24/02/2015

Ocupação do espaço psicossocial: um olhar a partir de Kurt Lewin


Este texto reflete a minha maneira de ver o funcionamento de um grupo.
Entendo que quanto mais claras estiverem as posições, quanto mais espaço de movimentação existir para os membros de um grupo e quanto mais nítidas as fronteiras, será maior a probabilidade deste grupo atingir seus objetivos com mais qualidade.


Ocupação do espaço psicossocial: um olhar a partir de Kurt Lewin 
Kurt Lewin, psicólogo alemão que é tido como um dos maiores pensadores do século 20 criou a fórmula  C = f(p,a) para demonstrar o caráter dinâmico e a interligação entre a pessoa e seu ambiente. Segundo Lewin, o comportamento (c) é uma resultante (f) do conjunto de fatores que coexistem no  momento, no ambiente (a) em que o indivíduo (p) desenvolve sua atividade: família, escola, trabalho, política, religião, etc. A este conjunto de fatores chamou de campo psicológico, que constitui o espaço de vida de um indivíduo e define a forma como o indivíduo ou o grupo percebe e interpreta o ambiente externo que o rodeia. O artigo pretende lançar um olhar, a partir de Kurt Lewin, nas relações interpessoais e intragrupais. 
Comecemos por definições que são básicas e muito importantes: 
Posição   lugar que alguém ocupa em um grupo. A posição dá status a quem a ocupa. Pai, gerente, esposa, mãe, filho mais novo, nora, professora, são posições. 
Papel - refere-se à forma como alguém desempenha uma ou mais posições: pai acolhedor, gerente democrático, mãe acolhedora, professora boazinha. O papel qualifica a posição e garante espaço no grupo. 
As posições são estáticas, mas podemos exercer várias delas. Por exemplo, no grupo familiar alguém pode estar na posição de marido e pai. Em cada um dos grupos dos quais participamos temos uma posição, mesmo no grupo de amigos nossa posição é amigo. 
Os papéis são dinâmicos. É possível, num determinado momento um pai ser autoritário e em outro momento o mesmo pai ser democrático. Uma posição pode ser desempenhada através de vários papéis.  
Espaço geográfico é o espaço de convivência de um grupo e espaço psicológico é o espaço de vida de um grupo. Um não existe sem o outro. 
Então vejamos: um homem, uma mulher... Encontram-se, apaixonam-se e decidem morar juntos. Escolhem conviver num mesmo espaço geográfico. 
Esta decisão é o início da constituição de um grupo que pode influenciar nas gerações futuras se vierem a existir. 
Tanto o homem quanto a mulher levam para essa relação suas histórias individuais na família, o funcionamento desse grupo de origem, sua cultura, suas regras de comportamento e hábitos, dos mais simples até os mais complexos.  
A própria escolha do espaço físico que este casal ocupará a partir do casamento, ou da decisão de viverem juntos, será resultado desta negociação ou resultado de não ter havido negociação.  
Culturalmente temos o ambiente doméstico como sendo espaço da mulher. Cada vez mais, no entanto, está havendo mudanças neste paradigma, pois o homem também começa a enxergar a casa como responsabilidade sua. Como será a distribuição dos móveis? Que tipo de móveis? Hoje cada vez mais vemos homens desempenhando funções culinárias. Isso influenciará na decisão da organização da cozinha? Ou a parceira deste homem entende que o território é dela? Ou ainda, os dois delegam o espaço somente para a cozinheira? 
O momento das refeições pode ser ilustrativo como um palco, se o observarmos: qual lugar na mesa a ser ocupado? Homem na cabeceira? Mulher à direita ou à esquerda?  As refeições são feitas em frente à televisão? Há um horário acordado para as refeições ou cada um faz a sua quando chegar em casa? O momento da refeição é um momento agradável, de compartilhamento ou é um momento sério de recolhimento? É falta grave não estar presente em uma refeição?  
Como isso se dá na família de origem do homem e na família de origem da mulher? Há mais semelhanças ou mais diferenças? 
Se não houver uma negociação a respeito destes temas e de outros muitos, tanto o homem como a mulher entram no casamento levando expectativas de que as coisas continuem como são e sempre foram. Se as experiências de um e  de outro não tiverem sido muito diferentes, é possível que a negociação se dê em um clima mais harmonioso, mas se há expectativas de que o modelo de um prevaleça sobre o modelo de outro, os conflitos começarão a ter início. 
Como é tomada a decisão sobre qual lado dormir na cama do casal? É pela facilidade de acesso ao banheiro? É por uma imagem gravada anteriormente sobre qual o lado em que o pai dormia e qual o lado da mãe? É para ter mais espaço para o berço do nenê que chegou ou está sendo esperado? 
A construção e organização deste espaço físico e a negociação sobre sua ocupação, está fazendo parte de uma contratação maior e mais profunda que é a contratação do espaço psicológico. Isso determinará a forma como cada um dos parceiros se movimentará na relação. Uma boa negociação resultará numa boa parceria, às vezes complementar. 
Não há dúvidas de que, se a cultura da família do homem for “homem manda, mulher obedece” e, se a cultura da família da mulher for “mulher obedece e homem manda” este casal tem uma altíssima probabilidade de" ser feliz para sempre", apesar do ressentimento da mulher. Também é possível afirmar que ambos tenham se buscado, mesmo que inconscientemente, para dar continuidade a esta cultura. É bem mais fácil, pois cada um transitará em terreno já conhecido, o que quase não exigirá necessidade de negociação. Já estavam “combinados” antes mesmo de se conhecerem. 
No entanto, se estas diferenças culturais forem grandes, quanto mais o casal disponibilizar tempo para o diálogo a respeito destas diferenças, mais a construção do espaço psicológico estará contribuindo em direção a mais liberdade. 
Muitas diferenças podem existir e influenciar na construção deste espaço geográfico / psicológico: a diferença de idade entre os membros do casal, de formação educacional, de regiões geográficas, religiosa, ideológica, etc. 
É este pequeno grupo que criará ambientes relacionais que recepcionarão os filhos no aprendizado da convivência em grupo. 
Continuando... Então este casal decide engravidar ou, a gravidez acontece. A partir do momento em que a mulher engravida, adquire uma outra posição - a de mãe - que se soma a de esposa. Posição é poder, portanto... .. 
Muda a configuração existente até então. Ao mesmo tempo começa a se desenhar uma nova posição de uma concretude imensa: o nenê, o / a herdeiro (a), nosso filho, meu filho, teu filho, meu neto, meu sobrinho, meu primo. Só o futuro pai (pois ainda não o é), continua sendo o marido da mãe daquele poderoso ser que está sendo gestado. 
Imaginemos que este casal tenha feito uma bela negociação de seus espaços e contratado cláusulas de respeito, autonomia, interdependência, acolhimento e valorização das diferenças. Nesta relação a  chegada do filho representa a possibilidade de algo muito bem vindo.  
No entanto, a chegada de mais um integrante da família nos espaços construídos pelo casal vai afetar o espaço já existente. No que diz respeito ao espaço físico, é possível construir um novo quarto. No espaço psicológico, não. Haverá necessidade de mais uma negociação e agora entre três participantes. Mesmo que um não participe diretamente, a negociação girará em torno dele que precisará ter garantido seu espaço. Neste momento ao menos, ele não poderá perder espaço. Se a negociação for bem feita, se o casal mantiver no seu funcionamento as cláusulas iniciais, o espaço de movimentação livre continuará, a permissão para atuar em diversos papéis existirá e a re-acomodação do espaço psicológico se dará de novo de forma harmônica. 
Vejamos por um outro lado. O pai, na gestação já não teve a mesma atenção que tinha antes. Sua mulher agora não tem mais a disposição física que tinha e vive a gravidez com todos os cuidados naturais necessários. Não havendo por parte do marido esta compreensão, ele poderá se sentir rejeitado, sentir ciúmes e querer demarcar mais ainda seu espaço, que sente estar sendo usurpado pelo “invasor” que se aproxima. Quando ele chega e, às vezes até toma o seu lugar na cama, é difícil não ficar irritado. Nessa dimensão não e possível construir mais um quarto. 
Essas são duas possibilidades de ambientes relacionais em que pode chegar este novo membro do grupo. 
Durante o período da gravidez acontecem grandes papos entre mãe e filho, pai e filho e entre marido e mulher a respeito da forma como educarão a criança, do que cada um espera que o filho seja, sobre o que farão para que o filho cresça saudável, sobre os planos para que seja bem sucedido e por ai afora. Desta forma estão construindo as possibilidades de papéis que serão oferecidas ao novo membro para que ele tenha o seu espaço no grupo.  
Como estes diálogos, na maioria das vezes acontecem num clima amoroso, fica difícil aceitar que possa estar havendo algum tipo de controle e o início da construção de uma fronteira psicológica que permite espaço de movimentação de um outro ser na relação grupal, definido antecipadamente. 
Até aqui temos três membros deste novo pequeno grupo, que faz parte de um outro grupo - o grupo composto pela família de origem do homem - e de outro – composto pela família de origem da mulher. 
Seria absurdo levantar a possibilidade de que a nova mãe do novo integrante possa experimentar sentimentos contraditórios em relação a sua própria mãe?  
Se a relação mãe e filha não foi construída de uma forma que permita autonomia, poderá haver por parte da filha / nova-mãe, uma sensação de estar sendo invadida em seu espaço, ainda mais se a mãe tende a assumir papéis que denotam “eu sei e você precisa aprender comigo” 
Também seria absurdo levantarmos a possibilidade de que a mãe do novo-pai teça críticas à forma como estão educando seu neto? 
Como o novo pequeno grupo lidará com estas invasões? Demarcarão limites? Que fronteiras definirão? Claras?(“a quem cabe e o que?”). Rígidas? “na nossa casa não admitiremos opinião de ninguém”. 
Continuemos nossa jornada. Segunda gravidez. Pai e filho formam uma aliança para se proteger de mais um invasor para o pai e de um usurpador de seu lugar para o filho. Mais uma posição terá que ser criada naquele pequeno grupo e o mesmo espaço precisará ser redistribuído. 
Como dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, é claro que o segundo filho buscará o exercício de papéis diferentes daqueles que o primeiro já desempenha, pois ter espaço neste grupo lhe é vital. Aquelas conversas que aconteceram quando da gravidez de seu irmão mais velho, também acontecerão com ele, e é possível que nelas lhe seja dito o quanto  gostariam que ele fosse diferente do irmão. 
Novamente a cultura existente naquele pequeno grupo vai determinar o tom desta negociação, tanto nessa nova família quanto no interior do grande grupo familiar. 
É neste pequeno / grande grupo que cada um de nós inicia a aprendizagem de entrar e viver em grupo.  
Os primeiros ambientes relacionais que nos influenciaram na escolha de papéis e posições, vão nos acompanhar e continuar influenciando. Muito do aprendizado pela vida afora é feito ressignificando nossas relações engendradas nesses ambientes. 
Ao sair para a vida o aprendizado da criança será feito no exercício do quanto será possível desempenhar nos novos grupos, os papéis que aprendeu a desempenhar no pequeno grupo familiar e a descobrir novos papéis, que desvendem capacidades antes adormecidas enquanto buscava de todas as formas garantir seu espaço na família. 
Até aqui a família, nosso primeiro grupo, esteve no foco de nosso olhar. 
Além desse aprendizado, o candidato a ingressar em um novo grupo lida com três situações: 
Vimos que um grupo se organiza por meio de posições e papéis. Essas posições e papéis como são pilares do grupo, pertencem ao grupo e não aos indivíduos. Portanto, o ingresso no novo grupo se dará na configuração de posições e papéis já existentes. 
Se o grupo espera que eu desempenhe papéis que também são desejados por mim, eu entrarei nesta estrutura sendo muito bem recebido e me sentirei feliz. Se, de outra forma, o grupo espera que eu desempenhe papéis que não são desejados por mim, minha permanência neste grupo vai depender do grau de atração que o grupo exerce sobre mim. E há uma terceira possibilidade, que é a de eu desempenhar papéis que não são desejados pelo grupo, mas por mim, o que vai me colocar numa situação sujeito à rejeição ou boicote. Rejeição se eu estiver numa posição de igual status, boicote se minha posição for de maior status. 
Para o grupo já existente será sempre mais desejado que o novo integrante que venha substituir o que saiu - portanto mesma posição - também desempenhe os mesmos papéis, com pequenas variações sendo admitidas. 
Portanto, qualquer mudança pretendida na forma de um grupo funcionar, inevitavelmente passa por um exame na estrutura de posições e papéis, no desempenho e expectativas, na clareza e ressignificação, enfim, por uma negociação de espaço e status.   
Vejamos toda esta construção em outras manifestações grupais. 
Na escola. 
Nos últimos 20 anos, a educação infantil, no Brasil e no mundo, foi foco de profundas reflexões no campo da legislação, da investigação pedagógica e das políticas públicas governamentais. No caso brasileiro a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), pela primeira vez prioriza a educação infantil e os resultados já estão aí para serem comprovados.  

Há uma preocupação e um investimento de tempo na recepção e acolhimento das crianças que conviverão, no mínimo por um ano, com a mesma professora e os mesmos coleguinhas. Há tempo para que os espaços de movimentação sejam construídos e negociados. Uma boa professora trabalha em conjunto com os pais quando identifica comportamentos que não estão ajudando a criança no aprendizado de sua socialização e quando isso acontece, mais uma oportunidade de facilitação de crescimento é oferecida ao aluno por seu contexto. 
Entretanto, há uma expressão ouvida no ambiente escolar e familiar quando a criança sai da educação infantil e vai para o ensino fundamental que diz assim: agora terminou a brincadeira. Infelizmente termina mesmo e é o início de um período que mais contribui para o acúmulo de informações e quase nada para a educação relacional. 
Mesmo que a convivência se dê num mesmo espaço geográfico, a alternância de professores dando pouca ou nenhuma importância ao que está acontecendo no processo grupal, por não saber e não por descaso, atuando mais como tarefeiros – dando aulas - faz com que até a absorção de informações fique comprometida. Há uma ocupação do mesmo espaço geográfico mas não há um compartilhamento deste espaço. Se houvesse este compartilhar com certeza haveria troca de informações a respeito dos grupos de alunos, a respeito do impacto que cada professor, com seu estilo, provoca no grupo e o quanto este impacto está sendo educativo ou não. Haveria um crescimento do sistema.  
A dissociação entre os subsistemas que constituem a escola - direção, corpo técnico, professores, corpo de apoio --, consequência do não ter negociado seus espaços no sistema, contribui mais ainda para que o ambiente, que deveria ser de acolhimento, apareça como estimulador da competição, do individualismo, da segregação, do surgimento das tribos dos iguais, que são organizadas muito mais para defesa de seus espaços do que por identificação afetiva. 
No ensino superior também não é diferente. A reforma do ensino universitário na década de 70 foi muito bem recebida pelos professores, pois não precisariam mais lidar com grupos. No sistema de créditos, cada aluno conviveria com no máximo cinco colegas de forma mais próxima e dificilmente ao mesmo tempo. Em sala de aula havia um aglomerado de alunos, um professor que ditava informações e muito pouca relação. 
É raro encontrar um currículo escolar que reserve tempo para a integração entre os participantes deste sistema: alunos e educadores (aí compreendidos todos os atores: direção, pais, professores, técnicos, apoio, etc). O espaço geográfico da escola é um excelente lugar para o encontro, ainda não aproveitado em seu potencial e, ás vezes, dilapidado. Por que será? 
Quantas vezes já se ouviu educadores dizendo que este ou aquele grupo eram muito difíceis para trabalhar. 
Existem grupos difíceis? Ou podem ser participantes que convivem num espaço comum, durante um determinado  tempo e que estão em busca de uma forma de ocupar o seu lugar de valor?  Com fome de ser significante naquele grupo? 
Muitos conflitos entre escola e família acontecem em razão deste choque. Famílias que buscaram acolher bem seus novos membros e os ajudaram a construir espaços de movimentação, encontram dificuldades ao colocar os filhos na escola onde as regras são muito diferentes, e às vezes até contrárias às suas expectativas. Esperam que o caminhar de seu filho na sua socialização seja feito da forma mais progressiva possível e o que acontece é uma possibilidade de retrocesso. Sim, possibilidade de retrocesso porque qualquer criança tem o desejo de ser incluída e, se necessário, no ambiente da escola, assumirá comportamentos que garantam a sua inclusão. Comportamentos que podem ser bem diferentes daqueles esperados por sua família. 
Por outro lado, famílias que tiveram dificuldades na construção de espaços relacionais que propiciem saúde, culpam a escola por esta não conseguir que seus filhos assumam comportamentos que não puderam ser desenvolvidos no ambiente familiar.  
Não é possível o isolamento entre essas instituições. Os dois sistemas precisam conversar entre si como aliados em seu saber e em seu não saber. E, o mais importante, estes sistemas contribuirão para a educação de crianças e jovens se experimentarem, além do conversar entre si, conversar internamente, exercitando a tarefa complexa de negociar seus espaços relacionais. Para isso precisa ser privilegiado um tempo e principalmente a decisão de mudar. E vejo como primeiro passo o eliminar culpados. 
Na empresa 
Nas organizações também lidamos com a mesma estrutura de posições e papéis. Talvez de uma forma mais objetiva, pois a questão da autoridade está impressa na hierarquia institucional. Um gerente pode demitir e/ou promover um funcionário. 
Olhemos a posição de gerente. Esta é muitas vezes ocupada por pessoas que, quando simples membros do grupo tinham um espaço de movimentação no exercício de papéis de influência entre os parceiros. Quando promovidos é comum que passem a desempenhar papéis esperados da posição de gerente e deixem de ocupar o espaço da forma como faziam. Uma expressão que se ouve dentro das organizações: um bom técnico não necessariamente será um bom gestor. Quando o gestor passa a exercitar papéis desejados pelo grupo ou por quem o promoveu, e não por ele, experimenta stress, perda da espontaneidade e diminuição de sua capacidade de influenciar a equipe como o fazia antes da promoção. 
Quando o gerente vem de fora, há a expectativa com relação a ele de que, para a mesma posição existem os mesmos papéis, ou seja, o novo integrante deveria se encaixar no espaço já existente na organização. Desta forma os membros do grupo não precisam reexaminar-se, redesenhar seus papéis, mantendo a mesma estrutura já conhecida e, portanto, mais fácil de lidar. Se este novo gestor resolve agir de forma diferente, precisará de muita habilidade para trabalhar esta mudança. Habilidade e tempo, pois o movimento comum esperado é o de resistência e às vezes até de boicote.  
No sistema financeiro, até a alguns anos atrás, uma estratégia utilizada para obter mudanças rápidas era a de demitir o gerente de uma agência bancária e enviar um auditor autoritário, que fazia as mudanças necessárias compulsoriamente até que um novo gerente fosse transferido. Quando isso acontecia, este auditor ia para outra agência considerada problemática ou voltava para a matriz, aguardando nova missão semelhante. 
Quando falamos em desenvolvimento de equipe estamos querendo dizer o que? O que mais se ouve é quanto a criar condições na equipe, para que esta obtenha o maior ganho dos recursos de seus membros e consiga melhores resultados, trabalhando de uma forma menos desgastante. É possível promover desenvolvimento em uma equipe sem examinar sua estrutura de posições e papéis? Acredito que não. Não se faz isso somente com a implantação de regras. Considero que é necessário também examinar o quanto a liderança é validada pela equipe, a forma como o espaço geográfico/psicológico está distribuído, o quanto os papéis desempenhados por seus membros são aceitos pelos demais, e mais tantos outros quantos. 
O movimento mais significativo ainda hoje nas organizações, para manter a situação de não mudança, está na atividade de Seleção. O mais comum é procurar um candidato para o preenchimento de uma vaga, com base nas competências necessárias para o cargo, mas principalmente, no quanto mais facilmente ele se adaptará às regras de funcionamento do setor ao qual pertence àquela vaga. Mesmo com competência técnica, se o candidato não mostrar capacidade para desempenhar os papéis esperados pelo grupo, este pode não aceitar sua inclusão e rejeitá-lo. O custo da demissão é muito alto para arriscar nesta possibilidade e o processo se mantém. 
Uma situação que chama atenção é a notícia de que ocorrerá fusão de empresas. Com certeza haverá produção de infelicidade em um número de pessoas que até o momento da fusão eram valorizadas e sentiam-se pertencendo a um grupo. De uma hora para a outra por mais que digam-se preparadas, pessoas são excluídas, por não fazerem parte dos planos ou por serem consideradas excedentes, sem o rito de passagem necessário. 
Na Instituição Pública 
De quatro em quatro anos nossas instituições públicas experimentam uma situação que, por mais que seus participantes digam já estarem acostumados, provoca desconforto, ansiedade, stress e muita expectativa. Ou seja, o partido que ganha a eleição, municipal, estadual ou federal, ocupará as posições de mando com pessoas que sejam membros do partido ou simpatizantes.  
As campanhas políticas acontecem em um clima emocional que procura mostrar como cada partido é competente para mudar a situação atual e como o partido que está no poder mostrou-se incompetente para fazer isso. A mensagem é: “agora este município, este estado, este país será governado como deve ser”. No caso do partido que está no poder a mensagem é: nunca este município, estado ou país foi tão bem governado e precisa continuar sendo. 
Como a campanha é feita em cima dos erros dos então ocupantes do poder, torna-se necessário mudar e, principalmente, mudar em cima dos “erros” dos adversários, e quem trabalhava no governo anterior ajudou a errar. Entendo que esta lógica burra, ainda resultado de uma campanha emocional muito desgastante, é que está na origem de muitos problemas que dificultarão a gestão das nossas instituições públicas. 
Os servidores públicos que estão fazendo seus trabalhos, orientados por seus gestores.  não deixam de receber o rótulo de “incapazes e incompetentes” por parte daqueles que estão chegando. E quem é visto desta forma tem o seu trabalho questionado, independente do quanto já tenha contribuído. Parece que contribuir com o governo do partido adversário não é contribuir com a comunidade. 
Um grupo que já tinha uma  estrutura e uma dinâmica de funcionamento vê as posições desta estrutura serem ocupadas por pessoas que, na maioria das vezes, não pertencem à instituição e um espaço de movimentação a ser reconstruído, ou seja, novos papéis e novos ocupantes. 
Se o clima de passagem de um governo para outro se desse de uma forma menos traumática, acredito que o choque da “invasão” – é uma invasão -, seria menos intenso pois poderia haver mais diálogo.  
As instituições que mais cedo conseguem retomar este diálogo e desfazer imagens de campanha, conseguem mais rápido começar a mostrar resultados. O contrário vai fazer com que uma animosidade natural pela forma da “chegada” acirre mais ainda os ânimos provocando o desejo de vingança. 


Concluindo 
Não é suficiente somente construirmos mais um quarto na casa, modificarmos o organograma da empresa ou uma  nova descrição de cargos, termos professores altamente capacitados na atividade do ensino ou elegermos partidos para o poder. 
Em cada um destes ambientes precisamos exercitar nossa capacidade de negociação, para compartilhar espaços físicos e psicológicos, da forma mais saudável possível. 
Tudo isso porque todos nós precisamos de um grupo para viver. Somos tão gregários que mesmo sós carregamos um grupo dentro de nós. 
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Mauro Nogueira de Oliveira
Abril/2009 


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