devem recusar-e a ser o conselheiro do grupo, isto é, não orientando o grupo nem prevenindo-o dos tropeços contrários ou fatais à sua evolução.
C) Enfim, devem recusar-se a servir de agente de informação para o grupo, o que significaria, no caso, interferir om exposições ou considerações teóricas.

POR OUTRO lado, os responsáveis pela experiência devem assumir certo papéis chaves de modo a criar um clima de crescimento e de aprendizagem. Estes papéis são:

A) Assumir o papel de catalisador,  por suas atitudes de presença ao outro, de respeito aos ritmos e momentos psicológicos de cada um, de abertura e de acolhimento a toda tentativa de expressão de si, de aceitação das dificuldades que sentem alguns participantes ao se defrontarem com novos modos de comunicação com o outro. Tornam-se essencialmente catalisadores para o grupo na medida em que conseguem criar um clima de confiança total entre os participantes. Por seu próprio estilo de intervenção ele ensinará aos outros a prática da liberdade de expressão no respeito ao outro.
B) Além disso, devem tornar-se a consciência e a memória do grupo. Os responsáveis assumem estes papéis complementares e no momento que lhes parece indicado, isto é, quando percebem o grupo como receptivo ou quando alguns participantes deixam de colocar-se na defensiva, tentam descobrir a significacao psicológica daquilo que vivem no nível interpessoal. Assim,  por referência exclusiva ao vivido, os participantes descobrem o que neles constitui um obstáculo, no momento, às suas comunicações, isto é, as fontes de bloqueio e de filtragem que os impedem de estabelecer entre eles relações totalmente autênticas.
C) Mas o papel fundamental que os responsáveis devem assumir é o de agente de formação. Por uma presença profissional nos esforços, aspirações e motivações dos participantes para crescer e aperfeiçoar-se, no plano de suas relações interpessoais, eles conseguem tranquilizar suficientemente os participantes, facilitando revisões críticas que libertem neles sua tendência fundamental à atualização de si. Para se tornarem agentes de formação adequados, não lhes é suficiente ser permissíveis e tranquilizadores, será necessário além disto, pela qualidade de sua presença verbal e não verbal a cada um dos participantes, tornarem-se modelos de autenticidade interpessoal.

Fonte: Dinâmica e Gênese dos Grupos - Ed. Livraria Duas Cidades, 1991.

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