18/04/2017

Kurt Lewin - um pouco da trajetória

Kurt Lewin (1890-1947) Expandindo a visão da Gestalt

In História da Psicologia Moderna
C. James Good

Kurt Lewin foi Contemporâneo dos “três grandes” da Psicologia da Gestalt – WERTHEIMER, KOFFKA e KOHLER – e, embora não se considerasse um psicólogo Gestaltista propriamente dito, reconheceu sua dívida para com “essas destacadas personalidades[...] As ideias fundamentais da Teoria da Gestalt são a base de nossas investigações no campo da vontade, do afeto e da personalidade” (citado em Marrow, 1969, p. 76). Como os Gestaltistas , Lewin construiu sua teoria em torno de conceitos provenientes da Teoria de Campo, além de tomar emprestadas várias ideias Gestaltistas no que se refere à percepção e à cognição. Porém, enquanto os Gestaltistas tendia a concentrar se na percepção, na aprendizagem, na cognição e em seus correlatos neurológicos, Lewin estava mais interessado na motivação, na emoção, na personalidade e em seu desenvolvimento, além da influência das forças sociais sobre a ação humana. Os investigadores que atualmente pesquisam essas áreas são unânimes em afirmar que Lewin foi um pioneiro em todas elas.

a pronúncia correta do sobrenome Lewin em alemão é “la-vin”, mas ele começou a pronuncia-lo “lu-in” depois de chegar aos Estados Unidos. Aparentemente, os colegas e amigos de seus filhos usavam a segunda pronúncia, à inglesa, e Lewin decidiu poupar aos filhos a irritação de ter que explicar continuamente “aos amigos, por que o sobrenome da família se escrevia Lewin mas era pronunciado Lavin” (Marrow, 1969, p. 177)

Juventude e carreira
Lewin nasceu no dia 9 de setembro de 1890 na pequena vila prussiana de Mogilno, hoje parte da Polônia. Filho de um comerciante, foi criado num ambiente que aliava o relativo conforto da classe média ao antisemitismo aprovado pelo estado. O fato de estar no lado receptor de discriminações autorizadas, instigou em Lewin o forte senso de justiça social que caracteriza a sua carreira. Em 1905, a família mudou se para Berlim onde o potencial intelectual de Lewin atingiu sua plenitude. Inseguro quanto à sua vocação, passou um semestre em Freiburg e outro em Munique estudando medicina e biologia, até decidir emular seus professores e tornar-se um ele mesmo. Assim, voltou a Berlim e obteve um doutorado sob a orientação do mentor mais significativo deste capítulo, Carl Stumpf. Que Lewin tinha o professor na mais alta conta é algo que fica claro com a leitura de um obituario que escreveu, no qual situava Stumpf no “nível mais alto da pirâmide dos psicólogos que conduzem pesquisas” na Alemanha (Lewin, 1937, pg. 189). Stumpf angariou a mais alta estima de Lewin apesar de ter mantido com ele pouco contato pessoal. Lewin não se lembrava, por exemplo, de ter discutido sua tese com Stumpf durante os anos em que se dedicou à sua pesquisa de doutorado, a não ser no momento da defesa! E,  generosamente atribuía essa atitude distante à disposição de Stumpf de dar a seus alunos ampla liberdade para trabalhar. Embora o admira se muito, Lewin adotava a postura oposta no que se refere a isso, tendo sempre supervisionado ativamente as pesquisas de seus alunos (Marrow, 1969).
Lewin concluiu sua tese num momento de importância capital: o início da Primeira Guerra Mundial. Como cidadão leal à pátria, alistou se no exército em 1914 e passou vários dos anos seguintes tentando sobreviver à brutal guerra de trincheiras que dizimou uma geração de jovens europeus. Ele entrou como soldado raso e saiu como oficial, foi ferido uma vez e foi condecorado com a Cruz de Ferro alemã. Em 1917, enquanto estava de licença para se recuperar dos ferimentos, refletiu sobre suas experiências e escreveu “The War Landscape”/A paisagem da guerra, um artigo que continha as sementes de muitos de seus conceitos posteriores. Numa distinção semelhante à que depois seria feita por KOFFKA entre os ambientes geográfico e comportamental, Lewin assinala que os mesmos objetos do ambiente podem ser fenomenologicamente diferentes, dependendo de sua inserção na paisagem da guerra ou na da paz. Uma picada na floresta, por exemplo, que em tempos de paz poderia gerar bem estar e relaxamento, torna-se potencialmente fatal em tempos de guerra pois pode servir de esconderijo para os inimigos. Ou seja, o mesmo ambiente físico pode ser percebido de duas maneiras completamente distintas.
Quando a guerra terminou, Lewin retornou ao Instituto de Psicología de Berlim. Em 1921, tornou-se instrutor e ali permaneceu até 1933. Ao longo desses anos, desenvolveu suas  ideias e seus programas de pesquisa, atraindo muitos alunos talentosos para a pós graduação e criando fama internacional. Além disso, tornou-se amigo de wertheimer e de KOHLER e também conheceu KOFFKA. Como disse seu biografo, embora “nunca tenha sido um Gestaltista ortodoxo, tornou-se uma força vital para o novo movimento, contribuindo para este com seus insights especiais” (Marrow, 1969. P13).
Lewin permaneceu em Berlim até 1933, quando seu status de herói de guerra deixou de valer mais que o ônus da sua herança Judaica. Ele já era famoso nos Estados Unidos, pois dera um instigante pronunciamento como convidado no Congresso Internacional de Yale, em 1929, além de haver passado seis meses como professor visitante no departamento de Terma em Stanford.

Depois que chegou aos Estados Unidos e com a ameaça nazista cada vez mais evidente, Lewin  tentou desesperadamente providênciar a e migração da mãe, primeiro para os Estados Unidos e depois para Cuba, mas não teve sorte. Em 1943, ela faleceu num dos campos de concentração nazistas (Marrow, 1969).

Robert Ogden, um dos primeiros convertidos aos Gestaltistas e um dos principais responsáveis pela ida dos Gestaltistas para os Estados Unidos, arranjou para que Lewin passasse dois anos em Ithaca. Em 1935, ele se mudou com a família de Nova York para Iowa e ali juntou se à equipe da Child Welfare Research Station, um centro de pesquisa voltado para o bem estar da criança ligado à Universidade de Yowa, porém separado do departamento de psicologia. O centro fora criado em 1917 para estudar o desenvolvimento de crianças normais e treinar pesquisadores do desenvolvimento infantil. Lewin permaneceu ali por nove anos, mudando se para Boston em 1944, depois de conseguir levantar financiamento para criar o Research Center for Group Dynamics com sede no Massachusetts Institute of Technology. Logo depois de começar seu trabalho ali, Lewin morreu subitamente de um ataque do coração em fevereiro de 1947.

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